Legado de padre Anchieta continua pela cidade 460 anos depois - Por Juliana Deodoro
Beatificado na década de 80 e
canonizado nesta quinta, o jesuíta é uma das figuras mais importantes da
história de São Paulo.
Há 460 anos, um grupo de treze
jesuítas chegou na recém-descoberta colônia portuguesa com a missão de
transmitir o cristianismo. Entre eles estava José de Anchieta, padre que
fundaria junto com Manoel da Nóbrega o Colégio de Sâo Paulo de Piratininga, o marco
da fundação da cidade.
Nesta quinta-feira (03/04), Anchieta foi canonizado pela
Igreja Católica, por meio de um decreto do papa Francisco, o primeiro pontífice
pertencente à Companhia de Jesus.
Nos 43 anos que viveu no Brasil,
padre Anchieta foi responsável pela catequização de indígenas e pela criação de
escolas e cidades em todo o Brasil. Além do Pátio do Colégio, seu legado
na capital paulista é especialmente importante, nos mais diversos âmbitos, do
urbano ao cultural.
Urbanismo
Quando padre Anchieta chegou em
Piratininga não existiam construções. Coube a ele e seus companheiros criarem
uma rede urbanística que, em alguns casos, guarda a mesma configuração até
hoje. Segundo o urbanista Benedito Lima de Toledo, há aldeamentos criados na
época que são tipicamente jesuíticos. Bairros como São Miguel Paulista,
Pinheiros, Ibirapuera e cidades como Carapicuíba e Itaquaquecetuba são alguns
exemplos.
"São construções muito interessantes, com espaço livre na
frente, onde a comunidade se reúne, com as habitações em volta e a igreja ao
centro." Em São Miguel Paulista, a capela de São Miguel Arcanjo erguida
em 1622 foi restaurada recentemente e guarda algumas relíquias artísticas e
históricas.
Cultura
Em cartas enviadas a Inácio de
Loyola, fundador da Companhia de Jesus, padre Anchieta revelava um pouco do
cotidiano na vila de Piratininga. Ele contava em seus relatos, por exemplo, as
técnicas utilizadas para a catequização, como teatro e música.
"Podemos
dizer que ele escreveu as primeiras obras teatrais e musicais do Brasil",
explica o historiador Luís Soares de Camargo, do Arquivo Histórico de São
Paulo. No acervo há diversos volumes que reúnem algumas dessas cartas, além de
poemas.
Educação
Durante muito tempo, falava-se em
Piratininga a língua geral, uma mistura de português, guarani e espanhol. De
acordo com o jornalista e escritor Levino Ponciano, padre Anchieta foi o
responsável pela criação da primeira gramática do Brasil. "Os moradores só
falavam português quando saíam da vila. Tinha que encontrar uma forma simples
para haver uma língua que todos entendessem."
A vocação para educação dos
jesuítas está, inclusive, até hoje em São Paulo. Duas escolas pertencentes à
Companhia de Jesus existem na cidade: os colégios São Luís e São Francisco.
Criação da cidade
O legado mais importante é São
Paulo. Levino Ponciano conta que a decisão de subir a Serra do Mar em direção
ao que viria a ser a cidade ia contra a própria coroa portuguesa e a Companhia
de Jesus, que acreditavam ser melhor manter a missão evangelizadora na costa.
"Era uma empreitada de loucos, que enfrentaram diversos obstáculos para chegar
a este local."
De acordo com o jornalista, existe inclusive uma explicação
mítica para a escolha da área onde se fundaria a vila. "A região do Pátio
do Colégio era um lugar sagrado para os indígenas, havia inclusive três
cemitérios por ali. Os jesuítas se lançaram àquela área para não sair."
Fonte: http://vejasp.abril.com.br
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