O CARÁTER CONFESSIONAL DAS UNIVERSIDADES CATÓLICAS - Por Edson Sampel*
Numa universidade confessional
católica, não se abdica da ciência. Muito pelo contrário. Princípio caro à
Igreja é que a fé e a razão não estão contrapostas.
Numa universidade católica, por
definição aberta a todo o mundo, ou seja, aos católicos, aos acatólicos e aos
que não professam nenhum credo religioso, não pode haver rancor, ufanismo,
orgulho, gueto ou fechamento de ideias. Devem sempre coexistir a afabilidade, o
amor, a concórdia, a capacidade de compreender o outro e, precipuamente, a
liberdade de pensamento.
O caráter confessional da
instituição católica implica um compromisso e uma missão da parte dos
professores: inculcar os valores do evangelho através da mediação sociológica
da universidade. Isto quer dizer um diálogo honesto e corajoso entre fé e
razão, que permeie os variegados setores do saber científico.
Para tanto, é
mister que haja docentes não só bem preparados do ponto de vista do manejo da
riquíssima doutrina católica, mas espiritualmente convictos das verdades que a
Igreja ensina. Outrossim, frise-se que todos
quantos exerçam cargos representativos têm o dever de respeitar a identidade da
instituição.
Como se dá na faina pedagógica
essa saudável permuta entre o catolicismo e a ciência? Demos um exemplo. É
simples. Na faculdade de direito, ao se lecionar o tema da propriedade privada,
ilumina-se a aula com os incrementos da doutrina social católica, com sua
teoria da função social da propriedade, historicamente desenvolvida pela
Igreja. É nesse nível que a dinâmica confessional atua!
A Igreja, perita em
humanidades (Populorum Progressio, 13), tem sempre uma palavra a dizer. Demais,
é sabido que a própria universidade, surgida na idade média, é uma criação da
Igreja católica, como no-lo recordou recentemente o prof. Ives Gandra, em
brilhante palestra proferida na XI Semana de Direito Canônico da Arquidiocese
de São Paulo.
Certa vez, disseram-me que o que
caracteriza a universidade católica é o respeito à dignidade humana. Não é
verdade. Enaltecer e fomentar a dignidade humana é obrigação de todas as
pessoas e de todas as instituições que existem na face da terra.
Vejamos o que reza o artigo 5.º das
Diretrizes e Normas para as Universidades Católicas no Brasil (Doc. 64; CNBB):
“Missão da universidade católica é servir à humanidade e à Igreja: garantindo,
de forma permanente e institucional, a presença da mensagem de Cristo, luz dos
povos, centro e fim da criação, no mundo científico e cultural (...).”
Demais,
preceitua a constituição apostólica Ex Corde Ecclesiae, a lei canônica que
disciplina as universidades católicas, que uma das características essenciais
desse jaez de instituição de ensino consiste na “fidelidade à mensagem cristã
tal como é apresentada pela Igreja” (13, 3).
Numa universidade confessional
católica, não se abdica da ciência. Muito pelo contrário. Princípio caro à
Igreja é que a fé e a razão não estão contrapostas. Destarte, escreveu o
bem-aventurado João Paulo II no preâmbulo de sua inolvidável encíclica Fides et
Ratio: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito
humano se eleva para a contemplação da verdade.”
A confessionalidade não pode se
restringir às aulas de Introdução à Teologia,
geralmente ministradas nas universidades católicas. Com efeito, essa
disciplina é o mínimo que a legislação canônica exige. De fato, a genuína veia
confessional da universidade católica tem de se manifestar o tempo inteiro, em
todas as cadeiras universitárias, num respeitoso debate acadêmico entre a
ciência e a fé.
Toda universidade de inspiração autenticamente cristã é uma
dádiva à sociedade, pois não forma apenas profissionais, mas humanistas.
Edson Luiz Sampel é Doutor em
Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.
Professor do Instituto Teológico Pio XI (Unisal) e da Escola Dominicana de
Teologia (EDT). Membro da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC) e da União
dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp).
Fonte: http://www.zenit.org
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