Em preparo para encontro com papa, jesuítas levam jovens de 50 países em viagem pelo Brasil – Por Carolina Farias
A Companhia de Jesus, ordem da
qual faz parte do papa Francisco, prepara suas estruturas para receber jovens
jesuítas de várias partes do mundo para os eventos da:
Jornada Mundial da
Juventude
que acontece no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho e terá
a participação do pontífice.
Além de abrir as portas de um dos
colégios mais tradicionais da capital para abrigar peregrinos, os jesuítas
fazem um evento pré-jornada para cerca de 1.500 jovens de 50 países que começa
em Salvador na sexta-feira (12).
Como parte da programação, os
jovens jesuítas e simpatizantes da filosofia da companhia serão enviados para
40 cidades do país, entre capitais e interior, onde terão contato mais próximo
com as diversidades do Brasil.
Apesar da experiência nos Magis
(nome do evento que significa "aquilo que o ser humano pode ser de
melhor" na filosofia da companhia fundada por Santo Inácio de Loyola) em
outras jornadas, o primeiro foi em 1997, o evento neste ano terá um sabor
diferente para os jesuítas, pois agora o papa é um "colega" da ordem.
Lacerdine explicou que a eleição do argentino Jorge Bergoglio para novo papa
surpreendeu a ordem e que, teoricamente, nenhum de seus membros poderia aceitar
tal cargo.
"Não podemos aceitar cargos
eclesiásticos, a única ressalva é se o cargo for para ajudar e estar a serviço
da igreja. Se com suas capacidades ele puder ajudar à igreja, ele pode aceitar.
Então a eleição foi surpreendente, porque a igreja mostrou que precisa da
Companhia de Jesus nesse momento da história", disse o porta-voz.
Segundo Lacerdine, a escolha de
um papa jesuíta ocorreu porque a Igreja Católica precisa se abrir para o
diálogo, e a Companhia de Jesus tem como tradição a interlocução entre povos,
culturas e religiões.
"A primeira coisa que José
de Anchieta fez quando chegou ao Brasil foi aprender a língua guarani e
entender a cultura. Ele fez a gramática e daí partiu para o diálogo. Sem
violentar a cultura, a companhia veio para o Brasil, foi para a China, Índia e
Japão", explicou o jesuíta.
Para o jesuíta, a rotina e
diretrizes da ordem não vão mudar com o novo papa, mas a eleição de Francisco
deu mais visibilidade à Companhia de Jesus e, com isso, um novo ânimo aos seus
membros. "Mas a ordem é muito estruturada, temos revisões de nossa missão
de tempos em tempos. A última foi em 2010", disse Lacerdine.
Experiência compartilhada
Somente após as experiências
sociais, culturais e religiosas dessa viagem é que os jovens irão ao Rio, onde
ficarão hospedados no colégio Santo Inácio, em Botafogo. Mas há também aqueles
que preferem pagar por uma hospedagem mais confortável em uma casa de retiros
jesuíta, um paraíso encravado na parte mais alta de São Conrado, bairro nobre
da zona sul carioca, com vista para o mar e a pedra da Gávea.
No Magis, os jovens participam de
celebrações religiosas e também divulgam a cultura de seu país, além de compartilhar
o que aprenderam na viagem.
"Quando eles chegarem ao Rio
e se encontrarem no Santo Inácio, vão partilhar as experiências que tiveram na
viagem e se preparar para a JMJ", disse o padre Geraldo Lacerdine, diretor
de comunicação da Companhia de Jesus (Província Brasil Centro-Leste) e
coordenador de comunicação do Magis. O evento acontece sempre antes da jornada,
essa será a sexta edição.
Os jovens peregrinos foram
escolhidos em suas comunidades e colégios e não vão pagar para ficarem
hospedados no Santo Inácio durante o Magis e a Jornada. A jovem carioca
Carolina Fabiola de Carvalho, 19, é uma das escolhidas a participar do evento
jesuíta.
