“O Grego de Toledo” está de regresso
Esteve centenas de anos esquecido
e foi recuperado no século XX, elevado a ícone da cidade da região de
Castilla-La Mancha. É ela que agora volta a homenagear El Greco e a sua obra
singular.
Em 2014 passam 400 anos sobre a
morte do pintor Domenikos Theotokopoulos, que conhecemos como El Greco, e a
cidade espanhola que guarda algumas das suas obras mais notáveis não vai deixar
passar a data em branco.
Segundo o diário espanhol ABC,
a fundação criada para marcar este aniversário já tem o programa completo e
promete dar destaque, entre outras coisas, ao restauro recém-terminado da obra
do pintor para a sacristia da catedral de Toledo.
“El Greco é, entre os mestres de
todos os tempos, o que mais influenciou a pintura do século XX”, defende
Gregorio Marañón y Bertrán de Lis, presidente da Fundação El Greco 2014, nas
páginas do jornal espanhol.
“E esta surpreendente sobrevivência de um pintor do
século XVI, cuja memória se perdeu no esquecimento durante quase 300 anos, só
se explica pela sua modernidade genial, uma das chaves que mais destacaremos ao
longo do ano.”
Um ano que começa a 18 de Janeiro com um concerto conduzido pelo
músico e compositor espanhol Llorenç Barber envolvendo os sinos de 25 igrejas
da pequena cidade junto ao Tejo onde o pintor chegou aos 36 anos.
A música continua em Abril, com
Riccardo Mutti a dirigir o Requiem de Verdi (dia 12) e Michael Noone a conduzir
o de Morales (a 7), entre muitos outros, mas o prato forte são as exposições no
Museu de Santa Cruz, o principal da cidade, e a do Prado, em Madrid, que tem na
sua colecção obras extraordinárias deste pintor que fugiu à corte e nunca
perdeu as suas influências grega e italiana.
Santa Cruz propõe, de 14 de Março
a 14 de Junho, uma viagem no tempo à Toledo de El Greco, alargada a outros
cinco espaços da cidade em que a pintura e a escultura do mestre ocupam os
lugares para onde foram criadas há mais de 400 anos.
Uma das estrelas desta
exposição será Vista de Toledo, pintura que pertence ao Metropolitan
Museum, de Nova Iorque. De 8 de Setembro a 9 de Dezembro, o museu volta-se para
o atelier do artista e para alguns dos mistérios que ainda rodeiam a sua
produção.
A pinacoteca madrilena vai cruzar
a sua obra com a de mestres do século XX, para demonstrar a sua “modernidade
radical”, diz ainda Gregorio Marañón, num pólo que garante a este aniversário
uma montra internacional, a que se juntarão, ao longo no ano, congressos de
musicologia e história para mostrar o que de mais recente se tem feito no que
toca à investigação científica em torno do “Grego de Toledo”.
Pintura dramática
Domenikos Theotokopoulos
(1541-1614) nasceu em Creta, onde recebeu formação como pintor, e mudou-se para
Roma em 1570, abrindo o seu próprio atelier, definindo o seu estilo e ganhando
grande reputação. Sete anos mais tarde, trocou Itália por Toledo, onde permaneceria
até à morte, produzindo as suas obras mais aclamadas para as igrejas e
conventos da cidade. Entre elas destacam-se, por exemplo, O Espólio (1579), O
Baptismo de Cristo (1595-1600) e A Ressurreição (1608-10).
O seu tratamento das figuras,
esguias e com grande dramatismo, combinando as influências da arte bizantina e
do maneirismo italiano, tornou-o um pintor singular e, para muitos,
absolutamente intemporal, embora na sua época tenha recebido duras críticas de
facções mais conservadoras da igreja.
Gregorio Marañón espera que este
programa de aniversário que incluirá ainda a encomenda de três instalações à
artista plástica Cristina Iglesias venha reforçar a presença de Toledo no mapa
turístico, a cidade é hoje muito visitada graças ao seu património histórico
edificado, mas apenas 2% dos que ali chegam vão à procura de El Greco.
A
esmagadora maioria quer ver a cidade que foi município romano, capital dos
visigodos, praça forte muçulmana, bastião da resistência dos reinos cristãos da
península no século XVI (capital de Castela e Leão a partir do século XI) e
sede, ainda que por pouco tempo, do poder de Carlos V, o sacro imperador
romano-germânico.
A convivência de religiões e de fortes tradições culturais
foi, aliás, um dos motivos mais fortes para que recebesse da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) a classificação
de património mundial em 1986.
Fonte: http://www.publico.pt
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