Museu Nacional de Belas Artes completa 77 anos e recebe 205 obras de Portinari - Por Denise Griesinger
O Museu Nacional de Belas Artes
se tornou hoje (13/01) o detentor do maior acervo público de Cândido Portinari,
com 243 obras.
Em seu aniversário de 77 anos, o museu assinou o recebimento de
205 pinturas, estudos e esboços, doados pela Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação.
As obras adquiridas passarão por
um processo de análise, catalogação e restauração a partir de 21 de janeiro e
devem ser expostas ao público a partir de maio deste ano, antecipou a diretora
do museu, Mônica Xexeo.
"vamos fazer um recorte da doação e vamos apresentar
[as obras] de maio a outubro em um dos espaços do museu. Vamos devolver à
sociedade essas obras, que nunca foram expostas", diz Mônica.
Mônica classifica o conjunto
doado pela Finep como singular. São 22 pinturas e muitos estudos decorativos,
esboços e trabalhos preparatórios como para o Palácio Capanema e a Igreja São
Francisco de Assis, na Lagoa da Pampulha. Entre as 205 obras doadas também
estão estudos para os painéis "Guerra e Paz", que serão expostos em
Paris em 6 de maio. "São obras do período de 1920 até a década de 50.
Depois, algumas vão seguir para a galeria permanente".
As obras estavam com a Finep
desde 1998, guardadas em um cofre depois de terem sido usadas como garantia
para o pagamento de um financiamento tomado pela família do pintor para
divulgar seu legado. Filho do pintor, João Cândido Portinari, lamenta que quase
todas as 5 mil obras do pai estejam em acervos privados, cofres e locais
inacessíveis ao público.
"Mais de 95% da obra dele continuam invisíveis ao
público brasileiro. Só são visíveis através do trabalho que o Projeto Portinari
fez pelo site e pelas exposições que a gente faz com reproduções. Quando vem
alguém perguntar onde pode ver Portinari, a gente fica até envergonhado de
dizer. Estão em coleções particulares e salas de banco inacessíveis. [O
trabalho de] Portinari é como um iceberg que a gente só vê uma pontinha".
Formado pela Escola Nacional de
Belas Artes, que abriga o museu desde a sua fundação, o pintor também foi
lembrado pelo filho como um aluno e um mestre da casa:
"Me emociona muito
pensar nesse rapazinho que chega aqui. Um caipira praticamente sem nada que vai
morar numa pensão e dorme na banheira porque não tinha como pagar o que era
necessário. Ele pega um trabalho de entregador de marmita e, ao mesmo tempo,
passa a frequentar a Escola de Belas Artes e se entrega emocionadamente. A gente
fica imaginando que o espírito dele está nesse espaço, nos olhando e nesse
momento deve estar muito feliz de ver que finalmente o museu tem um acervo
grande".
Para a ministra da cultura, Marta
Suplicy, a doação reforça a importância do Museu Nacional de Belas Artes.
"São obras excepcionais. Isso torna o museu especialíssimo, por Portinari
ser um dos grandes pintores brasileiros, talvez o mais importante dos
modernistas. Termos esse acervo que vai ficar disponível em maio é relevante
porque ele falava da identidade brasileira. Qualquer brasileiro que olhe
Portinari, se percebe brasileiro de forma muito forte".
Com a doação da Finep, o Museu
Nacional de Belas Artes passa o Museu de Arte de São Paulo, que cai para a
segunda posição em acervo público de Portinari, com a série Retirantes. Os
museus Chácara do Céu e do Açude ficam com as duas posições seguintes. O MNBA
já tinha obras importantes como Café e A Primeira Missa.
O pintor nasceu em 30 de dezembro
de 1903, em uma fazenda de café em Brodowski, no interior de São Paulo, onde
teve uma infância pobre. Entre as obras mais importantes estão O Plantador de
Café e os painéis Guerra e Paz, instalados na sede da Organização das Nações
Unidas (ONU) em Nova York. Morreu em 6 de fevereiro de 1962, vítima de
intoxicação provocada pelas tintas que usava.
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