Igreja da Unificação prepara funeral do reverendo Moon
A
Igreja da Unificação iniciou os preparativos para o funeral de seu fundador,
Sun Myung Moon, mais conhecido no Brasil como reverendo Moon, que faleceu aos
92 anos.
A cerimônia acontecerá em
uma pequena localidade sul-coreana isolada, que deve receber milhares de
seguidores. Operários começaram a
pavimentar uma rua de duas vias e de um quilômetro de comprimento que leva ao
gigantesco complexo onde fica no quartel-general da Igreja, chamada por muitos
de seita, em Gapyeong, ao leste de Seul.
Nesta cidade acontecerá no
dia 15 de setembro o funeral do autoproclamado messias sul-coreano, que funcou
a controversa Igreja da Unificação e a transformou em um império bilionário. A partir de quinta-feira,
os fiéis poderão visitar um altar que será construído em uma sala do complexo.
Moon, que tinha sido
hospitalizado no mês passado depois de sofrer complicações em decorrência de
uma pneumonia, faleceu passadas as 2h00 de segunda-feira (hora local, 14h00 de
domingo, hora de Brasília), informou um porta-voz do reverendo à AFP.
Na sexta-feira, a seita
havia informado que seu fundador sofria de um problema crítico nos órgãos
vitais, que determinaram seu ingresso em terapia intensiva. No sábado, os
médicos informaram que Moon tinha entrado "um estado irreversível de sua
condição".
O corpo de Moon havia sido
transportado para um edifício de mármore branco, sobre uma colina que domina o
complexo. "Era nosso pai e o
messias de Deus. Seu corpo foi concebido por Deus e pensávamos que viveria 100
anos", declarou um colaborador.
Dezenas de fieis
manifestaram aflição no portal da igreja. "É como se o céu
caísse sobre nós e o mundo inteiro desabasse", escreveu um deles. "És o rei dos reis
eternos, o messias da humanidade, permanecerás para sempre em nosso
coração", destacou outro.
Bo Hi Pak, colaborador de
Moon durante décadas, espera o comparecimento de dezenas de milhares de fiéis
ao funeral, grande parte deles procedentes do exterior.
Sul-coreano, Moon nasceu em
uma família de agricultores em uma região que atualmente faz parte do
território norte-coreano. O reverendo dizia que aos 15 anos teve uma visão de
Jesus pedindo que completasse a missão interrompida pela crucificação.
Segundo trechos de sua
biografia publicada em seu site pessoal, ele foi torturado e mandado para um
campo de trabalhos forçados enquanto pregava na Coreia após a Segunda Guerra
Mundial. Foi libertado quando os guardas fugiram com o avanço das forças
americanas durante a Guerra da Coreia.
Depois de vagar pela cidade
de Busan, no sul, como um refugiado de guerra, ele teria construído a sua
primeira igreja nesta região, usando caixas de rações militares.
Rejeitado pelas igrejas
protestantes coreanas, Moon fundaria em 1954 sua própria congregação, a Igreja
da Unificação. Atualmente é uma das maiores e mais controversas comunidades
religiosas do mundo, sendo considerada uma seita em vários países.
A igreja tinha presença em
vários países da América Latina, como o Brasil, onde possuía mais de 40
terrenos no Mato Grosso do Sul.
"Meu coração está
muito triste e todos os membros de nossa associação devem estar na mesma
situação", declarou ao portal de notícias G1 Yasushiro Ishii, diretor da
igreja em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.
A organização reivindica
pregar em 200 países para três milhões de seguidores que se referem a Moon como
"o verdadeiro pai" e o consideram "o único Messias da história
humana".
Ensinamentos
questionados
Os ensinamentos de Moon são baseados na Bíblia, mas com novas
interpretações, e são considerados heréticos por algumas organizações cristãs.
"A visão de Deus de
Moon é essencialmente coreana, combinando xamanismo e padrões familiares
confucianos ao modelo cristão", escreveu Michael Breen em seu livro,
"The Koreans".
"Seu Deus é o pai
misericordioso que sofre em uma agonia solitária em um mundo de crianças
más", explicou o autor.
Os críticos consideram a
Igreja da Unificação, cujo nome oficial é Federação Familiar para a Paz no
Mundo e a Unificação, uma seita que pratica a lavagem cerebral de seus adeptos,
uma acusação rejeitada pela organização.
O movimento é conhecido
pelas cerimônias de casamento que reúnem milhares de casais. Seu vasto império
econômico abrange os setores da construção, da educação, da alimentação, da
engenharia e da imprensa. A organização possui, entre outros, o jornal
Washington Times.
Em um editorial, o
Washington Times elogiou o anticomunismo de Moon e sua defesa dos valores
familiares.
"Fé. Família.
Liberdade. Serviço. Os valores conservadores serviram como um comovente
memorial em homenagem à sabedoria do homem cujas visões e coragem ajudaram a
lutar as batalhas do dia", afirma o jornal.
Em 1991, Moon se reuniu com
o então líder norte-coreano Kim Il-Sung em Pyongyang. Fez negócios com a Coreia
do Norte, através de uma empresa associada à seita, Pyeonghwa (Peace) Motors,
que desde 1999 se dedica à construção de automóveis no norte da península.
Em 1974, ele se reuniu com
Richard Nixon na Casa Branca e, em um pedido polêmico, solicitou aos americanos
que perdoassem seu presidente no escândalo de Watergate.
O reverendo deixou 14
filhos, muitos dos quais trabalham em seu império. Hyung Jin Moon, o caçula dos
homens, o sucedeu em 2008, então com 28 anos, à fente do movimento.
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