Associação católica vai ao Ministério Público contra Porta dos Fundos - Por Johanna Nublat e Isabelle Moreira Lima
A Associação Nacional Pró-Vida e
Pró-Família protocolou no Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, na
tarde desta segunda-feira (13), uma representação criminal contra o grupo Porta
dos Fundos.
Para a entidade católica, o vídeo especial de Natal do grupo,
postado no YouTube em 23 de dezembro de 2013, ofende "garantias e
princípios constitucionais, mormente o princípio de tolerância e respeito à
diversidade".
O vídeo, um compilado de pequenas
histórias sobre Adão e Eva, o nascimento e a crucificação de Jesus Cristo,
ganhou a ira de religiosos, tanto católicos como evangélicos.
"O sentimento religioso deve
ser respeitado. Não só católicos, mas nossos irmãos protestantes se sentiram
aviltados", diz Paulo Fernando Melo, advogado e integrante da Associação
Pró-Vida e Pró-Família.
O arcebispo metropolitano de São
Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, já havia publicado, em 5 de janeiro, crítica
ao grupo em sua conta no Twitter. "Será que isso é humor? Ou é
intolerância religiosa travestida de humor? Péssimo mau gosto!", escreveu.
Em um vídeo difundido em sites
cristãos e no Facebook, o pregador e missionário católico Anderson Reis convoca
os insatisfeitos a assinarem uma petição on-line para solicitar ao Grupo
Petrópolis, detentor da marca de cerveja Itaipava, que retire o patrocínio ao grupo.
Além disso, sugere que entrem no site da Polícia Civil do Rio de Janeiro e
registrem uma queixa contra crime de preconceito e ódio à religião.
Em nota, o Grupo Petrópolis
informou que "não admite que suas marcas sejam relacionadas com tais
manifestações, pois não representa o pensamento de seus diretores" e que
"não endossa e não apoia qualquer manifestação que venha a atingir esses
valores religiosos que se tem como sagrados".
O grupo afirmou, porém, que
respeita a liberdade de expressão garantida pela Constituição, bem como os
princípios de fé de manifestação religiosa de todos.
Na representação encaminhada ao
Ministério Público, a Associação Pró-Vida e Pró-Família defende que a liberdade
de expressão "não pode ser utilizada como um escudo para atividades
ilícitas e nitidamente tipificadas em nosso Código Penal, in casu, o vilipêndio
público de ato ou objeto de culto religioso". E sustenta que, no vídeo de
Natal, o grupo ridiculariza dogmas cristãos.
"Qual a intenção do grupo de
fazer tal vídeo e publicá-lo na antevéspera do Natal? Não está clara a intenção
de tripudio e escárnio? Cada segundo do vídeo é uma afronta das mais comezinhas
à fé cristã e a todos aqueles que são fiéis ao Cristianismo, perfazendo em cada
um dos seus dezesseis minutos e quarenta e dois segundos, uma sucessão de
escárnios, zombarias, tripudios e vilipêndios", diz trecho da
representação assinada por Hermes Nery, diretor de imprensa da associação.
A entidade enquadra o vídeo no
artigo do Código Penal que trata do crime contra o sentimento religioso. Outros vídeos do grupo com
temáticas semelhantes, como "Adão", "Moda",
"Michelangelo", são
classificados, na representação, como outros exemplo de tentativas de escárnio
da fé cristã.
Segundo Melo, a pena prevista é
pequena, e costuma ser transformada em prestação de serviços à comunidade ou
pagamento de cestas básicas. Ele defende, no entanto, que a ação pode ter
caráter educativo, para que o grupo "seja mais comedido" nos próximos
vídeos.
A assessoria do Porta dos Fundos
informou que o grupo já se manifestou sobre o tema. Na semana passada, ao falar
da polêmica criada em torno do vídeo, Antonio Tabet, um dos integrantes do
grupo, declarou que jamais houve intenção de difamar nenhuma religião.
"A
prova está em nossa equipe, na qual trabalham católicos, evangélicos, espíritas
e até ateus." Em texto publicado na
"Ilustrada" nesta segunda, Gregório Duvivier, integrante do
Porta e colunista da Folha, ironizou a crítica de dom Odilo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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