Religiões em de decadência? – Por Mário Dias Ramos
O facto de as religiões terem
decaído durante estas últimas gerações não significa que estejam
definitivamente mortas.
Durante os últimos duzentos ou
trezentos anos, as religiões do Ocidente decaíram manifestamente. É verdade que
tanto tem havido altos como baixos, mas o movimento para baixo tem predominado,
com o resultado de que estamos a viver hoje no que é provavelmente a época mais
irreligiosa de toda a história. Estará errada a suposição?
Estará errada esta suposição e
ter-se-á a nossa natureza modificado radicalmente durante estas últimas
gerações?
Alternativamente, temos nós de acreditar que a religião não é a
racionalização de sentimentos e intuições profundamente assentes, mas apenas um
capricho fantasioso, inventado e reinventado por cada geração para seu próprio
divertimento? O dilema é aparentemente não real. O facto de as religiões terem
decaído durante estas últimas gerações não significa que estejam
definitivamente mortas.
Que há classes inteiras de
funções e faculdades mentais que podem cair temporariamente em descrédito, está
provado abundantemente pela história, o que torna não menos claro que a tentativa
para suprimir uma parte do ser e viver sem ela, como se ela não existisse,
nunca tem êxito permanente.
Mais cedo ou mais tarde os elementos proscritos
exercem a sua vingança, a ordem do seu banimento é rescindida e uma nova
filosofia da vida torna-se popular, uma filosofia que dá aos elementos
anteriormente desprezados e proscritos o seu devido lugar no esquema das
coisas. Não há nenhuma razão para crer que o estado presente da irreligião seja
permanente.
É verdade que as massas
parcialmente educadas acabam de descobrir, com alguns 50 anos de atraso, o
imaterialismo da ciência do século xix. Mas os homens da ciência (é
importante notar) estão a abandonar rapidamente a posição materialista. O que
eles pensam agora pensarão indubitavelmente as massas daqui a uma geração.
A decadência da religião não é
somente, com toda a probabilidade, temporária; é também incompleta. Os
instintos religiosos daqueles que não têm nenhuma religião reconhecida (deixo
de fora o número considerável e ainda crescente daqueles que a têm) encontram
expressão numa surpreendente variedade de processos não religiosos. Na falta da
religião, forneceram-se a si próprios com substitutos para ela.
Fonte: http://www.ionline.pt
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