Para cristãos, mensagem da Sexta-Feira Santa e Páscoa é de esperança – Por Klaus Krämer
Do ponto de vista da crença
cristã, os eventos em torno da morte e ressurreição de Cristo são de
importância universal para a humanidade. Juntos, eles são principal festa do
cristianismo, e trazem grandes esperanças.
As grandes festas eclesiásticas se orientam pela vida do fundador Jesus Cristo. Sem dúvida, a festa predileta dos alemães é o Natal, a festa da natividade. Celebra-se um episódio de muita alegria. Os presentes e a atmosfera sagrada da época do Natal evocam emoções muito positivas.
No entanto, por mais importante
que seja o nascimento de Jesus, ou seja, do Deus humanizado, a Sexta-Feira
Santa e a Páscoa possuem importância ainda maior. Enquanto a Sexta-Feira Santa
celebra a paixão e morte de Cristo, a Páscoa é a festa de sua ressurreição
dentre os mortos. Porém, ambas têm um período preparatório: a Semana Santa
começa no Domingo de Ramos e é a principal semana do calendário religioso. O
sofrimento de Jesus e sua morte são lembrados de maneira especial. No dia da morte
de Jesus, a Sexta-Feira Santa, luto e penitência estão em primeiro plano.
Relação entre morte e
ressurreição
Antigamente, a Sexta-Feira Santa
era considerada o feriado mais importante dos cristãos protestantes. Hoje há
amplo consenso entre as religiões cristãs que a morte de Cristo, em sacrifício
pelos pecados da humanidade, está indissociavelmente ligada à Páscoa, ou seja,
ao dia de sua ressurreição.
A maior festa do cristianismo, formada pela
Sexta-Feira Santa, Sábado de Aleluia e Domingo de Páscoa, é atualmente vista
como uma unidade com aspectos diferentes, enfatiza o teólogo Ulrich Lüke.
"Para quem só recorde a
Sexta-Feira Santa trata-se de um evento extremamente triste, seria, por assim
dizer, o adeus a um perdedor. Eu tenho também que pensar na Páscoa, senão não
refleti da forma correta sobre a Sexta-Feira Santa. Nesse sentido, elas estão
intimamente ligadas", destacou Lüke.
No entanto, para o professor de
teologia católica, também é importante não perder de vista o Natal. A
Sexta-Feira Santa documenta as piores consequências da encarnação, ou seja, da
humanização divina.
"O que tem início com o Natal Deus desde o princípio,
como homem e no homem e termina na Sexta-Feira Santa Deus até o fim, no homem
faz parte de uma coisa só", afirma o teólogo.
Intriga, calúnia, processo
O que aconteceu na primeira
Sexta-Feira Santa da história já fora preparado na véspera: Jesus compartilhara
a Última Ceia com seus 12 seguidores mais próximos pela última vez, a companhia
e as palavras orientadoras do mestre. Pouco depois, seguiram-se traição e
encarceramento.
Na Sexta-Feira Santa, ele teve de
enfrentar dois processos, uma das autoridades judaicas, que queriam eliminar
Jesus por motivos teológicos, e outro dos ocupadores romanos. "A coisa
toda foi um astuto trabalho de colaboração", aponta Lüke.
Como os judeus
não eram senhores na própria terra, e sim os romanos, "haviam determinado
que somente eles próprios poderiam pronunciar e executar sentenças de morte.
Para os romanos, na verdade, tanto fazia se alguém alegava ser filho de Deus.
Eles queriam que houvesse paz na região".
Por esse motivo, a elite
religiosa judaica denunciou Jesus como concorrente ao trono, agitador e
combatente libertário. "O governador romano Pilatos fez processo sumário
com Jesus. Segundo tudo o que sabemos, ele não encontrou muita coisa contra
Jesus. Mas aí, sob pressão da multidão, entregou-o à morte mesmo assim."
Morte por crucificação, uma das mais brutais formas de execução da Antiguidade.
Muitas vezes a agonia dos condenados durava dias.
Coisas estranhas
Somente poucos dos que
acompanharam a crucificação de Jesus poderiam imaginar que ali morria alguém de
importância particular.
"As definições teológicas de que, na essência,
Jesus é o verdadeiro Deus e ao mesmo tempo ser humano, são conceitos que só
mais tarde se desenvolveram teológica e filosoficamente", explica o
professor de Teologia Sistemática na Escola Superior Técnica de Aachen.
No entanto, nos relatos do Novo
Testamento está escrito que, no momento da morte de Cristo, o sol escureceu, a
terra tremeu e outras coisas inexplicáveis aconteceram.
Para Ulrich Lüke, o
impressionante foi que "Jesus vivenciou a última consequência da vida
humana, até a morte brutal. Essa é a ideia da encarnação, de
que Deus está no ser humano, do começo ao fim. Que solidariedade com a finitude
humana, com a fraqueza e a decrepitude seria essa, se Jesus, de alguma forma,
tivesse dado no pé antes da hora?" Para trás, ele deixava o pequeno
grupo de seus discípulos, abalado, triste, amedrontado, que presenciava o fim de
todos os seus sonhos e esperanças."
Somente uma transição
O que chamamos hoje de Páscoa foi
o dia da surpresa para os seguidores de Jesus. Na manhã do terceiro dia após a
crucificação, o túmulo onde Jesus se encontrava morto, estava vazio.
Testemunhas se encontraram com o ressuscitado. "E até mesmo testemunhas que
jamais teriam pensado que ele pudesse ressuscitar", conta Ulrich Lüke.
Assim, Maria Madalena, a primeira
pessoa a encontrar o túmulo vazio, ficou chocada, acreditando que o corpo havia
sido roubado. "Ela estava tão cega de lágrimas, que nem chega a reconhecer
Jesus quando o encontra. Ela teve primeiro de ser abordada por ele para que
seus olhos se abrissem. Portanto as testemunhas da ressurreição não já
chegaram, de forma alguma, com um 'Aleluia' ao cemitério, sabendo que Jesus
estava ali, agora como um herói acima de tudo e todos."
Somente o encontro
físico com aquele que ressuscitara dos mortos convenceu os primeiros cristãos
de que Cristo realmente vive.
Perspectiva até hoje
Para os cristãos, os eventos da
Sexta-Feira Santa e da Páscoa estão ligados ao sentimento de esperança.
"Eles abrem uma nova perspectiva", resume Ulrich Lüke, o qual, na
qualidade de professor de Teologia e biólogo, também é um especialista na
relação entre as ciências naturais e a fé.
Os incontáveis sofrimentos que
cada ser humano tem em si e que a humanidade tem como um todo, dramas como
Auschwitz, Stalingrado ou o massacre de My Lai, são contestados pela mensagem
cristã da ressurreição. Ela comunica que "esta vida, que conhecemos em sua
finitude e materialidade, não é a última".
"Ela abre, portanto, o
horizonte, faz com que aquele que está à beira de uma sepultura não olhe apenas
para os sete palmos de profundidade, mas sim para além do túmulo, para um novo
horizonte de vida adentro", conclui Lüke. Ou seja: a Páscoa abre para os
cristãos uma dimensão que ultrapassa a vida terrena e a morte.
Fonte: http://www.opovo.com.br
Comentários