Intolerância Religiosa
Apesar de no Brasil existir uma
miscigenação de credos distintos, consequência da formação do povo brasileiro,
não raro, episódios de intolerância religiosa ganha às páginas dos jornais.
As
agressões vão de manifestações de preconceito em ambientes como: trabalho,
escola a danificação de imagens e até destruição de terreiros.
No ano de 95 um episódio de
intolerância religiosa ofendeu a fé dos católicos brasileiros, quando um bispo
da Igreja Universal do Reino de Deus, em rede nacional, desferiu socos e chutes
a imagem da Senhora Aparecida. A agressão provocou forte indignação nos
católicos e em seguidores de outras religiões, inclusive evangélicas.
Para a professora do Programa de
Pós Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-GO), Irene Dias de Oliveira as religiões em si não
pregam e não fomentam a violência e o preconceito.
De acordo com ela, são as
pessoas (adeptos, teólogos, pastores, sacerdotes, sacerdotisas, comunidades
religiosas em geral) que interpretam as doutrinas, os textos sagrados e agem de
acordo com suas respectivas interpretações.
“A intolerância existe entre os
membros, os adeptos de suas respectivas crenças. As religiões que se baseiam em
um texto sagrado como o alcorão e a Bíblia tendem a ser mais intolerantes que
outras que se baseiam nas tradições orais. Por isso é mais comum que os adeptos
das confissões que se baseiam num texto sagrado sejam mais intolerantes em
relação às religiões afro-brasileiras”, afirma.
Na opinião do advogado Valteude
Guimarães Ferreira, 60 anos, estudioso de cultos afro-brasileiros as crenças
que mais sofrem preconceito no Brasil é a Umbanda e o Candomblé, que de acordo
com o Censo 2010 representa aproximadamente 600 mil brasileiros adeptos.
Informações da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República dão conta que de
cada 53 denúncias de intolerância religiosa recebidas pelo Disque 100, 22 são
contra fiéis da umbanda e do candomblé.
“Por serem cultos de matriz
africana e serem professados por pessoas de cor negra traz, por parte de
algumas pessoas, certa rejeição. Daí que nasce a intolerância religiosa. Mas
parto do princípio constitucional de que é livre o culto no Brasil, ou seja,
qualquer pessoa pode praticar um culto desde que não transgrida a lei. O culto
é livre, e é crime quem desfaz da crença” afirma Valteude que é estudioso de
cultos afro-brasileiros e filho de Santo do Candomblé.
Levando em consideração que todas
as religiões ou seitas adoram um criador soberano, o Padre, Luiz Augusto
Ferreira da Silva acrescenta que a intolerância religiosa está ligada a um
excessivo e equivocado “zelo”, fanatismo religioso. Sendo esta uma adesão cega
e passional, que desvincula a fé num único Deus e verdadeiro, que é amor, e a
coloca em um determinado líder religioso e/ou filosofia de vida.
“A
intolerância conduz à idolatria, e não respeita nem tolera a liberdade
religiosa, porque existe uma falsa compreensão da fé”, define.
Princípios Distintos
Algumas das diferenças presentes
nos cultos prestados, por exemplo, por religiões que fazem parte do
cristianismo diferem apenas em alguns aspectos. Como no caso das igrejas
católica, evangélicas e espiritas que acreditam que Jesus é o filho de Deus,
criador do mundo e veio à Terra para salvar a humanidade.
Mas as mesmas diferem em alguns
aspectos como os católicos que seguem os ensinamentos do papa (autoridade
máxima da igreja) e cultuam Maria (mãe de Jesus na Terra) e alguns santos.
Já
os evangélicos que através do teólogo alemão Martinho Lutero rompeu com a
Igreja Católica rejeitam crenças como a autoridade do papa e o culto à Maria e
aos santos.
Como os católicos e os
protestantes, os espíritas também acreditam que Jesus Cristo é o filho de Deus,
entretanto eles seguem a Bíblia para explicar como funciona o mundo espiritual.
Os espíritas acreditam que podem nascer e renascer na terra por várias encarnações
até atingirem a perfeição. Além disso, creem que os vivos podem se comunicar
com mortos por meio de médiuns.
Fora isso, eles recebem passes de
membros mais sensitivos que os harmonizam, removendo as vibrações negativas e
substituindo-as por bons fluidos. Essa crença foi fundada pelo professor
francês Allan Kardec em 1857 no Livro dos Espíritos.
