Dicionário conta história da Teologia da Libertação – Por Cristina Fontenele
Escrito quase na totalidade por
teólogos latino-americanos, está em finalização o Dicionário Histórico da
Teologia da Libertação (TdL), que será lançado para o mundo francófono (Europa
e Canadá), pela editora belga Lessius, com o apoio de professores eméritos.
Com previsão para setembro do
próximo ano, a obra será produzida nas versões francês, castelhano, português e
inglês. O trabalho, que já dura três anos, tem o objetivo de apresentar um
panorama da evolução da TdL desde o seu surgimento, na época do Concílio
Vaticano II [1965], até os dias atuais.
Luis Martínez, teólogo chileno
que vive em Bruxelas, na Bélgica, e um dos coordenadores do projeto, explica
que o dicionário está organizado em três grandes blocos. A primeira parte
desenvolve 10 temas principais da TdL, como, por exemplo, o tema: Libertação,
que foi escrito por Leonardo Boff; Cristologia, pelo teólogo Jorge Costadoat,
de Santiago [Chile]; e comunidades de base, por Socorro Martínez, da Ameríndia.
"A Gutierrez [Gustavo
Gutierrez, considerado o pai da TdL] não pedimos nada, o deixamos tranquilo,
mas ele está muito presente em todo o dicionário. Há uma nota bibliográfica, a
maior, sobre ele, assim como a de Boff”.
Martínez, por sua vez, escreveu
uma nota sobre o sacerdote chileno Ronaldo Muñoz. "Ele foi meu professor,
estudamos Teologia e fundamos juntos a Comunidade Teológica do Sul. Em geral,
quem escreveu sobre alguém é porque o conhecia”.
Em um segundo bloco, o livro faz
um desenvolvimento geográfico da TdL por país e, na terceira parte, são
apresentadas em torno de 150 biografias, entre bispos, teólogos, mártires e
laicos, que acompanharam a TdL e a mantiveram com sua prática.
Este último bloco é precedido de
uma introdução histórica, com os obstáculos, as resistências e as conquistas
alcançadas pela TdL. Martínez relata que praticamente todos os teólogos
presentes no II Congresso de Teologia da Ameríndia, realizado em Belo
Horizonte, em Outubro deste ano, escreveram algum verbete para o dicionário.
"90% da obra foi escrita por
teólogos latino-americanos, que falam sobre os próprios colegas e sua
realidade. É como escutar uma família falando dela mesma”.
Com a chegada de Papa Francisco,
Martínez destaca que a Teologia da Libertação volta a ser "posta sobre a
mesa”, quando era creditada por muitos como uma Teologia "morta”. A
principal expectativa com o lançamento do Dicionário é, de acordo com o
teólogo, apresentar ao resto do mundo um caminho sólido percorrido pela América
Latina, a partir da grande recepção do Concílio, sobretudo, à Igreja europeia,
que enfrenta muitas dificuldades e está "quase morrendo”, "agônica”.
Segundo Martínez, a Europa é
muito etnocêntrica e acredita que não há nada o que aprender com o resto do
mundo. "Então, não quisemos entrar em um debate de ideias, mas mostramos
os fatos, que são irrefutáveis”, diz o teólogo sobre as discussões em torno do
Dicionário e da história da TdL. Para ele, a ideia do projeto foi proporcionar
um diálogo entre os teólogos latino-americanos, que contam sua própria história
a irmãos de outros lugares.
Nesse contexto, a figura do Papa
Francisco, que, segundo Martínez, não é um teólogo da Libertação, mas um fruto
também da tradição latino-americana, pode dar um novo impulso à Igreja, que se
vê, agora, revitalizada. Com "vontade de sair” e dizer aos
"poderosos” que o caminho por eles tomado não surte efeito, sendo necessário
salvar a Terra, salvar os pobres.
O teólogo destaca que a América
Latina é viva e cheia de esperança, com projetos, e gente que luta, apesar das
dificuldades inegáveis em nível social e também de Igreja. Em contraponto, a
África está envolta em guerras e desolação, enquanto a Europa tem se fechado em
sua riqueza, como uma fortaleza. Dessa forma, Martínez percebe que a América
Latina pode ser um convite a se acreditar que um outro mundo é, de fato,
possível.
Cristina Fontenele - Repórter- E-mail: cristina@adital.com.br e crisfonte@hotmail.com
Fonte: http://site.adital.com.br
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