As religiões e os limites do marxismo – Por Vittorio Medioli
A humanidade se compõe de
indivíduos das mais diferentes categorias, raças, espécies. Alguns acreditam
num deus, outros negam o deus dos outros.
Existem ainda aqueles que, em nome de
uma religião, matam e se matam. Também se encontra quem não acredite em nada
mais que matéria, tangível e pesada.
A morte para estes é o fim, mas
para alguns é começo de nova e melhor vida, da imortalidade do espírito que se
desprende do homem que habitou enquanto palpitava.
O marxismo provavelmente é o
primeiro movimento assumidamente ateu na história. Nem no diabo acredita ou a
ele se associa. O social-comunismo hegeliano para fundamentar o materialismo
que nega o espírito adotou as teses do fisiólogo Ivan P. Pavlov, reduzindo
assim o homem a um mamífero bípede mais evoluído que a besta, mas igualmente
reagente às situações externas em conformidade com experiências vividas
anteriormente.
O conceito é árido, cabe numa
dúzia de palavras e incinera bibliotecas infindáveis que registram o esforço do
homem para se elevar acima das brumas da ignorância. O ateísmo é geneticamente
imoral, pois a moral se liga à religião, e a possibilidade de uma presença
divina remete ao Bem pregado nas religiões.
Pavlov se notabilizou pelo
exemplo do cão e da sineta. Quer dizer: pega-se um cão e joga-se um punhado de
areia na boca dele, tocando ao mesmo tempo uma sineta; de imediato o cão
reagirá com grande secreção salivar, babando, para se livrar do incômodo arenoso.
Simples. Repita-se a dose por três dias seguidos, e no quarto dia, apenas ao
toque da sineta, o cão passará a secretar baba como se tivesse sido atingido
pela areia.
Homem Pavloviano
O homem pavloviano não vive, mas
reage conforme um conjunto de experiências anteriores que o determinam. Se
alguém quer que outro não roube, será apenas punindo-o. Ele se absterá assim
pelas pauladas que recebe no ato de roubar.
Negado o espírito, a morte
dissolve o homem, e ele apenas sobreviverá na memória cerebral de quem ainda
palpita. Ponto final.
Pavlov era fisiólogo, intuitivo,
correto na análise do aspecto físico e na análise das reações comuns aos
mamíferos que possuem glândulas salivares, apetites e desejos sexuais.
O marxismo nega o aspecto da
psique superior, elo do físico com o espiritual, ou da parte mais sutil,
elevada e intangível do ser humano. O ateu no homem não encontra espaço que
possa ser entendido como “O Reino de Deus Está em Vós”, de Leon Tolstoi.
De certa forma, o marxismo acaba
dando às religiões a função de enganar o homem e inventar uma esfera divina.
Quem passou além do Muro de Berlim antes de 1989 notava como a ausência da tese
divina empobrecia tremendamente o sistema, o fragilizava e ainda apagava o fogo
da utopia do homem bom, substituindo-a pelo homem de partido, que respeita não
por crença, mas por medo e conveniência.
As transgressões no sistema
materialista não eram contra a lei divina, permanente e onipresente nas
religiões, mas contra uma máquina estatal que se baseava no princípio de
comuna. Podemos, assim, voltar a Pavlov e entenderemos que os limites do
marxismo, que inspira muitos políticos, reduz absurdamente ao fascinante mundo
em que o homem evolui “o Reino” em que avança passo a passo rumo ao infinito
divino.
Imoralidade
Onde faltam pressupostos que
elevam o homem a ser moral, não há restrição à imoralidade. O sistema que não
tem em sua origem uma lei divina negará a honestidade como dever superior,
apenas como forma restritiva eventual. Tente-se assim viver nesse sistema, e se
sentirá quanto é sofrível.
Uma sociedade ateia, que alguns
definem como laica, é uma sociedade na qual falta pressuposto de convivência
moral. A moralidade não é sublimada por decretos, é uma condição que se liga à
origem divina do homem e a uma consciência.
Precisaria explicar mais para as
crianças que quem rouba, faz sofrer, dilapida e ainda quem desperdiça vive numa
condição que antecede a outra bem superior. É um primitivo, que desconhece a
moral como atributo de quem carrega uma parte de Deus em si.
Dizem os sábios que feliz é quem
encontra a paz, e essa está em não desejar outra coisa que aquilo que temos em
nós.
Assim, assumir a moralidade como
condição de vida é como contrair casamento com uma mulher. Sócrates, a quem lhe
perguntava se era melhor casar-se ou não, respondia: “Em ambos os casos, você
se arrependerá”. (transcrito de O Tempo)
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