Como mora no Rio, ela não dormirá
no colégio, mas passará o dia todos nas atividades. Ela estudou durante 12 anos
no Santo Inácio e hoje faz faculdade de jornalismo na PUC-Rio (Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro), uma instituição que também pertence
aos jesuítas. Carolina está ansiosa com a viagem a Belém.
"Estou animada, nunca fui
para o Norte. Vou participar lá de experiências com artes. Fui chamada por
causa de meu histórico de atividades engajadas", disse Carolina.
"Acho que vai ser ótimo, o Magis é uma ótima preparação para a jornada.
Não faria sentido encontrarmos nosso 'pastor' sem preparação."
A universitária vai viajar para
Belém com um grupo com sete americanos, sete coreanos e sete cingapurianos.
"Vai ser 'doido'! A ideia é essa, trocar experiências", disse
Carolina.
Opulência
A ordem dos jesuítas é
reconhecida no Brasil pelas suas instituições de ensino com mensalidades altas.
São 180 colégios pelo mundo, 15 desses no Brasil. No Rio, as mensalidades do
Santo Inácio variam de R$ 1.250 para a pré-escola até R$ 1.625 para a terceira
série do Ensino Médio.
Lacerdine explica que investir em
uma educação de boa qualidade é uma das premissas da ordem. Segundo ele,
"os filhos dos ricos" podem disseminar a boa educação.
"Ajudamos os filhos dos
ricos a terem uma melhor educação e também aproveitamos isso para ajudar os
pobres. Temos vários projetos sociais no Rio", disse o porta-voz
jesuíta.
Segundo o padre, a ordem mantém
150 projetos sociais em 14 Estados e investe neles R$ 100 milhões por ano.
"É uma maneira de resgatar a dignidade humana, que é nossa missão."
Hospedagem jesuíta "de
luxo"
Aqueles peregrinos, jesuítas ou
não, que buscaram mais conforto encontraram na Casa de Retiros José de
Anchieta, que pertence à Companhia de Jesus, vão pagar R$ 100 por dia para
dormir e tomar um reforçado café da manhã. As reservas para ficar no pequeno
paraíso jesuíta estão esgotadas, 40 padres jesuítas e cem leigos vão se
hospedar no lugar.
A casa, construída em 1936 dentro
de um terreno de 25 mil metros quadrados, fica no alto do bairro de São
Conrado, cercada por mansões. Rodeada pela mata, o lugar já foi cenário para
gravações de novelas e até para a concentração da seleção do Brasil de 1970
antes da viagem para a conquista do tri no México, como contou o administrador
Fábio Alexander. "Agora os jogadores não querem ficar aqui porque não tem
piscina nem academia", disse.
A maioria das pessoas, leigas ou
religiosas, procura a casa para retiros no método inaciano, ou seja, no
completo silêncio. São várias modalidades desses retiros, de quatro, oito ou 30
dias, que varia de acordo com o nível de iniciação do interessado no método de
meditação e oração.
"Sabe quando você passa em
uma loja e tem uma placa 'fechada para balanço'? É isso, é um encontro com você
reorganizar o que está fora da ordem", disse o padre jesuíta José Maria
Fernandes, orientador dos retiros inacianos.
Mas o administrador explicou que
a casa também recebe grupos fechados interessados em usar suas dependências
para retiros de outras vertentes da Igreja Católica e até outras religiões,
como os evangélicos, "clientes" assíduos. Mas a casa também já
recebeu para retiros de ioga e de budistas, além também de abrir espaços para
empresas que desejam fazer palestras para seus funcionários em um ambiente
livre de influências, a Coca-Cola já foi uma delas.
Porém, há uma restrição.
"Pessoas do candomblé já se interessaram, mas não aceitamos por não
compartilharem da fé cristã", disse Alexander.
A média de preço é R$ 215 a
diária do quarto individual, com direito a roupas de cama e seis refeições. Mas
a agenda da casa é concorrida e já está tomada até a metade de 2014.
Fonte: http://noticias.uol.com.br
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