O estudioso de cultos
afro-brasileiros, Valteude Ferreira observa que as crenças que são consideradas
religiões no Brasil são o catolicismo, protestantismo e o espiritismo. As
demais são ajuizadas como seitas, “embora em outros pais sejam reconhecidas
como religiões”, diz. Como o candomblé e a umbanda que são diferentes, mas
também possuem algumas similaridades.
Ambas as doutrinas (candomblé e a
umbanda) acreditam em orixás, que são deuses das nações africanas que criam e
governam o mundo por ordem de olorum (a divindade máxima). Fora isso é por meio
dos búzios que os pais ou mães de santo se comunicam com os orixás.
Valteude explica que a umbanda
foi criada no rio de janeiro no século 20 e une crenças e rituais africanos e
acredita em entidades guias que são incorporadas por iniciados.
“Em minha
opinião a Umbanda é originariamente brasileira e considerada uma religião.
Embora poucas pessoas a aceite como religião”, lamenta.
Dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as principais religiões do Brasil
são: a Católica Apostólica Romana com 64,6% de fiéis, Evangélicas com 22,2%,
Espírita com 2% e a Umbanda e Candomblé com 0,3% de público seguidor.
Todas
estas religiões seitas estão centradas em ‘seus fundamentos’ que são corretos,
certos e inequívocos para seus adeptos.
Para a doutora em Ciências da
Religião, Irene Dias os adeptos de uma determinada confissão religiosa tendem a
acreditar que seu núcleo de verdade, suas normas, doutrinas, suas divindades e
referências sagradas são melhores e mais importantes; e a sua “verdade” única,
absoluta e válida para todos.
“Esta pretensão, a de que ‘a
minha religião e os conteúdos da minha fé são mais verdadeiros do que a de
outras religiões’, pode levar as pessoas a se sentirem superiores, mais
importantes, privilegiadas, dignas da benevolência divina, da salvação e da
‘terra prometida’ entre outras possíveis escolhas. Estas atitudes são perigosas,
intransigentes e estão grávidas de preconceitos”, alerta Irene.
Visão Fundamentalista das
Religiões
De acordo com Irene Dias doutora
em Ciências da Religião, toda experiência religiosa se submete à fé, à força do
sentir e do viver religioso. E que, portanto, certo ‘fundamentalismo’ é
conatural à pertença religiosa.
“Toda religião pretende ser verdadeira e estar
na verdade. Sendo assim toda religião está centrada em ‘seus fundamentos’ que
são corretos, certos e inequívocos para seus adeptos”, esclarece.
Ela acrescenta que por isso toda
grande experiência religiosa possui critérios hermenêuticos e autolegitimadores
de sua posição e não há nada de errado nisso. Alerta que o risco está quando
uma determinada religião pretende impor com força e violência suas convicções e
crenças e não reconhece a legitimidade das outras experiências religiosas
especialmente numa realidade cada vez mais plural como a das sociedades atuais.
“Eu posso e devo, sem algum
problema, acreditar que a minha religião me possibilita ser uma pessoa melhor,
me dá as respostas necessárias para a minha vida e que ela é verdadeira. O que
eu não posso é pretender e acreditar que esta experiência deva ser imposta a
outras pessoas, comunidades e grupos e achar que se estes não a acolherem são piores,
pecadores ou devem ser simplesmente eliminados em nome de Deus ou de meus
princípios religiosos. Não há nada que justifique o preconceito, a
discriminação e as diferentes formas de violência em nome de Deus!”
Para o teólogo e Pastor
evangélico, da Igreja Assembleia de Deus Ministério Fama, Cláudio Henrique
Ferreira Chaves teologicamente falando na maioria das religiões existem um
grupo de igrejas ou pessoas que são fundamentalistas.
Mas ele observa que “há
também nas igrejas evangélicas grupos liberais, ou seja, pessoas que adaptam a
realidade da Bíblia a realidade dos nossos dias”, assegura.
Ele observa que a função da
religião não é brigar uma com a outra, e sim ligar as pessoas a Deus.
“A
religião em si não prega a intolerância, as pessoas que por causa de suas
vontades e desejos cometem atrocidades Qualquer religião que busca a oposição à
outra não deve ser considera correta. Isso quer dizer que nenhuma religião é
melhor que a outra, mas cada uma tem seus princípios”, reafirma.
Fonte: http://www.dm.com.br
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