Representação de profetas em imagens é proibida para os muçulmanos – Por Marta Santos
Apesar disso, desenhos de Maomé
não devem motivar violência, dizem estudiosos do islã.
Uma das principais questões
levantadas após o atentado terrorista contra a sede do jornal Charlie Hebdo, em
Paris, na semana passada, foi sobre o uso da imagem do profeta Maomé. A
religião islâmica proíbe imagens do profeta em geral ou foram as sátiras que
despertaram a indignação dos muçulmanos?
Para ajudar a esclarecer essas
dúvidas, o R7 conversou com o teólogo muçulmano brasileiro Sheik
Jihad Hammadeh.
“Para nós muçulmanos, a idolatria
de imagens e o desenho de seres humanos é proibida. Ainda mais quando retrata
um profeta, qualquer que seja ele: Jesus, Maomé, Noé, Abraão, Moisés”, explica
Hammadeh.
“Os profetas devem ser figuras da
imaginação das pessoas e não na realidade. Da mesma forma que não podemos
desenhar a figura de Deus”.
A personificação do sagrado, de
acordo com o especialista, sempre foi proibida na religião islâmica. Os homens
que acompanharam Maomé durante sua vida, por exemplo, não fizeram desenhos do
profeta, eles apenas registraram suas palavras e ensinamentos.
De acordo com Hammadeh, isso
serve para manter a imagem do profeta intacta e para que não tenha um
desrespeito com a memória dele.
“Algumas pessoas têm como sagrado
a figura da mãe, do pai ou dos irmãos. Cada pessoa tem um símbolo que é preciso
ser respeitado”.
Violência
Apesar das imagens satíricas do
profeta, o sheik Houssam el Boustani, teólogo especializado em islã, afirma que
o uso da violência não é aceitável.
“Mesmo com as caricaturas
publicadas pelo jornal, a religião jamais tentaria qualquer vingança deste tipo
contra um veículo ou profissionais da imprensa”.
“Lógico que nós não podemos
usar a violência porque nos sentimos ofendidos, existem formas legais de
reclamar", disse Boustani, em entrevista ao R7.
“A religião islâmica é uma
religião pacífica. Infelizmente algumas pessoas, seja por vingança ou por não
entender o espírito da religião, usam o islã para fazer esse tipo de barbárie”.
A professora Lidice Meyer, da
pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
afirma que "há movimentos minoritários dentro do islamismo em que há uma
má compreensão do Corão [o livro sagrado dos muçulmanos], já que ele não traz
diretamente a necessidade de agressão física".
“O Corão dá a possibilidade sim,
mas essa é a última possibilidade. Deve-se tentar primeiro resolver
pacificamente o problema”.
No caso do jornal, a professora
afirma que a reincidência da charge pode ter sido vista como uma forma de
agressão do jornal à religião, o que poderia ser usado como justificativa para
uma reação violenta.
Atentado
A sede do jornal Charlie Hebdo
foi alvo de um ataque no dia 7 de janeiro. Ao todo, 12 pessoas morreram no
local.
De acordo com testemunhas, dois
homens chegaram pouco depois das 11h local (7h, em Brasília) à sede do jornal,
dispararam vários tiros e, em sua fuga, deram vários gritos de "Alá é o
maior" e "vingamos o profeta", o que é considerado uma alusão à
publicação pelo jornal de caricaturas de Maomé.
Identificados como Said e Cherif
Kouachi, de 34 e 32 anos, respectivamente, os irmãos foram mortos durante uma
operação policial na sexta-feira (09/01).
Um terceiro homem acusado de
participar do ataque se entregou à polícia um dia antes da morte dos irmãos.
Identificado apenas como Amid, de 19 anos, os investigadores suspeitam que ele
estivesse atrás do volante durante o ataque, o que ele nega.
Fonte: http://noticias.r7.com
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