Igreja Batista ordena sua primeira pastora – Por Aparecida Andrade
Diretor executivo da Convenção
Batista Brasileira, Sócrates Oliveira diz que a Igreja tem contribuído com
mudanças de conceitos.
As igrejas Evangélicas e a
Católica são originárias do cristianismo, acreditam que Jesus Cristo é filho de
Deus e seguem a Bíblia como livro sagrado. Parcela significativa dessas
religiões monoteístas tem ou já teve restrições ao papel da mulher. Mas ao longo
dos séculos essa realidade tem mudado.
Recentemente a Ordem dos Pastores
Batistas do Brasil (OPBB), que não reconhecia a validade do ministério pastoral
para mulheres, aprovou, em janeiro último, a validade do ministério feminino.
A
determinação abre espaço para as mulheres assumirem a liderança em congregações
como pastora, independente de serem casadas com pastores, nas Igrejas Batistas
do País. A reportagem do Diário da Manhã entrevistou a primeira mulher a ocupar
esse cargo no Estado de Goiás e especialistas a respeito do assunto.
Para a professora da Universidade
Estadual de Goiás (UEG) e primeira pastora ordenada na Igreja Batista de
Crixás, município de Goiás, pastora Luciana Pessanha Lacerda dos Santos, 44,
que durante 20 anos atuou no anonimato, essa é uma decisão muito importante
para as mulheres.
“A legalização é uma quebra de paradigmas muito importante
para as mulheres que têm um chamado, porque essa decisão torna as coisas mais
fáceis”, declara.
Ela, que desde os 20 anos de
idade exerce cargo de pastora, reconhece que, no começo, foi um desafio. “Para
mim, no começo foi um desafio muito grande e tudo no anonimato, cheguei a
receber e-mails de pastores questionando, mas eu tratei a situação com muito
amor, não quis bater de frente com ninguém, tudo acontece no tempo de Deus”,
acredita.
Mulheres ao púlpito assumindo a
hierarquia dos grupos devotos ao cristianismo é um assunto que gera debates. De
acordo com o artigo “Ordenação feminina: o que o Novo Testamento tem a dizer?,
publicado na revista Época, o teólogo Augustus Nicodemus Lopes divide as
opiniões sobre a inclusão da mulher em dois grupos, os diferencialistas
(contra) e os igualitaristas, (a favor). Ambos se fundamentam na Bíblia para
justificar seus posicionamentos.
Papéis diferentes
Os diferencialistas asseguram que
homens e mulheres foram criados com papéis diferentes e, portanto, cabe ao
homem exercer autoridade em casa e na igreja. Justificam-se com base em texto
da Bíblia em que Timóteo diz:
“Não permito que a mulher ensine, nem use de
autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi
formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão”. De acordo com o teólogo Augustus, essa citação
mostra a crença de que a mulher está mais suscetível ao erro religioso.
Mas os igualitaristas, favoráveis
à participação ativa das mulheres nas religiões, pontuam que as diferenciações
resultantes do pecado original foram apagadas pelo sacrifício de Cristo e o
argumento deles também está embasado na Bíblia e usam a parte em que São Paulo
diz aos Gálatas:
“Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho
nem fêmea, porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.
Para o diretor executivo da
Convenção Batista Brasileira (CBB), Sócrates Oliveira de Souza, a Igreja
Batista tem contribuído com mudanças de conceitos. De acordo com ele, “ainda
nos anos 1970, a aceitação na Igreja Batista de divorciados influenciou outras
igrejas evangélicas a fazer o mesmo”.
Na opinião da pastora Luciana Pessanha,
nada como o tempo para trazer mudanças positivas. “Nós temos uma cultura muito
machista ainda, mas isso tem melhorado”, acrescenta.
Conforme informações dadas pela
teóloga e diretora executiva da União Feminina Missionária Batista Goiana,
Maria Sebastiana Francisca da Silva, 61, essa conquista não representa uma luta
de gêneros.
“Não vejo como uma luta de gêneros. Entendo que se Deus chama para
fazermos o trabalho Dele não importa se você é homem ou mulher importa obedecer
ao chamado”, descreve.
Maria, que é formada em Teologia
desde 1985, diz ter feito o curso não para competir com homens, “fiz o curso
quando recebi meu chamado, para me preparar melhor para o trabalho”, declara.
Ela, que foi professora por mais de 10 anos, hoje trabalha com missões e é
responsável pelo discipulado de mulheres de zero à terceira idade.
Lembra que, há 10 anos, foi
ordenada, no interior de São Paulo, a primeira pastora na Igreja Batista e esse
acontecimento teve repercussão entre as demais congregações.
“Isso passou a ser
ventilado entre demais congregações, passando ser assunto tratado pela Ordem
dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), então há 10 anos essa questão estava em
pauta”, comenta, e agora, de acordo com ela, se concretizou.
No Brasil aceitar mulheres de pastores
como pastoras nas igrejas evangélicas é uma prática comum. Mas de acordo com o
sociólogo Gedeon Alencar, essa prática não representa uma inclusão real, porque
excluem do sacerdócio as mulheres sem laço familiar com pastores.
Para a
primeira pastora a liderar uma congregação no Estado de Goiás, Luciana
Pessanha, o título é importante, “acho muito, muito importante, mas ainda há
muitas coisas para serem conquistadas”, avalia.
Cita, como exemplo, o fato de
ainda existirem outras igrejas que não aceitam mulheres como pastoras,
independente de serem casadas com pastor. “Tenho muita alegria de ser a
primeira pastora a ser ordenada no Estado. É algo muito relevante por um lado
porque abre portas para outras mulheres, é uma comprovação de uma autoridade na
minha vida”.
Os batistas são hoje o segundo
maior grupo evangélico do País, com 12.400 igrejas filiadas e cerca de 2,3
milhões de fiéis. Segundo a teóloga Maria Sebastiana, existe hoje 177 pastoras
ordenadas por suas igrejas, sem a participação da OPBB, em todo o País.
Agora
que a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB), que não reconhecia a
validade do ministério pastoral para mulheres, aprovou a validade, pastoras
atuam legalmente.
Luciana Pessanha lidera uma
igreja com 72 membros, na cidade de Crixás, e, de acordo com ela, nunca houve
preconceito em relação a seu ministério por parte de membros. “Tenho uma
amizade muito grande com todos e uma relação de muito respeito”, conclui a
pastora.
Fonte: http://www.dm.com.br
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