Medicina, Religião e Saúde: O Encontro da Ciência e da Espiritualidade
Palestra:
Medicina,
Religião e Saúde: O Encontro da Ciência e da Espiritualidade.
14
de setembro – 8h30 – 13h00
Teatro
Bourbon Country
Porto
Alegre - RS
Cada vez mais pesquisas
científicas têm mostrado os impactos da religiosidade e da espiritualidade na
saúde dos pacientes. Com este Seminário propomos sensibilizar o público para a
interrelação entre religião, espiritualidade e saúde, assim como apresentar o
que se conhece na área até o momento, revisando as evidências científicas que
dão extrema atualidade a este tema.
Até recentemente, médicos e
pesquisadores evitaram estudar as relações entre religião e saúde. Crenças e
práticas religiosas eram tidas como subjetivas, de pouca relevância, e seu
benefício, se havia algum, era não quantificável. Em decorrência disso, a
grande maioria dos profissionais da saúde ignora as necessidades religiosas e
espirituais dos pacientes.
No entanto, algumas mudanças têm
ocorrido. Os médicos têm se dado conta com crescente freqüência da importância
dos sentimentos religiosos para os pacientes no momento da doença, e tem havido
um grande aumento das pesquisas na área. Até o ano 2000, foram realizados mais
de 12200 trabalhos científicos relevantes nessa área.
O tema é relevante, já que uma
elevada porção da população é religiosa. Nos Estados Unidos, 96% acreditam em
Deus, 90% rezam, 70% são membros de igrejas, e 40% comparecem semanalmente a
serviços religiosos. No Brasil, embora os dados sejam menos detalhados, o censo
do IBGE 2000 detectou que existem mais de 157 milhões de pessoas que exercem
uma denominação religiosa, perfazendo cerca de 90% da população.
Conceito de
Religião/Espiritualidade
Várias definições têm sido
empregadas para conceituar religiosidade e espiritualidade. Essa
heterogeneidade de definições leva ao uso de uma grande variedade de
instrumentos para medir religiosidade e espiritualidade, tornando difícil a
análise comparativa. Essa falta de padronização tem sido um dos motivos para a
pequena valorização das pesquisas sobre o assunto, e a dificuldade de implantar
o cuidado espiritual de forma mais ampla no manejo dos pacientes. A recomendação
mais confiável é que se use os seguintes conceitos:
1. RELIGIÃO: é um sistema organizado de crenças, práticas,
rituais e símbolos, desenhado para aproximar do sagrado ou transcendente (Deus,
poder mais alto) e orientar as relações e responsabilidades com as outras
pessoas em uma comunidade.
2. ESPIRITUALIDADE: é a busca pessoal por sentido e significado
para a vida, que pode ou não estar relacionado à religião.
Benefícios globais da R/S. Muitas
pessoas se voltam p/ religião para lidar com situações estressantes ao longo da
vida. Foi demonstrado que, logo após o ataque terrorista às torres gêmeas, em
2001, aproximadamente 90% dos americanos se voltou para a religião para lidar
com a situação de stress. Da mesma forma, um grande número de pessoas usa a religião
para apoio e ajuda para lidar com problemas de saúde mental e física. Esse
apoio da religião tem se mostrado efetivo em reduzir o stress, minimizar a
depressão, e melhorar a qualidade de vida. Além disso, envolvimento religioso
se associa com melhores hábitos de saúde, menos drogadição, menos delinqüência
juvenil, e melhor desempenho escolar.
R/S e saúde física e mental.
Maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente a
indicadores de bem-estar psicológico (satisfação com a vida, felicidade, afetos
positivo e moral mais elevados) e a menos depressão, pensamentos e
comportamentos suicidas, uso/abuso de álcool e drogas. Esse impacto positivo
parece ser mais relevante entre pessoas sob estresse (idosos e aqueles com
deficiências e doenças clínicas). A soma das evidências permite afirmar que o
envolvimento religioso habitualmente está associado à melhor saúde mental. É
importante, porém que se busque uma melhor compreensão dos fatores mediadores
dessa associação e sua transposição à prática clínica diária. R/S tem sido
associada com melhores hábitos de saúde, como menos fumo e mais exercício.
Também tem sido ligada a menor taxa de acidente vascular cerebral, melhor
função imune, melhor perfil metabólico, e melhor evolução nos pacientes com
câncer.
R/S e mortalidade geral. Uma
meta-análise de 11 estudos longitudinais em grandes populações mostrou que a
freqüência semanal a serviços religiosos reduziu em 25% o risco de mortalidade,
mesmo após ajuste para variáveis demográficas, socioeconômicas e fatores de
risco cardíaco. Além disso, demonstrou que o mecanismo desse benefício parece
ser a maior prevalência de comportamentos saudáveis (não fumar, atividade
física, revisões médicas anuais, interação social, entre outros) 17. Essa associação
entre religião e redução da mortalidade foi confirmada por outros estudos
epidemiológicos de grande porte.
