Jovens dominicanos aliam a mística da fé com dimensão da ação – Por Jilwesley Almeida
A Ordem Dominicana celebra seus
800 anos de fundação no mundo neste ano de 2016. Para falar sobre a teologia
praticada pelos frades dominicanos, a Adital entrevistou o Movimento Juvenil
Dominicano (MJD).
Aproveitamos a oportunidade para
saber também a importância doe Frei Tito de Alencar para o fortalecimento dos
princípios dominicanos no Brasil. Para o MJD, lembrar de Frei Tito faz com que
se tenha consciência de que a ditadura militar ainda não acabou por completo no
Brasil. E que a sociedade precisa estar atenta e agir contra os casos de
violência praticados pela polícia militarizada.
Confira a entrevista:
Adital - Como a teologia praticada pelos frades dominicanos é
trabalhada na juventude atual?
Todo dominicano é chamado a ser
testemunho e pregador da "Verdade” no ambiente em que está inserido.
Também nós, do Movimento Juvenil Dominicano, somos impulsionados por este
carisma, tal qual os dons que cada um possui para uma melhor pregação na
realidade que vivemos, familiar, acadêmica e profissional.
O que acontece, naturalmente, é
uma adaptação de linguagem e metodologia, visando à integração e aproximação
com o universo do público jovem. Entretanto, são preservados os elementos
essenciais dessa fé que liberta, e que pode ser praticada pela Igreja.
Adital - Qual o diferencial da teologia praticada pelos dominicanos em
relação às demais?
A Igreja é muito ampla e muito
diversa, portanto, existem muitas formas de ser cristão. A maneira dominicana
de seguir Jesus Cristo está baseada em alguns pilares, que são: vida de oração,
pois não podemos falar de Deus sem conhecê-lo; vida de estudo, pois a razão e a
ciência também nos ajuda a conhecer Deus, além de nos capacitar para uma melhor
pregação; a vida comunitária, pois encontramos Deus no próximo e a comunidade é
um espaço privilegiado para isto; e a compaixão, tudo para que a pregação
ocorra da melhor forma possível, sendo voltada para o mundo, e não para nós
mesmos.
Adital - Qual foi a importância de Frei Tito para o fortalecimento
desse carisma no MJD Brasil?
Respondendo à sua vocação, Frei
Tito foi uma pessoa inserida no mundo e nos conflitos da sua época, engajado na
luta pela verdade e pela justiça. Ao olhar para sua história, o MJD tem um
exemplo de compromisso, tanto com as questões da atualidade, quanto com o
seguimento de Jesus Cristo. Ele nos inspira para a continuidade dessa luta por
um mundo mais fraterno, onde a opção pela verdade e justiça guie nossas ações.
Fazer a memória de Tito é tomar
consciência de que a ditadura ainda não acabou por completo, em nosso país. É
trabalhar para abrir os olhos da sociedade com relação aos inúmeros casos de
violência da nossa polícia militarizada, no trato com as periferias, com as
comunidades indígenas, camponesas e quilombolas, com os manifestantes que
preenchem as ruas, clamando por direitos sociais e políticas públicas.
Reconhecer que o Estado e o empresariado opressor, que regem com maestria essa
violência, precisam mudar a maneira de governar.
Adital - Como se trabalha a formação política e de direitos humanos
dentro do movimento da juventude dominicana?
Dentro da visão da doutrina
social da Igreja, como um meio e não como um fim. Como cristãos, acreditamos
que a vida humana é a prioridade absoluta, portanto, desejamos um mundo onde os
direitos humanos sejam refletidos em ações concretas. A ação política é o único
meio de concretizar esses valores, portanto, ela é muito importante para o MJD,
pois é um meio de alcançar muitos dos nossos sonhos comuns. Nossa essência é o
seguimento a Jesus Cristo e não a um partido político, como tem mostrado, de
maneira muito inteligente, o Papa Francisco.
Adital - Como se trabalha essa teologia fora do movimento dominicano?
Queremos ser presença de Deus na
sociedade, não para "converter os infiéis”, mas para mostrar à sociedade
que é possível ser cristão, ser politizado, estudar ciências, sem ser
contraditório e ainda sendo feliz com essas escolhas. Aos que se aproximam e
desejam conhecer, as portas estão sempre abertas, aos que têm objetivos em
comum, como questões ligadas aos direitos humanos ou outras, estamos dispostos
a trabalhar juntos e dialogar, mesmo com diferenças em relação à fé.
Adital - Que experiências o contato com a sociedade proporciona aos
jovens dominicanos?
Os jovens do MJD já estão na
sociedade, somos um movimento de leigos, os jovens estudam, trabalham, como
quaisquer outros jovens. Enquanto MJD, temos oportunidade de conhecer
realidades diferentes e trocar experiências.
Adital - Quais os efeitos do exercer dessa teologia na juventude?
Exercer este carisma nos leva a
ter um olhar mais misericordioso sobre as diversas situações que acontecem na
nossa sociedade. Ter uma fé relacionada ao mundo concreto nos coloca exatamente
onde somos chamados a pregar, para a sociedade, fica o testemunho de que ser
cristão, para nós jovens, o rosto de Cristo em cada pessoa que sofre com as
injustiças e desigualdades do nosso mundo.
Adital - Quais foram os maiores desafios para a família dominicana
durante a ditadura militar? E que obstáculos são enfrentados hoje?
Não temos propriedade para
discorrer sobre a experiência de toda a família. O que conhecemos, porém, são
as histórias de luta pela liberdade de alguns dos nossos irmãos dominicanos,
como Frei Tito, Frei Oswaldo Rezende, Frei Betto, etc. Pessoas que doaram a
própria vida - no caso de Tito até as últimas consequências - pelo bem comum,
pelas outras vidas.
Um dos principais desafios que o
MJD vive é o de integrar a dimensão mística da vida com a dimensão da ação.
Somos um grupo de Igreja, ligada a uma ordem religiosa, que tem uma vida de
oração, mas não queremos estar apenas dentro das igrejas, queremos sair, mas
sem deixar de ser cristãos.
Adital - Como o movimento de juventude dominicana avalia a sociedade
atual, quando se trata da busca por espiritualidade, fé e contato com o
ambiente religioso?
Na sociedade atual, vivemos, como
diz Bauman, tempos líquidos, na sua grande maioria, as pessoas buscam coisas
que passam rapidamente diante delas, aproveitam ao máximo e depois a descartam;
infelizmente, a sociedade também encara a busca pela espiritualidade, fé e
ambiente religioso desta forma, dificilmente, encontramos algo profundo e
sólido na realidade em que vivemos, este é mais um dos desafios que temos ao
assumirmos um carisma, que tem a pregação como estilo de vida.
Fonte: http://site.adital.com.br
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