Vão chegar para o meio de nós refugiados do Oriente – Por Pe. Cunha Sério




Com a abertura das fronteiras tornadas acessíveis aos refugiados do Médio Oriente, em grande parte seguidores da religião maometana, vamos conviver com árabes cujas tradições religiosas não coincidem com a fé cristã e, nos últimos tempos, grande número deles têm associado preceitos de honrar a Deus com desejos de arregimentarem às suas crenças, mesmo à força e com os poderes de guerra, todos os outros homens seus concidadãos.

Não que todos os islamitas de agora ou dos tempos passados hajam sido ou agora se tenham convertido em grupos obstinados na sua fé. A história aponta-nos muitos exemplos de seguidores de Maomé muito respeitadores das ideias interiores dos outros, sem abusarem da força para converterem os seus companheiros de vida.

A convivência pacífica com outros povos e raças é conhecida desde o tempo do seu fundador, e, mesmo no livro aceite como revelação divina não encontramos preceito impondo tal doutrina. Consultando as crenças de outras gentes, por vezes, descobrimos guerras e litígios verdadeiramente provocados por regras religiosas, atormentando importunamente sequazes de outros credos. Ao longo dos séculos, aqui e além, poderemos divisar até cristãos. 

Apesar de quanto se diz ou relata, nem sempre os discípulos de Maomé são aguerridos e belicosos por causa da defesa de suas crenças.

A paz da convivência religiosa é também tradição da sua forma de ser, como o demonstra frequentemente a história, sobretudo nos tempos em que conviviam com cristãos, no território ocupado hoje por nós. 

Na reunião do Vaticano II, os padres conciliares não os intitularam obstinados e pertinazes nas suas ideias. Escreveram até, acerca destes crentes, com muita lisura:

“A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. (...) Embora sem o reconhecerem como Deus, veneram Jesus como profeta, e honram Maria, sua mãe, a sempre virgem, que, por vezes, invocam devotamente”. (...) Têm, por isso, em apreço a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com a oração, a esmola e o jejum”.

A palavra Islão que se pode traduzir na nossa língua por: “submissão à vontade de Deus” cujo livro de fé se chama o Corão, aceitou até pelo profeta seu fundador muitos pareceres seguidos por várias religiões geralmente de origem local. 

Para exemplo, a ‘Ka’aba’, casa de Alá, situada em Meca, é recebida de outra seita mais antiga com grande regozijo dos povos locais. Encontramos no livro profético, o mais importante da sua revelação, muitos dos dogmas herdados da religião judaica e mesmo do Evangelho de Jesus.

O seu ritual impõe cinco bases fundamentais: a profissão de fé: “Alá é Deus e Maomé o seu profeta”, a oração a rezar cinco vezes ao dia, conforme os dizeres do livro sagrado; a esmola dada pelos ricos em favor dos pobres, o jejum do mês de Ramadão, no qual nada se pode comer nem beber, desde o nascer da aurora até ao pôr do sol, e a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida.

As principais fontes da sua fé e dos seus costumes religiosos foram bebidos no Corão e na Suna, onde se guardam as tradições mais primitivas. Baseados nelas os doutores, teólogos e juristas, fizeram uma vastidão de leis, nem sempre seguidas por todos, mas que dividiram, numa profusão de seitas e grupos, os sequazes da crença pregada por Maomé. 

Nas facções com mais prestígio em que hoje se divide a comunidade islâmica contam-se os sunitas e os xiitas nascidos logo após a morte do Profeta em querelas de discípulos e parentes, que tentavam apoderar-se da sucessão do profeta. Até ao século XI, permitiram a liberdade de opções políticas e mesmo religiosas que admitia uma agradável convivência com cristãos e judeus.

Mais tarde, acharam-se no dever de converterem à força mesmo do poder bélico, quem não seguisse a doutrina e os mandamentos inscritos no Livro. Podemos indicar ser a sua fé mais firmada em actos exteriores, ainda que possamos contar, na sua história, com bastantes místicos e devotos.

Como hoje os meios de comunicação cedem muito espaço às referências e notícias bélicas, espalham mais facilmente as guerrilhas religiosas do que os diálogos e acordos harmoniosos entre diferentes partes. A todos nós compete promover o bom entendimento dos seguidores de qualquer religião, afastando os mal-entendidos, as disputas e as discórdias, mormente se põem em perigo as vidas humanas.

Trabalhar pela paz religiosa, promover o bom senso, mesmo entre altercações e discórdias de outras religiões para assegurarmos a paz social e amigável entre todos. O respeito, o apreço e a estima são regras hodiernas de convivência humana.

Mesmo que entrem na nossa convivência muitos muçulmanos ajudemo-los a serem gentis e correctos na convivência civil e religiosa.





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