Igreja perde 2 mil religiosos todos os anos, diz cardeal – Por José Maria Mayrink
A Igreja Católica perde
anualmente cerca de 2 mil religiosos, homens e mulheres, em todos os
continentes, sobretudo na Europa, revelou o cardeal brasileiro Dom. João Braz de
Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as
Sociedades de Vida Apostólica.
A declaração foi dada em encontro
na tarde da quarta-feira, 19/08, com mil freiras, padres, irmãos e leigos, na
Catedral de São Paulo, na Praça da Sé, região central de São Paulo. No comando de aproximadamente 1,5
milhão de religiosos, pertencentes a quase 3 mil congregações e comunidades de
consagrados, o cardeal faz uma revolução no Vaticano para atrair novas
vocações.
Ex-arcebispo de Brasília, Dom. João
foi nomeado prefeito por Bento XVI em 2011 e confirmado pelo Papa Francisco em
2013. "A idade média das freiras
na Europa é de 85 anos, o que significa que essas idosas vão morrer em breve
sem que apareçam outras para ocupar seu lugar", disse d. João ao jornal O
Estado de S. Paulo, antes da palestra na Sé.
Novas vocações só têm surgido, em
maior proporção, na África e na Ásia, onde o catolicismo tem prosperado.
"Vietnã e Coreia do Sul têm, cada um, 10% de católicos em suas
populações", informou o cardeal.
Para o prefeito da congregação
romana responsável pelos cristãos de vida consagrada, é urgente recriar ou
rever a vida comunitária nos conventos, para restabelecer a convivência em
ambiente de compreensão e caridade entre seus membros. "Sei de casos de religiosos
que deixaram suas comunidades e querem voltar, mas desistem porque não
encontram nelas a vida em família", disse Dom. João. A revisão inclui a
possibilidade de organizar comunidades mistas na vida consagrada.
"No passado, tivemos
dificuldades para a convivência, porque se dizia que era preciso ter cuidado,
porque a mulher é um perigo, ou cuidado porque o homem é um perigo",
observou o cardeal. "Não aconselho muito formar
comunidades mistas na mesma casa", disse, depois de ter lembrado que o
voto de castidade faz parte da vocação religiosa.
Dom. João revelou que recebeu o
pedido de dispensa de uma freira de 80 anos, ex-superiora provincial de sua
congregação, que deixou o convento porque, conforme alegou, queria realizar seu
ideal de maternidade. Ela saiu e adotou um bebê de três meses.
Outro problema sério para a vida
religiosa é o da autoridade, ligada ao voto de obediência. "Há muitas
autoridades (ou superiores de comunidades) que são opressoras", afirmou o
cardeal. Ele citou o exemplo de uma superiora-geral que ocupa o cargo há 35
anos e não abre mão dele, com graves consequências para suas subordinadas.
"Há casos de superioras que mudam as regras da constituição da congregação
para morrerem superioras", lamentou.
A obediência é necessária, disse Dom. João aos religiosos e leigos de vida consagrada, mas deve ser exercida entre
irmãos. "Superiores que não aceitam conselhos não prestam", advertiu. O bom entendimento, no exercício
da autoridade, deve se estender aos mais jovens, aos quais se deve dar
responsabilidade e poder. "Que o jovem não tenha medo de ir se
aprofundando na vida comunitária, no período de formação."
Dom. João de Aviz advertiu também
para o perigo do dinheiro, que algumas ordens e congregações religiosas
acumulam, apesar de seus membros fazerem voto de pobreza. "As instituições
religiosas detêm 52% do patrimônio do Banco do Vaticano (IOR ou Instituto para
as Obras de Religião), dinheiro não está faltando", disse.
Como exemplo, ele citou, sem
revelar o nome, o caso de uma congregação que, embora com voto de pobreza, tem
30 milhões de euros no banco. O cardeal foi muito aplaudido
pelos religiosos e leigos consagrados, depois de uma hora e meia de palestra. A
presidente da seção paulista da Conferência dos Religiosos do Brasil
(CRB-SP), irmã Ivone Lourdes Fritzen, elogiou a franqueza e transparência de Dom.
João na exposição sobre a situação e os desafios dos religiosos no mundo.
O cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom. Odilo Scherer, aplaudiu as palavras do prefeito da Cúria Romana. Em seguida,
os dois celebraram missa ao lado de bispos e sacerdotes da arquidiocese e de
outras cidades.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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