Padres "rebeldes" dizem que sem reformas, a Igreja perderá fiéis
Milhares de sacerdotes na Europa e nos
Estados Unidos se uniram a uma chamada à "desobediência" de
hierarquia, o que não veem como heresia, mas uma advertência: se o papa
Francisco não realizar a modernização da Igreja, os católicos, decepcionados,
abandonarão a religião em massa.
"A
insatisfação chegou até o núcleo, inclusive até as camadas mais leais que vão
todos os domingos na igreja", disse em entrevista à agência EFE Helmut Shüller, porta-voz do grupo de
padres austríacos, que em 2011 se rebelou contra o Vaticano e iniciou um
movimento ao qual já se uniram 3.500 párocos na Europa e nos Estados Unidos.
O chamado grupo "Iniciativa dos
Padres" publicou em junho de 2011 um manifesto no qual "perante a
rejeição de Roma de uma reforma que há tempos é necessária", declarava
obrigado a seguir sua própria consciência e atuar independentemente dos ditados
do Vaticano.
Apoiar a ordenação de mulheres e
homens, dar comunhão a todos os "fiéis de boa vontade",
"inclusive divorciados" e permitir que também os laicos prediquem a
palavra de Deus são algumas das "desobediências" às quais se
comprometeu um grupo de padres.
O apoio de cerca de 1000 sacerdotes na
Irlanda e nos Estados Unidos, cerca de 700 na Alemanha, mais de 540 na Suíça,
contatos com a América Latina, especialmente com o Brasil, e com a África fez
destes desobedientes a principal ameaça para a hierarquia vaticana.
O pároco Schüller, cuja rebeldia foi
castigada com a retirada do título de "monsenhor", se mostra
esperançoso de que a escolha de Francisco suponha o começo da abertura da
Igreja, embora advirta que há forças, liderados pelo Opus Dei, que vão
pressionar o papa.
Embora reconheça que ainda não está
claro se o papa quer iniciar essas reformas, quem nos anos 90 foi diretor de
Caritas Áustria, considera que em volta de Jorge Mario Bergoglio "há uma
grande pressão por conta das expectativas".
"Esperamos com interesse e não
queremos ser mal-educados e impacientes, mas em breve tem que haver
sinais", disse Shüller, porque caso contrário pode ser produzido um efeito
negativo.
"Se essa esperança se transformar
em decepção, vão acontecer duas coisas: muitos vão abandonar a Igreja e os que
querem mudanças, vão exigí-las", afirma.
Em qualquer caso, se Francisco decidir
fazer mudanças, Schüller acredita que terá que buscar ajuda e enfrentar as
congregações mais conservadoras, como o Opus Dei, Comunhão e Libertação e os
Legionários de Cristo.
"Está claro que para o Opus Dei,
a escolha de Francisco foi uma derrota. Mas o sistema ainda está aí, há muito
poder e muito dinheiro, há muitos interesses. É quase possível ter um pouco de
medo pelo papa, não deixa de ser perigoso", adverte. "Há décadas, a administração
(vaticana) é fortemente controlada por esses movimentos", explica.
"O maior poder consiste em não
fazer nada, como após o Concílio Vaticano II, quando simplesmente não se
aplicou o que tinha sido acordado", lembra. Segundo Schüller, qualquer um que
trate de reformar coisas nos Bancos Vaticano vai se encontrar com gente dura
"que não tem escrúpulos".
Schüller encoraja o Papa a buscar
apoio dos bispos e transformar seu sínodo em um órgão de co-governo da Igreja.
Nessa luta de poder e interesses, o ex-vigário geral insiste em que o pilar
essencial da Igreja são as comunidades.
"As paróquias ativas são o
elemento mais importante da Igreja" e necessitam de apoio e sacerdotes
disponíveis, destaca. "Se essa é a prioridade, é
possível permitir que só os homens sejam sacerdotes e expulsar homens com
talento simplesmente porque estão dispostos a se casar?", coloca,
lembrando que justo esses são os eixos de sua chamada à desobediência.
Schüller compara o afastamento da
Igreja com seus fiéis com a proximidade e a acessibilidade que faz com que os
cultos evangélicos ganhem terreno na América Latina.
Quem fora defensor das vítimas de
abusos sexuais na diocese de Viena rejeita que sua iniciativa seja cismática e
assegura que justo essa demonstração que pode ser crítica dentro da Igreja, fez
com que muitos fiéis não a abandonem.
Com relação ao fato da
"desobediência" não ter chegado ainda na Itália, Espanha ou no leste
da Europa, Schüller adverte que essa onda chegará e lembra que na Irlanda
"a Igreja e o povo eram um" e, no entanto, agora é um dos eixos do
movimento de rebeldia. Isso está relacionado com a perda de
confiança na Igreja pelas ocultações nos casos de abusos a menores, assegura.
"Vamos ficar supresos com o que
virá da Polônia, do leste da Europa e do sul da Europa" onde, disse, ainda
não foram destapados esses escândalos.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
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