R/S e morte por doença cardíaca.
A relação entre religião/espiritualidade e doença cardíaca é um pouco mais
controversa. Assim, um estudo feito com mais de 10000 trabalhadores judeus
mostrou que os mais ortodoxos tiveram uma menor taxa de mortalidade cardíaca,
comparada aos agnósticos. Porém, alguns problemas metodológicos limitam a
confiabilidade desses dados. Já uma meta-análise metodologicamente adequada
sugere que a freqüência semanal a serviço religioso reduz a mortalidade
cardiovascular, e que o mecanismo dessa redução seriam os hábitos de saúde e
redução dos fatores de risco CV, estimulados pela religião. Por outro lado, um
estudo epidemiológico em grande população multi-étnica não mostrou associação
entre religião, espiritualidade e fatores de risco CV ou marcadores de
aterosclerose.
Cirurgia cardíaca. Em um trabalho
realizado com o objetivo de avaliar o impacto da depressão e do envolvimento
religioso nos desfechos após cirurgia cardíaca, foi demonstrado que houve menos
complicações pós-operatórias e uma menor permanência hospitalar no grupo de
religiosos. Em uma outra série de 232 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca
aberta, o envolvimento religioso e o suporte social reduziram a mortalidade no
pós-operatório em 6 meses (2,7%). Ausência desses dois fatores se associou a
mortalidade de mais de 20% no mesmo período. Em um estudo de intervenção
religiosa (com prece à distância, ou prece intercessória - PI), 1802 pacientes
submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica em seis hospitais nos
Estados Unidos, foram alocados aleatoriamente em três grupos: PI sem saber, PI
sabendo, e não PI. O resultado mais importante foi de que o grupo que sabia que
receberia PI teve uma taxa de complicações pós-operatórias significativamente
maior (27% a mais) que os demais grupos. A interpretação dos autores foi de
que, achando-se com mais risco por “estarem necessitando de prece”, os
pacientes tiveram uma descarga adrenérgica aumentada com as suas conseqüências
no pós-operatório.
Angioplastia coronária. O estudo
piloto MANTRA avaliou o efeito de terapias noéticas (redução de stress, imagens
relaxantes, terapia de toque, e prece) sobre stress e complicações após
intervenção coronária percutânea (ICP); na avaliação inicial, com 150
pacientes, houve redução de 25-30% de redução de desfechos
adversos/complicações; os pacientes mais beneficiados foram os que tinham
crença religiosa mais forte, os mais espiritualizados, e os mais ansiosos em
razão do procedimento. O MANTRA II foi um estudo randomizado prospectivo,
testando as mesmas intervenções em 748 pacientes; não foi demonstrado efeito
das intervenções nos desfechos primários (eventos adversos cardíacos intra-hospitalares
e readmissão ou morte em seis meses.No entanto, houve redução significativa no
desfecho secundário de morte por qualquer causa no grupo MIT (música, imagens e
toque), com um Hazard Ratio de 0,35 (IC95 0,15-0,82). Como foi um achado em desfecho
secundário, essa redução da mortalidade deverá ser confirmada em outros
estudos.
Insuficiência cardíaca. Diversos
estudos observacionais avaliaram o efeito de R/S em aspectos diversos dos
pacientes com insuficiência cardíaca. Esses estudos demonstraram que há um
efeito benéfico do envolvimento religioso no bem-estar psicológico, qualidade
de vida e na carga de sintomas desses pacientes. No entanto, não há estudos
avaliando desfechos relevantes na insuficiência cardíaca (mortalidade,
complicações, reinternação por descompensação).
Este seminário tem como convidado
especial o Dr. Harold G. Koenig, co-diretor do “Center for Spirituality,
Theology and Health - Duke University Medical Center - USA” e um dos maiores
especialistas e pesquisadores na área de religião, espiritualidade e saúde. Os
demais palestrantes são da nossa comunidade e detém profundo conhecimento no
tema proposto.Dr. Harold G. Koenig é diretor do Centro para Teologia,
Espiritualidade e Saúde e Professor de Psiquiatria e Ciências do Comportamento
da Duke University, nos Estados Unidos. Fez sua formação na Universidade de
Stanford e graduou-se em medicina na Universidade da Califórnia, em São
Francisco.
Dr. Koenig é o maior especialista
no campo da espiritualidade e sua influência sobre a saúde, com mais de 40
livros, 300 artigos científicos e 60 capítulos de livros publicados. Suas
contribuições demonstram cada vez mais o encontro da ciência com a
espiritualidade.
Teatro Bourbon Country
Rua Túlio de Rose, n° 80
Bairro Passo da Areia
Porto Alegre - RS
CEP 91340-110
Fone/Fax: (51) 3375.3700
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