Afrontando o dogma da economia – Por Marcus Eduardo de Oliveira
Amarrados a uma visão econômica
míope, muitos ainda não conseguem enxergar que a crise ecológica e energética é
muito mais grave que a econômica.
No centro da discussão que
acontece entre a economia e a ecologia, está a disponibilidade e o uso da
energia, a escassez de recursos naturais e o esgotamento dos ecossistemas
frente a estapafúrdia ideia corrente de fazer a economia crescer para, com
isso, levar bem-estar aos povos, numa visão estreita e rasteira que procura dar
conta que a aquisição material responde, sobremaneira, pela qualidade de vida.
Desde que o "mercado” foi
elevado à condição de divindade capaz de ditar todos os valores, a política de
crescimento econômico se projetou, na economia global, como a condição
indispensável para realizar o progresso de todos, tanto do Estado, quanto dos
indivíduos e as instituições.
Crescer economicamente passou a
ser espécie de lei suprema para os governos, pouco se importando se, para isso,
as leis da natureza podem responder afirmativamente.
O que realmente parece ser
importante para o deus-mercado é fazer os povos mergulharem dentro da
"sociedade de consumo”, para criar, a partir disso, o reino da abundância,
satisfazendo assim a voracidade da aquisição material, suprassumo da
felicidade. Triste e lamentável felicidade.
Eis então aqui delineado o
principal dogma da economia, com cara de lei e regra de comportamento: crescer
continuamente para oferecer a todos vida boa.
A pergunta que floresce diante
disso, em face da crise ecológica ora em curso, é a seguinte: até quando esse
"mito do crescimento contínuo” predominará?
Temos como "resposta” que
enquanto não houver clareza suficiente por parte dos gestores da economia
global de que a atividade humana se desenrola dentro da ecosfera terrestre,
sendo totalmente dependente dos recursos extraídos da natureza, essa pergunta
continuará sem a devida resposta.
Não obstante os esforços de
divulgação e esclarecimento das mais elevadas vozes da economia ecológica em
escala mundial, não há ainda o entendimento completo por parte da sociedade que
a ecologia e a economia mantém entre si fina sintonia e possuem elevado grau de
dependência.
Nesse pormenor, como bem salienta
Francisco Fonseca, "ecologia não é só o meio ambiente. É algo mais amplo,
que inclui o homem e o ambiente em uma só unidade indivisível. Na hierarquia
natural da ciência, a economia é subordinada à ecologia, da mesma forma que a
ecologia é subordinada à biologia e à termodinâmica, que por sua vez são
subordinadas à química e a física”.
Uma primeira e imprescindível
condição para destacar a importância de se ter um clima equilibrado, com
respeito às leis que regem a biodiversidade, é, de forma sistemática, afrontar
o dogma central da economia.
Continuar fazendo a economia
crescer num mundo entulhado de mercadorias, como fazem os gestores da economia,
é apenas contribuir para o agravamento da crise ecológica.
De igual modo, e com
o mesmo grau de gravidade, continuar fazendo a economia crescer queimando
petróleo, carvão mineral e florestas é introduzir, por ano, mais de 30 bilhões
de toneladas de gás carbônico na atmosfera, tornando o planeta uma verdadeira
bolha incendiária.
Toda vez que se queima
combustíveis fósseis também se produz monóxido de carbono, óxidos de enxofre,
óxidos de nitrogênio e outros gases, além de poeiras, vapores e partículas de
combustível mal queimado.
Esses gases e resíduos, como bem
aponta Francisco Fonseca em: "O Mundo em Crise”, são os responsáveis pela
famosa poluição das grandes cidades e das áreas industriais. A poluição,
entretanto, não fica permanentemente no ar. É levada pela chuva e acaba
contaminando mais a água e o solo do que o ar.
Sendo a economia um sistema
aberto vinculado à energia, acoplado ao sistema ecológico e regido pelas leis
da termodinâmica, é inadmissível, portanto, continuar aceitando a conduta da
economia neoclássica que faz vistas grossas à questão ambiental e, no lugar de
discutir com seriedade a troca do "crescimento” pelo "desenvolvimento
econômico”, prefere o silêncio.
Não é com elevadas taxas de
crescimento econômico que se porá fim ao desemprego ou a miséria.
Subordinar a
produção econômica aos imperativos da acumulação levou, na atualidade, quase
dois terços dos serviços oferecidos pela natureza à humanidade a entrar em
rápido declínio em todo o mundo.
O outro nome disso é "viver além dos
nossos meios”, como destacam os mais respeitados e sérios estudos sobre as
condições climáticas.
Assim, afrontar o dogma da
economia é apontar, de maneira clara e objetiva, a impossibilidade de um
crescimento ilimitado num sistema que depende da existência de recursos
naturais finitos.
Fonte: http://site.adital.com.br
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