Discurso pejorativo sobre o professor – Por Wellington Soares com edição de Elisa Meirelles
Um estudo realizado pela USP
mostra que os meios de comunicação colocam o professor como alguém despreparado.
Entenda como isso impacta a Educação.
Ao falar sobre o docente da
Educação Básica, a maioria dos veículos de comunicação reproduz um discurso
negativo, apresentando esse profissional como alguém mal formado, com baixo
capital cultural e social e que, portanto, precisa ser substituído.
A conclusão
é da tese de doutorado da pesquisadora Kátia Zanvettor, defendida na Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Esse discurso pejorativo - que
recai não só sobre os professores, mas sobre a Educação como um todo - deixa de
lado avanços históricos e tira o valor das experiências de sucesso que estão
presentes em todo o país.
Indicadores positivos para falar
da Educação brasileira não faltam: nas últimas décadas, a taxa de analfabetismo
caiu de 20% para 2,5%; as matrículas chegaram a 97,6% entre as crianças de 6 a
14 anos; o orçamento do Ministério da Educação foi duplicado; mais de 11
milhões de jovens e adultos foram alfabetizados e o acesso ao Ensino Superior
melhorou.
Isso não quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos, mas os
avanços não podem ser esquecidos. Como enfatiza Cleuza Repulho, presidente da
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) "precisamos
garantir uma Educação pública de qualidade a uma quantidade grande de pessoas.
Já o fazemos em muitos lugares, mas, infelizmente, isso não é notícia".
5 maneiras de valorizar os
professores mais experientes
A falta de espaço nos meios de
comunicação para falar sobre as conquistas de bons professores contribui para
criar uma imagem negativa de quem trabalha diariamente na área. Ao retratar
somente os problemas e colocar o docente como único responsável pelo fracasso
escolar, tira-se o mérito dele. Ao mesmo tempo, os novos profissionais não tem
estímulo para entrar nas salas de aulas.
A pesquisadora da USP constatou
que, mesmo quando querem falar de valorização docente, muitos jornais caem em
um discurso de que é preciso melhores salários e condições de trabalho para que
gente mais capacitada ingresse na docência e substitua os profissionais
"fracos e mal formados" em atuação. O argumento só reforça o descaso
com a Educação.
"Temos mais de dois milhões de docentes. São eles que
devem ter carreiras e salários adequados às suas responsabilidades",
defende Cleuza.
É importante, é claro, trazer
jovens cada vez mais preparados para a área, mas isso só pode ser feito se
começarmos a valorizar quem hoje está nela. O estudo Atratividade da Carreira
Docente, realizado pela Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com a Fundação
Carlos Chagas (FCC), mostra que os estudantes de Ensino Médio têm uma imagem
muito ruim da docência.
Eles percebem o professor como um profissional sem
prestígio, com baixo salário e carga horária excessiva. Sem atacar esses
problemas, não se pode falar de uma profissão atrativa de fato.
Valorizar a docência e oferecer
melhores condições de trabalho a quem está nela é vital para que a profissão
volte a ter o status que merece. A professora e deputada federal Dorinha Seabra
Rezende (DEM-TO) comenta que há falhas nos cursos de Magistério e nas
licenciaturas, mas ressalta a importância de se investir não apenas na formação
inicial, mas também na formação continuada.
"É preciso implantar cursos
que façam sentido para o professor, que preencham lacunas de conhecimento nas
áreas em que ele mais sente dificuldades no seu dia a dia", diz ela.
Em resumo, só olhar o lado
negativo, culpar os docentes pelos problemas que a Educação ainda enfrenta e
repetir o discurso de que o sistema educacional brasileiro é ruim não contribui
para melhorar esse panorama.
Mais do que apontar o dedo para quem está na ponta
final do processo, é importante colocar em destaque as muitas iniciativas de
sucesso, falar sobre as conquistas obtidas nos últimos vinte anos e debater os
desafios dentro de um cenário mais amplo. A melhoria da Educação é fundamental,
e só pode ser concretizada em parceria com o professor.
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