Rocinha (RJ) tem sete igrejas católicas e quase 40 evangélicas


A Igreja Católica teve a maior redução proporcional de adeptos na última década. GloboNews Especial mostra a importância da visita do Papa Francisco ao país para tentar conter esse processo.

A Rocinha,  Zona Sul do Rio de Janeiro, representa um retrato do desafio vivido pela Igreja Católica no Brasil. De acordo com o último Censo, de  2010, na comunidade vivem cerca de 70 mil pessoas. Existem sete capelas católicas e quase 40 templos evangélicos.

“Três padres em uma realidade tão grande como a Rocinha é pouco, mas a gente insiste, investe, na formação do leigo, para que ele tenha maturidade na fé e possa assumir a sua fé também como missionário, como evangelizador”, diz o Padre James.

Para fazer frente à multiplicação de igrejas pentecostais na comunidade, os evangelizadores da Rocinha mudaram de estratégia. “A ideia é acolher esse povo. É um povo sofrido, um povo carente, que precisa de carinho e atenção. Assim como nas igrejas evangélicas eles fazem isso, eu acho que a gente está redescobrindo esse novo modelo de fazer essa acolhida”, afirma a catequista e cabeleireira Lia Barbosa.

O Papa Francisco quer a igreja mais próxima das comunidades, das periferias. É uma das estratégias para tentar conter a perda de católicos, que foi acentuada nas últimas décadas.

“Houve uma perda significativa de 600 ou 700 mil fiéis por ano, em duas décadas. Houve também a evasão dos que não eram católicos”, afirma o teólogo Fernando Aytemeyer. A perda de fiéis tem suas raízes no processo de urbanização do país, que ganhou impulso no final dos anos 70. 

“Até a década de 70, a população era majoritariamente católica. Mais de 90% da população se declarava católica. Com as mudanças que marcam esse período no Brasil, com migrações para o Sul e Sudeste, houve uma mudança socioeconômica. É um período que marca um declínio proporcional dos fiéis católicos e aumento do número de evangélicos”, explica o gerente de estimativas populacionais do IBGE Cláudio Crespo.

“Nossas cidades incharam. Nós tínhamos um número limitado de sacerdotes e de religiosos em geral. O número de vocações não cresceu, para os padres e para as religiosas, proporcionalmente ao crescimento da população. Então é claro que parte dessa população ficou descoberta no atendimento espiritual, no atendimento pastoral. E é claro que, normalmente, as igrejas evangélicas, sobretudo neopentecostais, se dirigiram para as periferias das nossas cidades”, explica Dom Raymundo Damasceno, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e cardeal de Aparecida.

O fenômeno se traduz em números impressionantes. Em 1950, o Brasil tinha 93,5% da população de católicos e 3,4% de evangélicos. Em 2010, esse número chegou a 64,6% de católicos e 22,2% de evangélicos.

O cardeal Dom Geraldo Majella, arcebispo emérito de Salvador, faz um 'mea culpa': “É uma acomodação da parte nossa, de nossos presbíteros, que não foram suficientemente à periferia. É possível reverter essa acomodação, desde que o próprio sacerdote se empenhe, tome consciência, e comece a falar. Ele será bem sucedido”, ressalta.

"É um momento delicado para a Igreja de Roma. O Brasil,  que reúne o maior número de católicos no mundo, não é o único país  da América Latina a sofrer uma perda acentuada de fiéis. Isso foi  levado em conta no conclave que escolheu o Papa Francisco, em março deste ano. Esse papa, que é daqui da América Latina, conhece, portanto, todo esse fenômeno novo"

Dom Cláudio Hummes

O fato de o pontífice ser da região significa uma vantagem, na visão do cardeal Dom Cláudio Hummes. “Esse papa, que é daqui da América Latina, que conhece, portanto, todo esse fenômeno novo na América Latina, está muito por dentro e conhece bem, tem o discernimento sobre esse fenômeno. Claro que não se trata, e ele também mostra isso claramente, de fazer qualquer tipo de competição ou muito menos de confronto com as outras igrejas. A Igreja Católica sempre defendeu a liberdade religiosa, a liberdade de consciência, isso é sagrado pra nós”, destaca.

Já nos seus primeiros momentos de pontificado, ele manda uma nova mensagem para a Igreja, para que vá às periferias. 

Para Dom Cláudio Hummes, isso significa que ele começou dando os primeiros sinais fortes do seu modo de querer governar a igreja quando ele assumiu o nome de Francisco: “Ele explicou logo depois que queria muito uma Igreja pobre e para os pobres. Mas não apenas onde os pobres são uma estatística, onde eles são pessoas. Ele fala muito das periferias, que a igreja que deve se aproximar, deve sair, ir na direção sobretudo dos pobres”.

Os sinais de mudança têm sido muitos e frequentes, em poucos meses de pontificado. Logo depois de celebrar a primeira missa como Papa, Francisco mostrou a disposição de estar perto dos fiéis. 

“Ele sai para a porta, abraça todo o povo, sem nenhum problema de segurança, a segurança estava apavorada porque ele simplesmente entrou no meio do povo, saiu pela porta do Vaticano para a rua”, conta Dom Cláudio Hummes.

"Eu acho que estamos diante de uma personalidade que tem sintonia com pessoas reais. Isso em um mundo onde tudo é meio Big Brother, ele diz que quer conversar com a pessoa como se ela fosse a pessoa mais importante de sua vida. Não importa se é um cardeal ou um menino de rua. Eu acho que isso é inédito”, explica o teólogo Fernando Aytemeyer.






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