William Saad Hossne recebe prêmio “Guerreiro da Educação” - Por Elton Alisson
O médico-cirurgião e professor
William Saad Hossne recebeu nesta terça-feira (15/10) o troféu:
“Guerreiro da
Educação Ruy Mesquita”
em uma solenidade realizada no Teatro do Centro de
Integração Empresa-Escola (CIEE), em São Paulo.
A homenagem é conferida
anualmente pelo CIEE e pelo jornal O Estado de S. Paulo, na semana em que
se comemora o Dia do Professor, a personalidades que se destacaram na promoção da
educação no Brasil.
O homenageado é escolhido a
partir de uma lista de nomes sugeridos por conselheiros do CIEE, professores
eméritos que já receberam o prêmio e personalidades dos setores acadêmico e
empresarial.
Hossne é reconhecido por sua
atuação na área de bioética, termo cunhado em 1971 pelo oncologista
norte-americano Van Rensselaer Potter (1911-2001) para designar um campo
interdisciplinar do conhecimento que reúne Biologia, Ciências da Saúde,
Filosofia e Direito. A área estuda a ética em pesquisas puras ou aplicadas que
envolvam a vida humana e animal.
“O grande legado deixado por
Potter foi estabelecer que a bioética, área do conhecimento essencialmente
multi, inter e transdisciplinar, deveria criar condições para a união das
áreas técnicas e científicas com as da Ciências Humanas e Sociais”, disse
Hossne em seu discurso ao receber o prêmio.
“Quando criou o vocábulo
bioética, em 1971, Potter alertou para o fato de que, se a humanidade não se
cercasse de cuidados, poderia se destruir, pelo mau uso dos avanços da biologia
molecular. Para isso, seria indispensável submeter à análise ética os avanços
da biotecnologia”, afirmou.
Hossne fundou a Sociedade
Brasileira de Bioética e ajudou a criar a Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep), coordenada por ele entre 1996 e 2007. A Conep organizou um
sistema de monitoramento da ética na pesquisa ao qual estão ligados mais de 600
comitês de hospitais e universidades em todo o país. Atualmente ele coordena o
curso de pós-graduação em bioética no Centro Universitário São Camilo, em São
Paulo.
Antes de se dedicar à bioética, o
professor, que nasceu em São Paulo em 1927, seguiu uma extensa carreira de
médico, pesquisador e gestor em ciência e tecnologia. Cirurgião
gastroenterologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, foi um dos
fundadores, em 1962, da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu,
da qual é professor emérito.
A instituição, criada como
instituto isolado, foi incorporada à Universidade Estadual Paulista (Unesp) nos
anos 1970. Hossne também foi reitor da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) de 1979 a 1983. Participou da criação da FAPESP, tornando-se o segundo
diretor científico da Fundação, entre 1964 e 1968, substituindo Warwick Estevam
Kerr, e voltou a desempenhar a função entre 1975 e 1979.
“O professor Hossne contribuiu
para moldar, em momentos difíceis e de consolidação da FAPESP, a instância mais
significativa da instituição, que é a diretoria científica”, avaliou Celso
Lafer, presidente da FAPESP, em seu discurso durante a solenidade de premiação.
“Ele também contribuiu com lições
fundamentais que configuram o Código de Boas Práticas Científicas [instituído pela
FAPESP em 2012] e com as quais nos deparamos no dia a dia da instituição na
avaliação de projetos da área de Ciências da Vida, que têm de ser submetidos à
aprovação dos Conselhos Éticos das universidades e instituições de pesquisa”,
afirmou.
Integração das áreas
Hossne foi saudado durante a
solenidade pelo economista Antonio Delfim Netto, que recebeu o prêmio em 2012.
Delfim Netto lembrou de um artigo
publicado recentemente por Hossne em que o professor afirma que não só os
médicos fazem pesquisas com seres humanos, mas também antropólogos, físicos e
economistas, sem expor suas premissas científicas. Por isso, segundo ele, o
conceito de bioética também se aplicaria às Ciências Econômicas.
“A análise do professor Hossne, de que é necessário introduzir a bioética na disciplina econômica pelos efeitos
dramáticos que exerce sobre o ser humano, é absolutamente correta”, disse
Delfim Netto. “Quando nós, economistas, damos
palpites, causamos danos poderosos sobre a vida de milhões de pessoas”,
afirmou.
Em seu discurso, Hossne avaliou
que a bioética oferece hoje a oportunidade de recriar em maior escala,
abrangência e profundidade um fenômeno semelhante ao que ocorreu há 25 séculos, quando surgiram a Medicina, a Filosofia e a Democracia de forma integrada e
interdependente.
“Agora, a bioética conclama todas
as áreas das Ciências da Saúde – incluindo não apenas a Medicina –, além de
todas as áreas das Ciências da Vida, das Ciências Humanas e Sociais, e clama
por liberdade, democracia e direitos humanos”, disse Hossne. “Essa integração de todas as
áreas à bioética, no entanto, só poderá ocorrer por meio da educação”, avaliou.
Pesquisadores laureados
Além de Celso Lafer, presidente
da FAPESP, e do economista Antonio Delfim Netto, a cerimônia de premiação de
Hossne contou com a presença de Arnaldo Niskier, professor aposentado da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Ricardo Gandour e Roberto Gazzi,
respectivos diretores de conteúdo e de redação do Grupo Estado; Luiz Gonzaga
Bertelli e Ruy Martins Altenfelder Silva, respectivamente presidente executivo
e presidente do Conselho de Administração do CIEE.
Lançado em 1997, o prêmio também
já foi outorgado a Angelita Habr-Gama; Paulo Vanzolini (1924-2013); José
Cretella Junior; Adib Jatene; Ruth Cardoso (1930-2008); Miguel Reale
(1906-2006); Esther de Figueiredo Ferraz (1915-2008) e Ives Gandra Martins,
entre outras personalidades.
“O professor Hossne passa a
integrar agora a galeria das personalidades agraciadas com o prêmio, que
marcaram a educação brasileira em áreas plurais do conhecimento”, disse Ruy
Silva, do CIEE.
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