Candomblé à francesa: Gisele Cossard, a mãe de santo Omindarewá, abandonou tudo para viver para a religião
Os muros altos escondem uma
grande construção, com os quartos dos filhos de santo e dos orixás, e um jardim
repleto de Irokos (árvores sagradas).
Sob roupas e colares típicos do candomblé, religião de origem africana, uma senhora de olhos azuis desafia os seus 90
anos e comanda um dos terreiros mais conhecidos do Brasil.
Gisele Cossard nasceu em uma
família francesa e católica, que morava no Marrocos, em 1923. O pai era
professor e a mãe, pianista. Voltou para a França e esteve no olho do furacão
durante a Segunda Guerra Mundial.
“Abrigamos o filho de um amigo da
família, que estava fugindo dos alemães, e participei da resistência com ele.
Enviávamos informações sigilosas para a Inglaterra. Depois, nos casamos”, contou
a mãe de santo.
Após a guerra, Gisele e Jean
Binon viveram oito anos na África, onde ele dava aulas de francês. Foi o
primeiro contato da futura Omindarewá com a cultura do continente.
Em 1959, Jean foi nomeado
conselheiro cultural na embaixada da França no Rio de Janeiro. A vida de
recepções e jantares não agradou Gisele.
“Fiquei amiga de Abdias do
Nascimento, do Teatro Experimental do Negro, e comecei a frequentar terreiros
em favelas. Foi quando conheci meu primeiro pai de santo, Joãozinho da Gomeia,
de Caxias”.
O rito de passagem de Omindarewá
Escondida do marido e dos dois
filhos, Gisele Cossard frequentava as festas do candomblé em Caxias.
“Descobri uma religião que tinha
mais a ver comigo. Era só espectadora até que, em 1960, desmaiei na festa de
Iansã. Foi o primeiro contato com os orixás e, logo depois, fiz minha iniciação”,
contou.
Gisele voltou para a França e foi
a primeira da família a se divorciar. Apresentou uma tese sobre o candomblé e,
em 1972, conseguiu retornar ao país.
“Queria continuar a ligação com o
terreiro, mas meu pai de santo morreu. Foi quando conheci Balbino Daniel de
Paula, meu segundo mestre. Ele era da nação Ketu e fiquei encantada com os
rituais deles”.
Quem apresentou Balbino a Gisele
foi o fotógrafo francês Pierre Verger, amigo dos dois. O pai de santo convenceu
Omindarewá a fazer um terreiro em sua casa, recém-comprada em Santa Cruz da
Serra.
Cerca de 300 filhos de santo
Em seu terreiro, Omindarewá joga
búzios e faz trabalhos (oferendas a orixás, limpezas espirituais, iniciações)
há 40 anos. Ela já perdeu a conta de quantos filhos de santo tem.
“No início, foi difícil conseguir
clientes, as pessoas ficavam com pé atrás por eu ser branca e estrangeira.
Hoje, tenho cerca de 300 filhos de santo, mas também recebo gente de fora do
candomblé, do estado todo e até de outros países”, afirmou Gisele.
Há cinco anos, Rosemari dos
Santos ou Akindele, estava com outros filhos de santo de Omindarewá colocando
oferendas no quarto de Iemanjá, quando a orixá “falou” que ela seria a herdeira
do terreiro.
“Hoje faço quase tudo aqui
dentro. A mãe Gisele é maravilhosa, para ela não existe filho feio. É também
uma guerreira, construiu tudo sozinha”, declarou Akindele, de 40 anos.
Da França, Gisele ficou apenas
com o sotaque. As fotos do período foram destruídas com uma das fortes chuvas
muito conhecidas pelos moradores de Santa Cruz da Serra. O candomblé virou sua
vida inteira.
Fonte: http://www.cbnfoz.com.br
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