Nova lei na Rússia prevê punição severa para quem insultar sentimentos religiosos – Por Marina Obrazkova
Para advogado, polícia
necessitará de tempo para aplicar corretamente a nova norma, que caracteriza
como crime o pronunciamento de expressões ofensivas em um templo, por exemplo.
Se depender de uma nova lei, as
autoridades policiais russas vão precisar aumentar seu conhecimento sobre as
religiões e sua habilidade para determinar as motivações por trás dos atos de
alguns cidadãos referentes ao tema.
De acordo com uma nova norma
sobre a proteção dos direitos dos fiéis, o cidadão que decidir insultar os
sentimentos religiosos de alguém poderá levar uma pena séria. Até perícias linguísticas e de
manifestações artísticas serão necessárias em alguns casos.
Na opinião do membro da Câmara
Pública da Rússia, membro da Presidência da Associação da Ordem de Advogados da
Rússia e presidente suplente da Gerência da Associação de Advogados, Vladislav
Grib, a polícia já sabe distinguir um insulto de um ato de vandalismo. Ele
conversou com a Gazeta Russa.
Gazeta Russa - Na sua opinião, a
nova lei não poderá prejudicar os direitos dos ateístas?
Vladislav Grib - Esta lei de
nenhuma maneira influenciará na expressão de uma posição ideológica própria e
na possibilidade de relatá-la às pessoas ao seu redor. Também não é proibido
expressar um ponto de vista ateísta. As pessoas poderão, como antes, expressar
sua opinião, por escrito ou em voz alta, mas o importante é que elas expressem
somente a opinião e não tentem insultar os outros.
Este é um limite sutil, porém
todos podemos distinguir expressões de humilhação da de uma simples opinião.
Especialmente, se esta opinião contém palavras obscenas. Além disso, pode ser
entendido por insulto um comportamento provocador, protestos nos templos,
frases escritas nas igrejas ou túmulos.
GR: Como entender quando se trata
precisamente de um insulto de sentimentos religiosos e não de uma mera
desordem?
V.G.: O pronunciamento de
expressões ofensivas em um templo na presença de várias pessoas será
considerado insulto a fiéis. Aqui também estão incluídas frases obscenas. O
elemento principal do crime consistirá nos objetivos destas expressões, a
vontade de insultar e de fazer isso clara e propositalmente. Tais ações
resultarão em uma responsabilidade.
No curso das investigações de casos
de insulto, uma perícia linguística poderá ser indicada. Mas isso provavelmente
não terá sentido no caso de uso de expressões obscenas, por não acarretarem
interpretações duvidosas. Por exemplo, já temos o conceito de vandalismo,
agressão e assim por diante. Por isso, a nova lei mais provavelmente será usada
na prática juntamente com outras. Tratando-se de uma produção artística, uma
perícia poderá se tornar necessária.
Na realidade, o conceito de
insulto existe no código criminal russo. Nessa ótica, porém, não será tratado o
insulto do homem, mas de sua confissão religiosa. Conforme a Constituição, nós
temos o direito à liberdade de consciência e à proteção de confessar uma
religião.
GR: O que mudou, então?
V.G.: Anteriormente podíamos
também punir as pessoas por insultar a fé. A ação era vista como desordem e
recebia uma punição em forma de multa de algumas centenas de rublos. Neste
caso, não se tratava da proteção de sentimentos dos fiéis, mas da manutenção da
ordem social. São coisas completamente diferentes: insultar alguém na rua ou
entrar em uma igreja onde se reúnem dezenas de pessoas e gritar palavras
obscenas.
O violador, neste caso, não tem
por objetivo fazer desordem e sim insultar os sentimentos dos fiéis. Existe
atualmente uma diferenciação entre a desordem sem o propósito e com o propósito
de insultar os sentimentos dos fiéis. Esta medida ajudará inclusive a resolver
conflitos entre diferentes confissões de fé, quando pessoas religiosas tentam,
de uma forma inaceitável, provar a sua justificativa.
GR: A polícia conseguirá
distinguir um insulto de sentimentos de uma desordem?
V.G.: Os processos judiciais
sobre insultos a fiéis são bastante complexos, e as nossas autoridades
policiais e judiciais necessitarão de esclarecimentos adicionais. Neste caso, o
mais importante é determinar com exatidão a motivação da pessoa, e as
autoridades policiais devem ter conhecimentos sobre as religiões.
Esta informação será gradualmente
dominada na prática. Para a coleta de dados iniciais sobre a prática de aplicação
da lei, serão necessários dois anos, provavelmente; depois disso, nós a
tornaremos mais generalizada, tiraremos conclusões e, possivelmente,
introduziremos correções ao documento.
Fonte: http://gazetarussa.com.br
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