Religião é cultura e a cultura não se suspende – Por Daniel Oliveira
A minha divergência com os
religiosos prosélitos é que recuso uma sociedade onde uma religião tem direitos
especiais sobre todas as restantes.
A minha divergência com os laicos
militantes é considerar artificial a tentativa de expulsar a religião do espaço
público (incluindo as escolas). O que moveu o diretor do Instituto Garofani,
que tentou transformar um concerto de Natal numa festa de Inverno para que uma
grande minoria de crianças muçulmanas não se sentisse excluída, não só foi bem
intencionado como essencialmente correto.
O problema é que em vez de criar
pontes entre crianças e pais cristãos e muçulmanos tentou amputar uma parte da
sua cultura. Em vez de exibir a diferença para a tornar compreensível, tentou
escondê-la. Tentando respeitar as crianças muçulmanas (que não são convidadas
na escola onde estudam), o diretor não ajudou a construir pontes.
Pelo contrário, aprofundou o
fosso. Em vez de tentar que cristãos e muçulmanos conhecessem, compreendessem e
respeitassem as suas diferenças, tentou eliminá-las do espaço público. Melhor
seria que se as crianças cristãs tivessem oportunidade de assistir e conhecer
celebrações muçulmana da mesma forma que os muçulmanos podem assistir e conhecer
as celebrações cristãs
O diretor do Instituto Garofani
de Rozzano, próximo de Milão, decidiu cancelar as festividades de Natal por
respeito às várias culturas e credos dos alunos. Cerca de 20% de estudantes não
são cristãos, sendo que a maioria pertence a famílias muçulmanas. É,
compreende-se, demasiada gente para ser ignorada. Não é verdade o que se
escreveu em muitos jornais: o Natal não foi cancelado naquela escola.
Apenas o concerto de Natal das
crianças do primeiro ciclo foi adiado para 21 de Janeiro e passou a ser um
concerto de Inverno, sem temas com conteúdos religiosos. E o responsável
rejeitou a proposta de duas mães que queriam ensinar canções de Natal a
crianças de famílias a quem o Natal nada diz. No entanto, as festas de Natal de
cada sala continuaram a existir.
A decisão do diretor do
instituto, Marco Parma, não caiu do céu aos trambolhões. Como explicou, no
último concerto de Natal as crianças muçulmanas não cantaram, ficaram apenas
paradas, absolutamente rígidas. E várias foram chamada pelos pais para sair do
palco.
Marco Parma não inventou um
problema onde ele não existia. Tentou resolvê-lo, procurando transformar aquela
festividade, numa escola multirreligiosa, numa coisa que não excluísse uma
parte significativa dos alunos. Defendeu que o “respeito pelas sensibilidades
daqueles que pensam de forma diferente, têm culturas e religiões diferentes, é
um passo em frente para a integração”. E a sua decisão contou com o apoio dos
professores.
Fonte: http://expresso.sapo.pt
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