Aliança de Batistas do Brasil no CLAI e o impacto na realidade latino-americana - Por Antonio Carlos Ribeiro

A aceitação da Aliança de Batistas do Brasil no Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI), aprovada na 6ª Assembleia do organismo ecumênico realizada em Havana (20 a 26 de maio) é seguramente um passo ousado e limítrofe da tutela batista norte-americana sobre as igrejas da Convenção Batista Brasileira. 

Há um conjunto de fatos que apontam nesta direção, apesar de muitos deles parecerem circunstanciais, sendo na verdade resultantes de um processo de avanços.

O primeiro é que parece ser algo recente, imprevisto e até mesmo inusitado. Apenas parece. O avanço da reflexão teológica batista há muito vive com a pastoral o embate dos diques de concreto, fortes e altos, que contêm águas revoltas e marcadas pelos mesmos ventos, a palavra para Espírito em hebraico e grego, que têm sacudido as sociedades de nossos países, com impactos sentidos nas diversas igrejas. Por isso, eles sofrem por enfrentar com inércia, liderança teológica conservadora, formação pastoral ou mesmo recursos, as águas cada vez mais impetuosas. 

As contenções mantidas com isolamentos, pressões, derrotas baseadas no conservadorismo, afastamentos e exclusões sofreram perda de efeito nas últimas décadas, nos mesmos moldes que os recursos similares em ambientes católicos. Há uma clareza, firmeza e consistência que cresceu terra a dentro, como raízes invisíveis e sob a interpelação da realidade, das quais hoje não há como retroceder. E lideranças teológicas cultas e inaproveitáveis para a cooptação administrativa. 

As relações de solidariedade, parceria e comunhão com igrejas, entidades de serviço como Diaconia e Koinonia, quais oásis para quem se cansou da martyria, todas ecumênicas, sem fronteiras e, confrontadas com um sofrimento interminável e com uma razão conservadora que não atende sequer aos tradicionais, assumem as exigências do evangelho, mesmo sem legitimação do grupo, com a negação de prerrogativas ou o corte de verbas, os grandes vilões do bastião. Mesmo Dusilek, que defendeu Martin Luther King Jr como orador de sua turma, se mostraria surpreso com a conquista, apesar de ser, com suas aulas de Sistemática, um alicerce desta conquista. 

Sabem também todos os que construíram esse patamar, há muito reclamado pelas igrejas, associações, convenções estaduais, escolas de teologia e espaços de reflexão independentes, que em diversos sentidos as várias conquistas como a ordenação de mulheres, numa disputa quase ‘patológica’ em ambientes conservadores nos quais o discurso inflamado contra a Igreja católica sequer foram percebidos como uma parte integrante dele no contraditório, nem mesmo como legitimador da postura, quando assentia e tentava superar a condição de ‘seita sitiada pelo catolicismo’, como escreveu Belo de Azevedo na dissertação em Teologia. 

Outra contradição foi o papel exercido pelo Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), uma conquista que tem a parceria do leigo congregacional brasileiro Jether Ramalho e do frade carmelita holandês Carlos Mesters, num organismo que cresceu com a mesma força arrebatadora das águas incontidas do rio. A Palavra parece ter sofrido certa unificação como mística de espiritualidade, descoberta das semelhanças em meio às divergências e um porto seguro em meio aos descalabros, desencontros, punições e sofrimento dos rebanhos.

Mas a principal condição que propiciou a integração dos batistas no CLAI foram as demandas da sociedade, a fragilização de estruturas eclesiais, os desgastes das sanções dos centros de poder pastoral a teólogos/as, sem achar eco na sociedade, a disputa irracional do discurso sobre os pobres, o enriquecimento dos pastores midiáticos e dos padres cantores, com força ‘apenas’ financeira para se desligar de igrejas ou ‘espetacularizar’ os cultos, com recursos tecnológicos e financeiros de shows de auditório. 

Neste ambiente, os setores ultraconservadores perderam força e receitas, o descrédito começou a avizinhar-se na mesma proporção que surgiram miniestruturas eclesiais (assembleias, editoras, gravadoras, programas e até emissoras e pastores da TV), bandas ou bandos como alguns preferem chamar, com o DNA da raspa de tacho da ditadura, fizeram com que os espaços de debate das escolas de Teologia se tornassem ‘cansativos’ para latifundiários da confessionalidade ou predadores dos públicos de baixa formação e condição social, que consomem produtos sem qualidade teológica e musical, e são transformados em ‘currais’ eleitorais. 

E por último, a maior conquista é a interlocução do pensamento teológico batista com as igrejas ecumênicas. Se as trocas, mesmo em meio aos espaços confessionais apertados, nunca impossibilitaram leituras, diálogos, parcerias, agora têm um espaço legítimo de interpelação e interlocução. Isso significa um influxo mais constante nas trocas entre cristãos de diferentes igrejas, um aprofundamento de práticas conjuntas, um aprendizado de novas místicas e novas linguagens. Os batistas ganham muito. O movimento ecumênico, também!






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