República de São Bernardo - Por José Marques de Melo



A História do Brasil vem sendo construída no imaginário coletivo a partir de referências emblemáticas a pessoas, instituições, ideias, eventos. Jornalistas e historiadores buscam reconstituir os fios da memória nacional, ancorados em efemérides emblemáticas.

Mas episódios complexos como o golpe militar de 1964 ainda não foram explicados pela academia. Justifica-se, portanto, o resgate de documentos capazes de esclarecer dúvidas persistentes, equacionando enigmas insolúveis. O distanciamento sempre ajuda a entender aspectos sinuosos, preenchendo lacunas cognitivas.

Por isso mesmo, acolhi com simpatia a ideia de organizar um livro que contextualizasse minha presença no espaço geopolítico rotulado pela mídia como: “República de São Bernardo”. Simbolizando o movimento que projetou Lula e seus companheiros no panorama político nacional, esse episódio contou com a participação da corrente evangélica fundada por John Wesley na Inglaterra, chegando ao Brasil por meio do metodismo norte-americano.

A Igreja Metodista adquiriu, nos anos 1930, uma gleba às margens da Rodovia Anchieta, estrada que interliga a metrópole paulistana ao litoral santista, com a intenção de construir o edifício destinado a abrigar sua Faculdade de Teologia. A região ainda era demarcada por uma fisionomia suburbana, mesclando a paisagem rural ao ambiente industrial.

Somente na década de 50, a instalação do polo automobilístico planejado pelo governo Kubitschek muda o perfil socioeconômico da região. O traço principal dessa metamorfose se dá no cotidiano operário, quando o peleguismo da era Vargas foi atropelado pelo sindicalismo de resultados da era Lula.

A “República de São Bernardo” germinou na memória nacional, nessa conjuntura de ebulição do movimento sindical radicalizado, influenciando certamente as estratégias educacionais da Igreja Metodista.

Decidindo ampliar sua histórica unidade de ensino teológica, o colégio episcopal criou as condições necessárias para fundar a pujante Universidade Metodista de São Paulo, onde surgiria, em 1972, a moderna Faculdade de Comunicação que mais tarde seria reconhecida como estabelecimento modelar pela Unesco.

Privilegiada em 1996 como sede da Cátedra de Comunicação do Brasil, a Unesco potencializou o magistério da UMESP, que tem se mantido em plena sintonia com as demandas coletivas, fazendo jus ao título de melhor instituição privada do país, figurando no topo do ranking da Editora Abril, nesse campo do saber.

Inventariando criticamente a trajetória da universidade, meu livro: “Pragmatismo Utópico na República de São Bernardo” (2014) pretende esclarecer fatos e versões que certamente estão formando o tecido da História das Ciências da Comunicação no Brasil.


Jornalista, professor universitário, pesquisador científico, consultor acadêmico, autor de diversos livros, foi docente da ECA-USP e é atualmente o titular da Cátedra Unesco de Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo (www.marquesdemelo.pro.br).




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