Igreja faz denúncia internacional contra impactos da indústria extrativista na Amazônia – Por Marcela Belchior
A Rede Eclesiástica Pan-Amazônica
(Repam), juntamente com delegação do Conselho Episcopal Latino-americano
(Celam), alertam a Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH), da
Organização dos Estados Americanos (OEA), sobre os graves impactos que a indústrias
extrativistas geram às populações na América Latina, em especial as da
Amazônia.
Esta foi a primeira vez que a Igreja Católica latino-americana
recorreu à CIDH para avançar na defesa dos povos do continente.
A Repam ressalta que a Igreja, em
sua atividade pastoral, vem resistindo à propagação desses efeitos, na defesa
dos direitos humanos dos atingidos em toda a região. Segundo o
secretário-executivo da Rede, Maurício López, a intenção é apresentar não
somente a visão da instituição sobre a questão, mas lutar pela garantia de
providências àqueles casos mais emblemáticos.
A denúncia da Repam destaca a
situação de vulnerabilidade dos direitos humanos de povos indígenas a
camponeses afetados. Entre eles, estão os casos de Piquiá de Baixo, no Brasil;
de San José, Progreso e Madalena, no México; do Parque Nacional Yasuní, no Equador;
da comunidade Nova Esperança, de Honduras; além do caso de exploração
petroleira no campo 116, na região da Amazônia peruana.
Além de uma audiência pública na
CIDH, no último dia 19 de março, os representantes da Repam se encontraram, em
uma reunião privada, com o secretário-executivo da Comissão, Emilio Álvarez
Icaza.
Na ocasião, foi discutida uma proposta de cooperação para realizar um
esforço conjunto pela causa e com a finalidade de fortalecer a democracia nos
países americanos, além de acompanhar os Estados, reforçando a cidadania e a
apropriação dos atores sociais dos seus direitos de participação.
Três dos bispos de diferentes
países latino-americanos (Brasil, Guatemala e Peru), que participaram da
audiência em Washington, sede da OEA, afirmam que a região inteira sofre com o
mesmo problema. O bispo peruano Pedro Barreto, presidente do departamento de
Justiça e Solidariedade da Celam [Conferência Episcopal Latino-Americana]
destacou a criação da Repam como um espaço de diálogo e apoio mútuo.
"Porque nos 6 milhões de
quilômetros quadrados da Amazônia os problemas são parecidos. As populações
indígenas e ribeirinhas se veem afetadas em seus direitos fundamentais. São
cerca de 35 milhões de irmãos e irmãs”, afirmou Barreto, em entrevista à imprensa.
Segundo informe da Repam, muitos
Estados da região permanecem indiferentes a práticas como a criminalização de
defensoras e defensores de direitos humanos e os graves impactos à saúde,
integridade e vida, em especial de comunidades indígenas e camponesas. A Rede
destaca a necessidade de se adotar um modelo de desenvolvimento econômico na
América Latina, que seja sustentável, equilibrado com os direitos humanos e o
meio ambiente.
"Há, na Amazônia, uma
avalanche de projetos armados pelo grande capital, mas também pela extração
ilegal”, precisou o bispo de Roraima, Estado brasileiro, Roque Paloschi. Ele
cita ainda atividades predatórias do meio ambiente e dos povos locais, ligadas
ao agronegócio, como a monocultura de cana-de-açúcar e de soja.
Atualmente, a Repam consolida uma
escola de promoção e defesa dos direitos humanos na Amazônia, com o objetivo de
garantir que os agentes territoriais conheçam seis direitos, estabelecidos pela
legislação, além de que tenham acesso e meios para defenderem suas causas perante
a CIDH.
"Há uma rede de defensores ambientais em toda a Amazônia, que
estão preocupados com o impacto de todos estes megaprojetos”, destacou Álvarez,
em declaração à imprensa.
Marcela Belchior - É jornalista
da Adital. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), estuda as relações culturais na América Latina.
Fonte: http://site.adital.com.br
Comentários