Admissão de "erros" anima mórmons em crise com a igreja – Por Laurie Goodstein
Mórmons que esperam por mudanças
ficaram entusiasmados quando um dos principais líderes da igreja fez um
discurso oferecendo uma mão estendida para aqueles que se debatem com dúvidas
sobre a história da igreja e suas doutrinas.
Eles receberam bem as palavras do
presidente Dieter F. Uchtdorf, segundo conselheiro do órgão da primeira
presidência, o órgão superior da igreja, como uma admissão inovadora de que
"erros" por parte de líderes falíveis da igreja no passado espalharam
as sementes da dúvida hoje.
Mas eles foram sóbrios quando
Uchtdorf foi seguido por vários outros líderes que frustraram qualquer
expectativa de a igreja abrir o sacerdócio às mulheres ou aceitar o casamento
homossexual. Mulheres mórmons que tentaram entrar para o sacerdócio só para
homens foram rejeitadas e impedidas de entrar na igreja por um caminhão de
lixo.
"Eu vejo as mensagens
irregulares e diferentes do púlpito neste fim de semana como prova de que há um
diálogo robusto acontecendo no prédio da igreja sobre a crise da fé e as
questões de gênero", disse Joanna Brooks, professora de inglês e
Literatura Comparada na San Diego State University e autora do livro: "A
Garota do Livro dos Mórmons: Uma memória de uma fé norte-americana."
"É assim que a revelação
contínua funciona no mormonismo, quando os membros discutem, debatem e demandam
respostas entre si, e os líderes tentam resolver isso", disse ela.
Os discursos e protestos das
mulheres ocorreram durante a Conferência Geral da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias, quando suas principais autoridades se dirigem aos 20
mil membros da igreja duas vezes por ano num centro de conferência em Salt Lake
City e a outros milhões numa transmissão para o mundo inteiro. A igreja conta
com 15 milhões de membros em todo o mundo.
Michael R. Otterson, diretor de
relações públicas da igreja, disse que as negociações na Conferência Geral
foram destinadas a inspirar, elevar e aconselhar membros individuais, e não
eram pronunciamentos políticos.
"A Conferência Geral não é
para ser entendida através de trechos, especialmente quando as pessoas pegam
uma frase aqui e ali, e tentam justificar suas próprias agendas políticas. Isso
reflete um nível muito pobre de maturidade espiritual", ele escreveu num
e-mail em resposta a perguntas.
Autoridade máxima da Igreja é o
seu presidente e profeta, Thomas S. Monson, mas que está com 86 anos e com a
força diminuindo, de acordo com muitos familiarizados com a liderança da
igreja. Na conferência, ele falou de sua tristeza pela morte de sua esposa este
ano.
Uchtdorf é um dos dois
conselheiros de Monson. Ele assustou muitos ouvintes ao falar com empatia por
mórmons que duvidam da igreja ou até mesmo a deixam.
"Às vezes assumimos que é
porque foram ofendidos, ou foram preguiçosos, ou pecaram. Na verdade, não é tão
simples assim", disse ele.
"Alguns lutam com perguntas
não respondidas sobre as coisas que foram feitas ou ditas no passado",
disse ele. "Para ser franco, houve momentos em que membros e líderes da
igreja simplesmente cometeram erros. Podem ter sido feitas ou ditas coisas que
não estavam em harmonia com nossos valores, princípios ou doutrina."
Ele acrescentou que, embora Deus
seja perfeito, "opera através de nós, seus filhos imperfeitos".
Terryl e Fiona Givens, um casal
de estudiosos mórmons que realizou uma série de seminários nos Estados Unidos e
na Europa este ano para os mórmons que se debatem com questões relativas à fe,
disse que o discurso de Uchtdorf foi seminal por ter admitido que os líderes da
igreja são falíveis.
"Em um único golpe, ele
destruiu a mitologia cultural que tem sido a raiz da dúvida e do
descontentamento que afeta os nossos membros", disse Terryl Givens,
professor de literatura e religião na Universidade de Richmond e autor de
livros sobre o mormonismo.
Fiona Givens diz: "vejo esse
discurso como o bálsamo de Gileade para muitas pessoas que estão lutando com
questões para as quais não conseguem encontrar respostas."
A história que tem perturbado
alguns mórmons está relacionada ao fato de que o fundador da igreja e seu
primeiro profeta, Joseph Smith, casou-se com várias mulheres, muitas das quais
já tinham maridos; e que Brigham Young, que sucedeu Smith, proibiu o sacerdócio
para os negros uma política que foi revertida em 1978, por uma nova revelação
de Deus.
A Igreja Mórmon não apoia o
casamento gay, mas tem integrantes homossexuais que estão cada vez mais
tornando pública sua discordância. O apóstolo Dallin H. Oaks, um ex-juiz da
Suprema Corte de Utah, disse na conferência que as políticas da Igreja sobre a
homossexualidade "foram determinadas pelas verdades que Deus declarou
serem imutáveis."
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