Especialistas afirmam que má interpretação de escrituras gera violência - Por Leiliane Roberta Lopes
Livros como o Alcorão, a Torá e a
Bíblia seriam usados de forma errada por grupos minoritários que não
representam a totalidade de suas religiões.
O UOL ouviu alguns especialistas sobre
o uso de textos do Alcorão para justificar a violência dos extremistas
muçulmanos e no entendimento deles, trata-se de forma errônea de interpretar o
que está escrito no livro sagrado dos islâmicos.
O historiador Pedro Lima
Vasconcelos, professor de pós-graduação de história da UFAL (Universidade
Federal de Alagoas), chega a citar que tanto o Alcorão, quanto a Bíblia e o
Torá são suscetíveis a várias interpretações.
“Dizer que muçulmanos são
radicais e propensos à violência é uma construção ideológica do ocidente”,
disse ele. Para o historiador, é preciso tomar cuidado para não condenar todos
os muçulmanos pelos atos de uma minoria.
Peter Demant, professor de
história e relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo) também
concorda com este posicionamento. “A maioria dos grupos terroristas da
atualidade é formada por muçulmanos, mas isso não significa que a maioria dos muçulmanos
seja terrorista”, afirma ele que é autor do livro: “O Mundo Muçulmano” (Editora
Contexto).
O especialista garante que é a
pequena parcela dos seguidores do Alcorão que utilizam os versículos que
incitam a guerra para fazer terrorismo. “Uma pequena parcela da comunidade de
1,5 bilhão de muçulmanos é extremista. Dentro dessa minoria há uma parcela
ainda menor de fiéis que usa a religião para justificar atos terroristas”,
disse. “A grande questão é que eles acabam dominando as manchetes com suas
ações”, acrescenta Demant.
Outro especialista ouvido foi o
historiador da Penn State University (EUA) Philip Jenkins, ele compara a Bíblia
e o Alcorão e diz que todas as religiões “crescem, amadurecem e passam por um
processo de esquecimento da violência original”, o que seria aniquilar os
próprios pecados acaba sendo interpretado de outras maneiras no exemplo do
estudioso.
A pesquisadora do Centro de
Estudos Judaicos da USP (Universidade de São Paulo), Marta Francisca Topel, diz
que além dos muçulmanos, grupos fundamentalistas israelenses também usam textos
sagrados para justificar suas ações violentas.
“Nas últimas décadas, grupos
fundamentalistas israelenses, a exemplo de Gush Emunim [o Bloco dos Fiéis], têm
perpetrado ataques contra palestinos justificando-os em interpretações de
trechos bíblicos realizadas pelos rabinos mentores do movimento”, explica ela
que faz parte do Centro de Estudos Judaicos da UOS.
“Existem numerosas passagens na
bíblia hebraica que, de fato, podem ser interpretadas literalmente de modo a
incitar a violência. Para melhor compreender isto é necessário lembrar que o
livro foi escrito em diferentes épocas”.
Já o professor de ciência da
religião da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Frank
Usarski, cita que no Sri Lanka há uma crônica popular que é utilizada para
justificar o combate aos não-budistas.
“Esse texto conta a história de um rei
que destrói os inimigos do budismo. Uma referência que acaba alimentando a
violência contra os ‘invasores'”, afirma o pesquisador do Centro de Estudo de
Religiões Alternativas de Origem Oriental.
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