Casal de babalorixá e evangélica dá lição de tolerância religiosa – Por Marcionila Teixeira
Sandro e Márcia estão juntos há
vinte anos. Casaram no civil e tiveram três filhos. Dia desses, o filho mais
velho do casal, com 16 anos, fotografou os pais um ao lado do outro.
Sandro
gostou do resultado. Pegou as imagens e divulgou nas redes sociais. Rapidamente,
a postagem ganhou repercussão. As fotos tocam em um ponto polêmico em qualquer
parte do mundo: a religião. Ele, babalorixá, e ela, evangélica. Ambos negros,
defendem a convivência pacífica e respeitosa entre pessoas de crenças
diferentes. São uma exceção à regra. Um exemplo de sabedoria.
O casal mora em um terreiro de
candomblé e jurema, no bairro do Ibura de Baixo, no Recife, mantido por Sandro
dos Santos Lima, 43, mais conhecido como Sandro de Jucá. Nos dias de toque,
Márcia Justino da Silva Lima, 37, conta receber com prazer os adeptos da
religião do marido.
“Nunca senti rejeição, apesar de já ter ouvido comentários
maldosos. Para mim, o demônio existe no coração e na cabeça de cada um e não na
religião. Ele está na violência, no preconceito, quando a gente trata mal o
próximo, não ama o semelhante”, reflete Márcia, seguidora da Igreja Batista
Remidos do Senhor.
Sandro já foi às festas da igreja
frequentada pela companheira e, além disso, leva Márcia para o culto. “Já
cheguei a notar alguns olhares, mas precisamos entender que a diferença é que
nos une. Juntos, somos fortes. Os pastores têm que ter consciência de que nossa
liturgia é diferente da deles, acabar o preconceito. Podemos viver bem. Eu com
meu ‘saravá’ e ela com o ‘aleluia’”, pontua.
Na avaliação de Sérgio Douets, professor do doutorado em ciências da religião da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), os maiores grupos fundamentalistas do mundo hoje pertencem a três religiões monoteístas.
Na avaliação de Sérgio Douets, professor do doutorado em ciências da religião da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), os maiores grupos fundamentalistas do mundo hoje pertencem a três religiões monoteístas.
“Tem o
monoteísmo judaico, a situação complexa no mundo islâmico e o cristianismo,
seja ele católico ou evangélico. Juntas, têm o mesmo pai na fé,
que é Abraão. No Brasil, há católicos conservadores que criticam o papa
Francisco por conta das reformas, do diálogo entre as religiões. Já o neopentecostalismo
de matriz evangélica, surgido nos últimos trinta anos, enfatiza, além do
Espírito Santo e da cura, a prosperidade, sinal de bênção de Deus. Esses
últimos são os mais agressivos na intolerância frente às outras religiões”,
raciocina.
Diante de ações impetradas no
Ministério Público de Pernambuco (MPPE), alguns radicais têm limitado os
discursos de intolerância apenas aos cultos.. “A questão é que eles se apropriam de símbolos de religiões de matrizes africanas e vendem em nome de Jesus, como o branco do pastor. Para o professor, é preciso buscar a interreligiosidade"
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