Política, Religião, Família – Por Padre Belmiro
“A religião é de importância
estratégica capital na política do planeta”, assim conclui o relatório da
Fundação Churchill, divulgado em fins de Outubro. Sendo assim, interroga-se Liz
Dodd, “porque é que tantos chefes políticos são religiosamente analfabetos”?
Isto, que se verifica na Europa
Ocidental, não tem nada a ver com o resto do mundo, que se vai tornando cada
vez mais religioso. Segundo os dados de que dispomos, referentes a 2010, uma fé
religiosa é confessada por 84,6% da população mundial.
As maiores religiões,
nos últimos 30 a 40 anos, não só não diminuíram em números, mas aumentaram
consideravelmente: os cristãos passaram de 1,2 para 2,1 mil milhões, os
muçulmanos de 554 milhões para 1.300 milhões.
Nesta sociedade, de secularismo
exclusivo, como Deus foi expulso da praça pública e da linguagem oficial, de
igual modo a pessoa foi expulsa do indivíduo. O analfabetismo religioso é
também de ordem filosófica e antropológica.
E a família? Como é a célula
fundamental da sociedade, merece um sério tratamento da parte dos políticos. À
maneira do que fez a Igreja, no Sínodo sobre a família. Mary McAleese, que foi
presidente da Irlanda, declarou que os mentores e chefes políticos, para seu
próprio bem, não podem ignorar a religião, sobretudo num mundo em que as
tensões do Médio Oriente explodem em Nova Iorque, Madrid, Londres e Paris. O
mesmo vale para a família.
O documento final, apresentado em
94 parágrafos, não fornece respostas de ’sim’ ou ’não’ para os temas mais
controversos, como a comunhão aos divorciados e os homossexuais. O Sínodo não
impõe decisões ao Papa, a sua função é prestar-lhe conselho. Por isso, o Sínodo
começa agora, no vasto campo de manobras do Papa Francisco. Espera-se um
documento seu para o Ano Jubilar da Misericórdia, cujo início é no próximo dia
8 de Dezembro.
Apesar de posições inconciliáveis
de vários bispos, a acta final foi aprovada pela maioria de dois terços. A
Igreja mudou, como se exprimiu o cardeal Danneels, recordando o anterior sínodo
sobre a família, em 1980.
Não é um documento definitivo,
apenas uma imagem, um instantâneo da Igreja a caminho. Mais um gesto profético
deste bravo Bispo de Roma. Numa intervenção durante o processo, Francisco
afirmou que a Igreja se deve tornar sinodal, isto é, à escuta do povo.
O que se
verifica mesmo nos pontos mais debatidos, como a comunhão aos divorciados. Os
baptizados, divorciados e casados de novo pelo civil que sejam integrados na
comunidade cristã, por todos os meios possíveis, procurando, é claro, evitar o
escândalo. Baptizados, são nossos irmãos e irmãs, habitados pelos dons e os carismas
do Espírito Santo.
Da homossexualidade, diz o
documento que cada pessoa deve ser tratada e acolhida, sem ter em conta a
orientação sexual, com respeito pela sua dignidade, procurando evitar “todo o
sinal de injusta discriminação”.
A coabitação expandiu-se, em
parte devido ao sentimento geral contra as instituições e responsabilidades
definitivas, mas também porque os jovens decidiram esperar pelo tempo em que
alcancem a segurança material, e pessoal, com trabalho e salário fixos. Nalguns
países, a coabitação resulta da pobreza de muitos, que consideram o casamento
como um luxo social inacessível para eles.
Que estas situações sejam
encaradas de maneira construtiva, preconiza o documento, transformando-as em
oportunidades na caminhada para a plenitude do matrimónio e da família. Também nos merece atenção a
importância reconhecida ao foro interior, a consciência de cada um.
O acompanhamento eclesial, por
exemplo de um sacerdote, deve ajudar os fiéis a formar um estado de consciência
da sua situação diante de Deus. E há reflexões que podemos acrescentar. Por
exemplo, onde está verdadeiramente o sacramento do matrimónio: na troca do
consentimento ou na comunhão consumada de vida e amor?
Os sinais sacramentais,
pão e vinho consagrados, se deixarem de ser realmente comida e bebida, deixam
de ser a realidade da presença eucarística. Não se poderá dizer a mesma coisa
do matrimónio, se, por culpa ou fraqueza humana, a comunhão de amor e vida
cessarem de existir?
Fonte: https://www.wort.lu
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