Quase tudo que você queria saber sobre o processo seletivo de mestrado e doutorado, mas não tinha para quem perguntar

Muita gente sonha em tornar-se um professor universitário, mas acha que é difícil ser um dos escolhidos para cursar o mestrado, pois existem poucas vagas, na maioria dos casos. 

Para falar sobre o assunto, entrevistamos o Professor Carlos Lavieri (*), coordenador da Central de Ensino, que prepara os candidatos para enfrentar a maratona de provas e entrevistas.

ProfessorNews. O que é exatamente um curso de mestrado? Qual é seu objetivo?

Carlos Lavieri. Como primeiro ponto, vamos deixar claro: mestrado e doutorado são campos dos acadêmicos. São cursos para realizar pesquisa, desenvolver teoria e preparar professores.

Existe também o mestrado profissional, que nasceu como uma tentativa de misturar o mestrado acadêmico com as necessidades “mais práticas e imediatas” do mercado, mas que muitas vezes acaba se confundindo com um MBA. Exatamente por essa característica “meio” acadêmica, “meio” mercado, o mestrado profissional forma professores que ainda são vistos pelo restante da academia como “um professor mais ou menos” e que são preteridos pelos “acadêmicos puros” quando efetivamente surge uma vaga de professor.

É claro que um grande diretor de banco, que concorre para dar aulas de finanças na pós de uma universidade tiver cursado um mestrado profissional, poderá conseguir a vaga. A questão é que esse diretor foi escolhido principalmente pelo seu conhecimento prático, e não pelo seu título.

ProfessorNews. Como é um processo de seleção para mestrado?

Carlos Lavieri. Todos os processos de seleção guardam seus mistérios, mas após 10 anos preparando alunos para os processos seletivos de mestrado e doutorado em administração, economia e contabilidade, acredito que possa ajudar a esclarecer os pontos principais e acabar com as dúvidas e mitos que rondam o tema. Vejamos como funciona. Os processos seletivos, normalmente, são compostos de até três fases. Uma ou mais provas, seguida de análise documental e entrevista com os candidatos. Ilustrarei um processo de seleção com base nas práticas da Faculdade de Administração da USP para selecionar seus futuros mestrandos.

Na primeira fase, o candidato submete-se aos exames da ANPAD (Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Administração). As provas abarcam disciplinas variadas em administração (provas específicas da FEA-USP) e disciplinas de conhecimentos gerais (lógica, matemática, raciocínio analítico, português e inglês). O candidato precisa obter pontuação mínima (por exemplo, 300 pontos em Língua Inglesa), além de uma boa colocação (como estar entre os 10% melhores) para ser convidado a participar da segunda fase.

Na segunda fase, o candidato deve enviar diversos documentos, como o currículo, o pré-projeto, o histórico escolar e outros papéis. Esses documentos serão analisados e o candidato selecionado será convidado para entrevista com uma banca formada por professores.

Na última fase, o candidato será sabatinado pela banca, e terá de responder a perguntas como: “qual a dedicação que pretende oferecer ao programa?”; “por que escolheu esse tema de pesquisa e tal instituição?”, ou ainda, “qual a relevância do tema escolhido e como ele se relaciona à história do candidato?”.

ProfessorNews. Muito bem, como se dar bem nesses processos?

Carlos Lavieri. Não são apenas os amigos do professor que conseguem as vagas? Como saber se estou diante de um bom tema? São dúvidas comuns. Voltando ao tema inicial, eis uma primeira resposta: mestrado e doutorado são para acadêmicos, ou para quem pretende sê-lo. Essa frase simples explica quase tudo que se precisa saber para ter sucesso em um processo seletivo da academia. Quer ver?

Considere qual o objetivo das provas. As provas para mestrado procuram verificar:
se o candidato gosta de estudar (quem odeia estudar não deveria seguir a carreira acadêmica e acaba desistindo quando pensa que tem de aprender lógica ou rever logaritmo);

se é inteligente, além de ter conhecimentos nas áreas-temas (espera-se que o futuro professor seja inteligente, mesmo que, na prática, alguns deixem a desejar).

Ora, em última análise, o objetivo das provas é separar quem tem perfil acadêmico. Mas, e as fases seguintes? Análise documental? Para que serve isso? Esse pessoal é louco? Nada disso.

Novamente, o objetivo é verificar quem tem perfil acadêmico, através das respostas a seguintes perguntas: Quem teve boas notas? Quem já deu aula? Quem frequentou congressos ou seminários? Quem publicou artigos em periódicos ou apresentou em congresso? Quem já teve experiência análoga à do professor, seja dando aulas, seja trabalhando em grupo de pesquisas?

Após essa fase, resta apenas a entrevista, em que será verificado se o candidato realmente tem a força de vontade necessária para concluir o curso, se tem interesse em participar de grupos de pesquisa, se tem um projeto em mente e se esse projeto está alinhado com a instituição. Em suma, não só se é um acadêmico, mas se é um acadêmico interessante.

ProfessorNews. O que são perguntados na entrevista?

Carlos Lavieri. Algumas pessoas, mesmo sem nenhuma publicação e com um projeto “mal costurado” podem até chegar à fase da entrevista. Lá, explicam que querem fazer mestrado porque esperam mais destaque no mercado em que trabalham. Dizem ter como tema de pesquisa a empresa em que fazem a carreira, mas deixam claro que, como “plano B”, pretendem algum dia no futuro (“quando cansar de trabalhar”), dar aulas. Depois, quando são preteridos, saem dizendo que nesses processos só entra quem tem carta marcada.

Para saber como obter eficácia no processo de seleção para curso de mestrado, veja os cursos oferecidos pela Central de Ensino.

Carlos Lavieri é coordenador da Central de Ensino para Graduados, mestre em administração pela USP, professor da Universidade Mackenzie e prepara alunos para provas como ANPAD, ANPEC e Suficiência do CRC.






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