‘Religiões devem romper com a dominação mental de seus povos’ - Por Carlos Cardoso Aveline
O escritor, jornalista e editor
do site Filosofia Esotérica, Carlos Cardoso Aveline, fala sobre Israel, palco
atual de conflitos que têm colocado o mundo em alerta e, ao mesmo tempo,
horrorizado. O jornalista fala ainda sobre a força do islamismo.
Sob a ótica da filosofia
esotérica, como você define o Oriente Médio? Ele inclui Irã, Iraque,
Síria, Turquia e outros países e constitui um laboratório humano que funciona
em altas temperaturas cármicas. Nele, o chumbo da ignorância política e
religiosa lentamente se transforma no ouro da sabedoria eterna e da
fraternidade universal.
O território de Israel é um centro magnético de
importância decisiva para a etapa atual do carma humano. É o berço dos três
monoteísmos básicos da nossa civilização. No seu solo e na alma dos seus
habitantes está registrada uma memória de sabedoria e ignorância que vem desde
a remota antiguidade.
Cidade sagrada para várias religiões, Jerusalém tem sido
motivo constante de guerra e de discórdia, e serve como desculpa para
crueldades de que animal nenhum seria capaz. Israel, como país, é uma grande
cooperativa democrática e parlamentarista, um local utópico que reflete em si o
caos criativo e as contradições existentes na alma humana.
Como o senhor vê o papel das
religiões? É cada vez mais necessário compreender aquilo em que se
acredita. Busca-se uma coerência entre palavras e atos. O islã, o
cristianismo e o judaísmo, três religiões que sofrem sob o dogma da ilusão
monoteísta, necessitam reencontrar a fonte comum da sabedoria universal que
ilumina todas as filosofias e religiões. As religiões devem libertar-se
das suas superstições e romper com a dominação mental de seus povos por
burocracias sacerdotais que, em mais de um caso, incitam à
violência.
Abandonando a ilusão de um deus único e a fantasia de que só
existe uma única tradição religiosa autêntica, o judaísmo, o islamismo e o
cristianismo poderão cumprir papéis positivos no longo processo
de construção de uma civilização global solidária, inter-religiosa,
universalista, eticamente correta e ecologicamente sustentável.
Dentro de uma perspectiva
histórica, como se situa o judaísmo hoje? É a mais antiga das três
religiões monoteístas. É também, de longe, a religião mais injustamente
perseguida dos últimos 2.000 anos. Talvez nenhum povo tenha sido tão odiado,
durante tanto tempo e de modo tão violento, quanto o povo judaico. Mas os seres
humanos ficam fortalecidos moralmente quando resistem à perseguição injusta.
O
judaísmo está hoje mais vivo que nunca, dos pontos de vista ético, filosófico e
humano. Ainda é uma religião imperfeita, marcada pela luta entre o dogmatismo e
a criatividade. Tem muito por aprender. Mesmo assim, floresce na aprendizagem
ética. As organizações terroristas que se consideram islâmicas e desprezam a
vida em nome de Alá deveriam mudar de ponto de vista e ver o islamismo como uma
religião de paz.
Como fica essa relação tensa entre
judeus e muçulmanos? Eles não são necessariamente adversários. Pertencem
na verdade a duas tradições irmãs. Há muçulmanos em Israel, assim como há
judeus em países árabes.
O que deve ser feito? Não
importa se somos budistas, hinduístas, taoístas, judeus, cristãos, ateus ou
muçulmanos. Devemos todos caminhar para a fraternidade universal, e isso
precisa ser feito com a firmeza ética e o rigor indispensáveis quando se trata
de optar pelo que é correto.
Os cidadãos de boa vontade não devem proteger atos
de terrorismo. Não cabe lavar as mãos diante de atitudes sistemáticas de
desrespeito pela vida. É hora de acordar para a lei da ajuda mútua.
As raízes
ocidentais da nossa civilização são gregas, romanas e judaicas. A parte
hebraica das nossas origens, porém, começou a ser negada pelos sacerdotes
cristãos logo depois que eles se apropriaram da Bíblia dos judeus. A própria
Torá judaica tem origens mais antigas. Todos os povos são irmãos.
Fonte: http://www.otempo.com.br
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