Jornalistas de 11 países debatem religião nos meios de comunicação
A convite da Associação
Internacional de Jornalistas de Religião (AIJR), representantes de 11 países se
reuniram, de 15 a 18 de outubro, em Belo Horizonte, para discutir temas
religiosos nos meios de comunicação.
O I Encontro de Jornalistas de Religião da
América Latina foi realizado em convênio com a Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC-Minas) e teve o patrocínio da Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM), por iniciativa do jornalista J.D.Vital, gerente
de comunicação da empresa e sócio-fundador da AIJR.
Um dos principais temas
levantados foi o espaço dado por jornais, rádio, TV e sites da internet à
religião. Os participantes do encontro questionaram a conveniência de
reivindicar colunas fixas para assuntos religiosos, a exemplo do que ocorre com
relação a outras áreas, como, por exemplo, o futebol.
O repórter do Estado José
Maria Mayrink ponderou que a religião deve brigar pelo espaço com outras
notícias do dia, critério adotado pelos maiores jornais do Brasil.
"O
Estado de S. Paulo, no qual eu trabalho, dá mais destaque atualmente a assuntos
religiosos do que duas décadas atrás, quando publicava a coluna Movimento
Religioso", afirmou.
Os jornalistas sugeriram que se
lute pela concessão de mais espaço para as minorias religiosas, que têm
dificuldade de acesso aos meios de comunicação.
O argentino Sérgio Rubin, do
diário Clarín, de Buenos Aires, observou que a Associação Interamericana de
Imprensa (SIP) poderia incluir as minorias religiosas em sua pauta de defesa da
liberdade de imprensa.
O fundador da AIJR, David Briggs, que por mais de 20
anos cobriu assuntos religiosos na agência Associated Press, apoiou a sugestão
e disse que o intercâmbio com outras entidades é um dos objetivos da
associação.
As minorias religiosas foram tema
também da intervenção do canadense Douglas Todd, que trabalha com seguidores de
outras religiões na cidade de Vancouver, onde os imigrantes constituem a
maioria da população.
A presidente da AIJR, Maria-Paz Lopez, do jornal
Vanguardia, de Barcelona, falou da cobertura feita em catalão sobre a vida
religiosa da comunidade católica da região.
O sociólogo e jornalista Pedro
Brieger, diretor da agência Nodal-Notícias de América Latina y Caribe, alertou
a AIJR para o risco de citar a CIA (Agência Central de Inteligência) entre as
fontes de informação sobre assuntos religiosos.
"Como a CIA é um serviço
secreto do governo dos Estados Unidos, isso deve ser deixado bem claro pela
associação, por causa das implicações políticas e ideológicas", advertiu.
A interferência da religião na
política e a politização de assuntos religiosos pelos governos na América
Latina tiveram destaque no encontro de Belo Horizonte. A palestina Dima Khatib,
muçulmana de Abu Dhabi, correspondente da TV árabe Al Jazeera na Venezuela,
disse que, no caso do islamismo, a cobertura religiosa é controlada pelo
Estado, porque religião e governo se identificam.
Os jornalistas foram unânimes ao
reconhecer que o acesso à informação é um dos maiores obstáculos à cobertura de
religião.
"Igrejas de todos os credos encaram os repórteres com
desconfiança, sempre partindo do pressuposto de que eles não entendem de
religião ou, pior ainda, suspeitando que tenham segundas intenções ao tratar do
assunto", disse Mayrink, que há 51 anos se dedica à cobertura da Igreja
Católica.
César Augusto dos Santos, padre
jesuíta responsável pelo Programa Brasileiro na Rádio Vaticano, em Roma,
explicou como funciona o embargo, norma adotada para a divulgação de notícias
religiosas no Vaticano.
Os jornalistas credenciados pela Sala de Imprensa da
Santa Sé recebem com antecedência textos de documentos e discursos do papa que
só podem ser divulgados quando se iniciam as celebrações e eventos aos quais
ser referem.
A AIJR, fundada em março do ano
passado em Bellagio, norte da Itália, tem mais de 400 associados de 90 países.
A associação reúne jornalistas de todas as religiões, como o catolicismo,
protestantismo, judaísmo, islamismo e budismo.
Do encontro de Belo Horizonte,
que se estendeu ao Instituto Inhotim em Brumadinho e às instalações da CBMM em
Araxá, com visita às unidades de exploração e processamento de nióbio,
participaram representantes de Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, México,
Estados Unidos, Canadá, Portugal, Espanha, Itália e África do Sul.
Fonte: http://estadao.br.msn.com
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