Inclusão das mulheres na pluralidade religiosa - Por Ariane Leitão
Conceitos retrógrados, arcaicos e
a doutrina religiosa mantêm visões misóginas e sexistas, responsáveis pela
construção radical da posição da mulher na igreja.
Criadas e criados à imagem e
semelhança de Deus, por que haveríamos, nós mulheres, de sermos excluídas ou
tratadas de forma diferenciada?
Por que, desde a criação, somos nós as
responsáveis pelo pecado, destinando a Eva o papel de criatura desobediente às
normas celestiais? Neste mesmo contexto, Maria recebe respeito e devoção não
por sua condição feminina, mas por representar o papel de mulher-mãe, exercendo
o que lhe foi imposto socialmente.
A opressão religiosa medieval é
uma das marcas dos períodos de maior obscurantismo da humanidade caracterizada
pela privação das discussões sobre os direitos humanos. Por meio da paridade de
poderes destinados à religião e à política, direitos eram cerceados e terríveis
atos de crueldade cometidos.
Descendente deste período, a tirania
social em relação ao papel da mulher vem se desenvolvendo à exemplo das
religiões que promovem a mutilação feminina. Um processo cruel, banalizado e
que ainda persiste ao tempo. Nesta conjuntura, há séculos as mulheres são
submetidas a papéis sociais secundários.
Alicerçados a uma construção social
rígida, responsável pela desigualdade entre os sexos e a consequente constrição
a espaços marginalizados e subalternos. Exceção para as religiões de matriz
africana, onde a mulher desenvolve papel de destaque e liderança.
A religião precisa encontrar seu
lugar dentro do mundo pluralista, sem prevalência de sua hegemonia e sem impor
que sua voz seja a única a falar. Não podemos retroceder, mas sim, avançar,
destinando papeis diferenciados à religião e à política.
Precisamos de um novo modelo de
religião, onde a fé seja uma ideologia e não um instrumento normativo. A
laicidade do Estado deve estar acima de qualquer ideologia cristã, atendendo ao
bem público, e não aos desejos de determinado grupo.
Alinhados à teologia da
libertação temas como sexualidade, contraceptivos, relações de gênero e
matrimônio de homossexuais devem ser abordados pela perspectiva da inclusão
social e religiosa.
Religião e sociedade devem promover debates que acompanhem
a movimentação social, onde a autonomia das mulheres, sua liberdade em sentir
prazer e decidir o que fazer com seu corpo não sejam questionadas. Promovendo
uma nova realidade, de mais libertação e menos teologia.
Devemos aproveitar os espaços de
discussão, como a Jornada Mundial da Juventude, para incluir o debate sobre o
papel da mulher dentro das religiões. Com a presença do Papa Francisco, de
origem franciscana, as jovens e os jovens devem buscar uma igreja inclusiva,
menos conservadora, sem acirrar a violência, como ocorre em relação aos
homossexuais. Respeitando a liberdade e a diversidade sexual, independente de
sua raça, etnia e, principalmente, seu gênero.
Queremos um país que saiba lidar
com a diversidade e que (re) localize o papel da religião dentro do processo
contemporâneo de desenvolvimento social. Defendemos a diversidade religiosa, na
promoção do bem viver, da solidariedade e da pluralidade de ideias e ideais.
Ariane Leitão é Secretária
Estadual de Políticas para as Mulheres
Fonte: http://www.sul21.com.br
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