Governo francês apresenta plano contra radicalização islâmica nas prisões – Por Taíssa Stivanin
O Ministério da Justiça francês
finalizou na quarta-feira (18/02) um plano de luta contra a radicalização na
prisão, uma das medidas para prevenir o engajamento de jovens franceses no
jihadismo.
O documento, elaborado a pedido do primeiro-ministro Manuel Valls
logo depois dos atentados de janeiro em Paris, prevê a criação de estruturas
específicas para receber presos considerados uma “má influência” para os
demais. As cadeias para os detentos
radicais, ligados ao terrorismo, estariam situadas em Fleury-Mérogis, Fresne e
Osny, na região parisiense e Lille-Annoeullin, no norte.
Outros 26
estabelecimentos também poderão receber os prisioneiros mais perigosos. Os
detalhes do plano, divulgados pelo jornal Le Figaro, também preveem a
contratação de 18 carcereiros a mais para cada uma das prisões.
As medidas também incluem a
contratação de diversos profissionais. Entre eles, 100 educadores e psicólogos,
sendo 74 em 2015 e 26 em 2016. A classe foi criticada pela falta de
acompanhamento dos delinquentes mais radicais quando ocorreram os atentados.
Outros dois cargos serão criados,
servindo de referência na luta contra o terrorismo para os magistrados e os
serviços penitenciários. O governo francês também abrirá mais vagas para
carcereiros e capelães muçulmanos e investirá € 1 milhão em programas para
evitar a radicalização.
Segundo o diretor da escola de
administração penitenciária Philippe Pottier, tradicionalmente, os capelães nas
prisões eram católicos, de onde a necessidade de uma adaptação à nova realidade
das cadeias francesas, que devem oferecer um culto muçulmanos para os
praticantes em boas condições.
“Outra questão é a radicalização, que não está
ligada à religião. A questão é como identificar os prisioneiros que estão se
radicalizando e o que fazer com eles. Para isso precisamos de profissionais
especializados para identificá-los e ter um acompanhamento adaptado.”
Identificar os radicais, uma das
dificuldades
De acordo com Pottiers, uma das
principais dificuldades é identificar quem são esses vetores da radicalização
nas prisões. “Os detentos que querem aliciar os outros se escondem, avançam na
surdina, essa é a dificuldade. Eles não são identificados facilmente. São
pessoas que se habituaram a não deixar transparecer nada, a fazer as coisas
clandestinamente”. A ideia, diz é que os agentes sejam formados para
identificar quem são os detentos perigosos.
A criação de prisões específicas
para radicais também é uma boa solução, diz Pottier. “Não se trata de um
isolamento, mas de um reagrupamento de detentos, para evitar que essa
radicalização se dissemine no centro de detenção, e evitar que pratiquem o
proselitismo em toda a prisão. Quando se trata apenas de elementos isolados é
uma situação que podemos administrar. Mas quando eles são dezenas em um
estabelecimento, o fato de reagrupá-los e separá-los dos outros, é mais
complicado”.
Segundo ele, também é difícil
estabelecer um perfil do detento mais sensível a esse tipo de discurso. “A
prisão é como o mundo lá fora: as pessoas aliciadas pelos radicais podem ser de
meios, classes sociais e culturas muito diferentes. Há de tudo: muçulmanos que
se radicalizam, outros que nem eram muçulmanos, outros que vêm de famílias bem
constituídas, de bairros pobres, de bairros diferentes. Não há um perfil
determinado. Podemos dizer que são na maioria jovens, que em um determinado
momento estão em uma situação psicológica, pessoal e afetiva difícil, mas
podemos ter muitos tipos de pessoas diferentes assim.”
Radicalização fora das prisões
Para o capelão muçulmano Mohamed
Boina M’Kobou, a radicalização também acontece fora das prisões. “É preciso que
eles se interessem em vir ao culto, regularmente. Como afastá-los da
radicalização? Muitas vezes, a radicalização acontece fora das prisões. O
detento é alguém que cometeu um delito, e que vai para a prisão para pagar pelo
que fez à sociedade”, diz.
“Mas quando ele deixa a cadeia, é
necessário um acompanhamento, para que possa se reintegrar nessa mesma
sociedade: ter um emprego, uma casa, uma família, ou associações que o apoiem.
Quando eles voltam para a rua, sem perspectiva, acabam sendo uma presa fácil
para alguns indivíduos. É um problema da nossa sociedade. E o governo precisa
dar meios para que possamos lutar contra isso”, questiona. Ele também diz que
não se sente atingido por esse “sistema de radicalização.”
“Nossa religião, o
Islã na França, não é uma religião de violência. Não é uma religião de acerto
de contas. Nossa religião, é uma religião de paz”, declara.
Fonte: http://www.portugues.rfi.fr
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