Átrio dos gentios: renasce o sagrado ou se escurece a fé? – Por Gilberto Hernández García



Pela primeira vez desde a sua criação, o Átrio dos Gentios, esse espaço de diálogo entre crentes e não crentes, impulsionado por Bento XVI, foi realizado em uma cidade não europeia. O México foi o país escolhido para acolher esta série de encontros de reflexão e diálogo sobre a laicidade e a transcendência.
 
O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, durante uma conferência magistral, explicou que o tema da "morte de Deus" atravessou a história desde o final do século XX, chegando inclusive à teologia e, portanto, cancelou-se qualquer traço de transcendência. 


Ele disse, além disso, que, na cultura atual, "Deus frequentemente está ausente ou pelo menos é um desconhecido, uma figura que não interessa".
 
Paradoxalmente, esta situação é parcial, porque, "há algumas décadas, estão falando de um novo fenômeno: o renascimento do sagrado. Deus volta a viver em nossas cidades e isso, evidentemente, se representa também em formas que são degeneradas. Por exemplo, pensemos no regresso do sagrado fundamentalista, nas seitas, na magia, na superstição. Então, o sacro, enquanto tal, não é a pureza da transcendência".
 
O purpurado expressou que, como crentes, em um mundo tão complexo como o nosso, não podemos esquecer que nosso interlocutor, o homem de hoje, sempre igual, sempre diferente, "tem dentro de si uma abertura, um elemento divino, mas poderíamos dizer para aqueles que não creem: tem uma abertura ao infinito, ao eterno".
 
O filósofo Eduardo González Di Pierro, em diálogo com outro filósofo, Guillermo Hurtado Pérez, falou sobre o sentido da transcendência. Observou que a secularização do mundo moderno "eliminou do horizonte especulativo e existencial das nossas sociedades, pelo menos as ocidentais, as religiões como partes importantes e expressivas da cultura", o que levou o ser humano a fechar-se em um horizonte que não é seu.
 
O filósofo se questionou sobre a licitude do Estado leigo, "que utiliza seu poder ideológico e educacional para secularizar e laicizar a sociedade civil, em uma mentalidade agnóstica e arreligiosa"; perguntou-se se verdadeiramente as religiões ou qualquer outra instância ético-cultural, com suas contribuições crítico-reflexivas, constituem um obstáculo para a convivência democrática e se, por isso, o próprio poder do Estado deve reduzi-las a um valor de foro íntimo, sem incidência na vida pública.
 
Nas reflexões sobre a laicidade e a transcendência no âmbito mexicano, falou-se das relações entre a Igreja e o Estado. Neste sentido, Carlos Ornelas, da Universidade Autônoma Metropolitana, afirmou: "Hoje em dia, todas as igrejas gozam de maior liberdade, têm faculdades segundo o novo artigo 24, para realizar atos fora das suas igrejas, mas não considero conveniente que tenham de voltar às escolas públicas".
 
Já o poeta Julio Hubbard disse que a Igreja tem uma dívida com a sociedade: não soube dar resposta adequada às exigências que os novos tempos lhe apresentam. "O que o mundo está esperando é o que a Igreja produziu durante séculos; espírito. Onde está a criação artística? Onde está essa porta espiritual que permitia que o Espírito Santo nos tornasse réus? Onde ficou esta capacidade?"
 
Rodrigo Guerra concluiu enfatizando que, para ter diálogos mais frutíferos no campo da laicidade e da transcendência, é preciso descobrir uma gramática comum, ou seja, um conjunto de significados que permita a crentes e a não crentes voltar rediscutir e repensar nossa história e nossos valores.
 
"Hoje, mais do que nunca, um país tão violentado como o nosso, precisa aprender a resolver os conflitos de maneira pacífica e renunciando, isso sim, metodologicamente, a qualquer recurso à violência", afirmou.



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