"Philomena" abre o baú do passado sombrio da Igreja Católica irlandesa - Por Neusa Barbosa
Baseado numa impressionante
história real, ocorrida na Irlanda dos anos 1950, "Philomena", filme
do inglês Stephen Frears, acompanha o calvário de Philomena Lee (Judi Dench,
indicada ao Oscar de melhor atriz), uma enfermeira aposentada que procura pelo
filho, Anthony.
O menino lhe foi arrancado, ainda
pequeno, quando ela vivia internada num convento, destino das moças que, como
ela, engravidavam fora do casamento e eram abandonadas pelas famílias. Seus
filhos eram encaminhados para adoção, em troca de polpudas doações para o
convento, e elas trabalhavam por anos em regime servil, até pagarem sua
"dívida" com as freiras que as acolhiam e também exploravam.
Philomena é ajudada em sua busca
pelo jornalista Martin Sixmith (o comediante Steve Coogan, coprodutor e
corroteirista do filme), que a princípio a contragosto entra na parada. Cínico,
ateu e ex-poderoso jornalista político, ele está num momento frágil na vida
profissional. Não tem, portanto, nenhuma afinidade evidente com Philomena, que
ele conhece já em seus 70 anos, 50 anos depois do sumiço do filho. Uma mulher
simples, mas nada simplória, que apesar de tudo que sofreu não perdeu a fé
católica.
Por interesse jornalístico, com
intenção de vender a impressionante história de Philomena para uma revista,
Martin acaba mergulhando numa jornada de detetive, que inclui uma viagem aos
Estados Unidos em busca das pistas do pequeno Anthony, que adotou o nome de sua
família adotiva.
Narrativa clássica e equilibrada,
"Philomena" não perde o foco nem o ritmo. Aliás, é mesmo o melhor de
dois mundos, ou seja, um filme com uma grande história, grandes atores (Judi
Dench e Steve Coogan, este abandonando sua aura cômica), um esplêndido diretor
veterano em grande forma (Stephen Frears, que foi contratado para esta
direção), ritmo preciso entre todas as emoções, harmonia nas doses de melodrama
e um humor muito adequado se infiltrando em todas as brechas.
Por isso mesmo,
merece tudo, dos prêmios, está indicado a quatro Oscars, incluindo filme,
atriz, roteiro e trilha original e sucesso de bilheteria.
Para completar,
"Philomena" traz novamente à tona os crimes cometidos em conventos
católicos irlandeses, retirando crianças de suas jovens mães solteiras,
obrigadas a trabalhar ali dentro e a entregar seus filhos para adoção, uma
prática que vigorou até os anos 1960.
O trabalho virtualmente escravo dessas
moças, pobres e abandonadas pelas famílias por moralismo, já havia sido
abordado anteriormente em 2002, no filme "Em Nome de Deus", de Peter
Mullan.
Que a Igreja Católica vive outros
tempos fica evidente também pela recente audiência, concedida pelo papa
Francisco, à verdadeira Philomena Lee, ao lado de Steve Coogan, em fevereiro.
Philomena continua lutando para que outras mulheres tenham acesso aos registros
de adoção de seus filhos na Irlanda e possam reencontrá-los.
Fonte: http://cinema.terra.com.br
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