Idealismo, religião e o legado do grande mestre para a Bahia – Por Flávia Faria
Poucos sabem, mas Oscar Niemeyer
tem duas obras assinadas em Salvador.
A primeira delas é a escultura no túmulo
de Carlos Marighella, localizada no Cemitério Quinta dos Lázaros. A segunda é a
enigmática Praça de Oxum, inaugurada em 1993 e que se situa no Terreiro da Casa
Branca (Ilê Axé Iyá Nassô Oká), na Avenida Vasco da Gama.
No largo pertencente ao terreiro,
existia um posto de gasolina. Foi a mobilização da comunidade e de intelectuais
como D. Timóteo Amoroso Anastácio e Pierre Verger que reconquistaram o espaço.
Segundo o antropólogo e Ogã do
Terreiro da Casa Branca, Ordep Serra, a melhor opção para a recuperação do
terreno era conseguir que algum arquiteto fizesse gratuitamente o projeto da
futura praça. "Como um presente mesmo", diz.
Surgiu, então, a proposta de que
Niemeyer assinasse o desenho. Faltava oficializar o convite. "O contato
com Niemeyer foi feito pelo então deputado Fernando Santana, que era muito
amigo dele. E aí foi uma comitiva fazer pessoalmente o pedido", explica o
antropólogo.
Búzios
Também integrante da
comitiva, o ex-secretário de Cultura e poeta José Carlos Capinan afirma que a
indicação do arquiteto seria um benefício para o terreiro e para o Estado.
"Nós achávamos que ele
precisava assinar alguma coisa na Bahia. Além disso, só mesmo Niemeyer para
presentear Oxum com a beleza que ela tanto gosta", conta. Segundo conta a
ekedi Sinha, foi feito um jogo de búzios para Oxum, que teria dado
especificações sobre a praça, como a necessidade de um espelho d'água, de uma
cajazeira e de um tipo específico de mangueira.
Intolerância
Para o antropólogo
Ordep Serra, a atenção dispensada pelo mestre da arquitetura à casa simboliza a
luta pela valorização da religião. "Ora, uma das mentes mais brilhantes da
arquitetura brasileira, conhecido internacionalmente se interessou pelo
terreiro. Isso foi um golpe no preconceito", afirma.
Fonte: http://atarde.uol.com.br
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