"Papa Por Um Dia" marca estreia na ficção do ensaísta e poeta cabo-verdiano David Hopffer Almada
O livro:
"Papa Por Um
Dia"
Marca a estreia do político, ensaísta e poeta cabo-verdiano David
Hopffer Almada na ficção, numa obra que romanceia a prática do catolicismo em
Cabo Verde.
Numa entrevista à agência Lusa, o
antigo ministro da Justiça (1975/86) e da Informação, Cultura e Desportos
(1986/91) escusou-se a adiantar pormenores sobre o conteúdo da
"estória", "vocês é que têm de ter a curiosidade de ler o
livro", afirmou, limitando-se a adiantar que se trata da "prática da
religião (católica) em Cabo Verde".
A história de Cabo Verde, país
maioritariamente cristão (cerca de 95% dos mais de meio milhão de habitantes),
está diretamente ligada à Igreja, que chegou com os primeiros povoadores (1462)
à Ribeira Grande de Santiago, onde foi criada a primeira diocese no continente
africano, em 1533.
"A história trata da questão
da prática da religião, da nossa religião (católica), em Cabo Verde, e de
muitas outras coisas, porque mete também algumas outras ligadas à própria
vivência e percurso político de Cabo Verde", admitiu, reconhecendo que a
obra "tem pedaços autobiográficos", mas também personagens
identificáveis da História cabo-verdiana.
Um deles, deslindou, é o
recém-nomeado cardeal de Santiago, Arlindo Furtado, de quem foi colega no
Seminário de São José, na Cidade da Praia, a quem telefonou a 04 de janeiro, no
dia em que se soube da nomeação, para o parabenizar e para o informar que, no
livro que então escrevia, tinha-o previsto nessas mesmas funções.
"O resto que conto no livro,
é imaginação, é ficção. Uma história que tem um final que seria glorioso para
Cabo Verde. Mas é uma história, uma ficção", alertou o atual advogado, com
escritório instalado e antigo candidato a presidente da República.
"Papa Por Um Dia" é
também um livro onde são feitas "algumas provocações", assume,
salientou Hopffer Almada que, sem as identificar, avisou que, "como homem
livre" que sempre diz ter sido, podem gerar também "alguma
incompreensão e polémica", o que "até é bom", pois gera ainda
"alguma discussão".
"Considero-me sempre um homem
livre. Livre na palavra e no pensamento. Sempre fui assim e isso já me causou
algumas dores de cabeça, mas gosto de dizer o que penso e propugno, sempre com
respeito", sublinhou.
"O livro traz coisas que são
mesmo provocações para uma discussão e para uma melhoria do nosso «status»
dentro da própria religião que abraçamos. Sou católico e, mesmo dentro da minha
religião, acho que há coisas em que poderemos encontrar outros caminhos e
soluções", argumento Hopffer Almada.
Para escrever o novo livro, publicado
pela recentemente criada Acácia Editora e cuja primeira tiragem foi de 500
exemplares, o também antigo deputado (1981/96 e 2001/11) afirmou que tudo
passou por uma questão de inspiração, o que acontece quando se escreve com
frequência.
"Não determinamos o momento
da escrita. Aconteceu agora surgir a inspiração para escrever esse romance, que
coincide com um momento histórico em Cabo Verde, que, pela primeira vez tem um
cardeal", sublinhou.
"Sempre tive jeito também
para escrever prosa, só que tenho-me dedicado sobretudo a estudos e ensaios
sobre questões da sociedade e pronunciar-me sobre elas. Os meus livros são
quase todos sobre isso. Mesmo a poesia foca essencialmente questões da
sociedade", afirmou, assumindo-se como católico praticante.
Para Hopffer Almada, a
implantação "muito forte" da Igreja Católica em Cabo Verde tem
determinado a maneira de ser do cabo-verdiano, bem como a própria cultura do
país e a civilização de "grande parte do mundo".
Natural de Santa Catarina,
interior da ilha de Santiago, onde nasceu a 19 de dezembro de 1945 (69 anos),
David Hopffer Almada é também membro fundador da Associação de Escritores
Cabo-Verdianos (AECV), da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA), da
Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL).
Várias são as obras que já
publicou, entre poesia, ensaios, passando por recessões sobre cultura, direito
e política cabo-verdiana.
Fonte: http://www.sapo.pt
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