Lista de livros mais vendidos imita divisão direita-esquerda dos EUA – Por Ricardo Mioto
A lista dos livros mais vendidos
no Brasil mostra que o país vai incorporando a divisão tradicional americana
entre "conservadores" e "progressistas".
A diferença é que,
se lá eles estão reunidos respectivamente nos partidos republicano e democrata,
aqui as legendas não capitalizam esses autores e leitores.
Ligados à direita estão o
jornalista Leandro Narloch, autor de "Guia Politicamente Incorreto da
História do Mundo" (Leya), que ocupa a quinta posição no ranking de
não ficção da revista "Veja", e o filósofo Olavo de Carvalho, com "O
Mínimo que Você Precisa Saber para Não ser um Idiota" (Record), em
quarto.
À esquerda, aparece na nona
posição o livro "O Príncipe da Privataria" (Geração Editorial), do jornalista
Palmério Dória. A obra é crítica ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e
herdeira de "A Privataria Tucana", best-seller do ano passado feito
pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior e editado pelo mesmo selo.
Em todos os casos, utilizou-se a
lista de mais vendidos da edição do dia 8 de Outubro Ela mostra ainda, também
lembrando os Estados Unidos, o crescimento no Brasil da influência religiosa,
sobretudo evangélica.
Isso ocorre tanto de maneira mais
proselitista, como no livro "Nada a Perder 2", do pastor Edir
Macedo (pela Planeta, em primeiro lugar), quanto de maneira indireta, por uma
interpretação da fé mais elogiosa ao lucro e ao sucesso, com livros como "Sonhos
Não Têm Limites", sobre o empresário Carlos Wizard, que é ligado à igreja
mórmon (pela Gente, no oitavo lugar).
Se os partidos republicano e
democrata têm sucesso em representar essas tendências ideológicas de escritores
e leitores americanos, isso não é automático no Brasil.
Pela esquerda, Dória, apesar do
tom crítico ao PSDB do seu livro, nega identificação partidária: "Não sou
peemedebista, pessebista, petista, redista. No geral, me sinto um socialista e
humanista".
"Se querem fazer torneio
Rio-São Paulo [entre direita e esquerda], basta ver a lista dos mais vendidos.
A direita ganha de lavada. Quem mais compra livro neste país são os
endinheirados, grupo em que a maioria incontestavelmente é de direita",
diz Dória.
Na direita, entre os partidos
grandes, a associação mais automática seria com o PSDB, Leandro Narloch, por
exemplo, defendeu no ano passado, na Folha, a eleição de José Serra à
Prefeitura de São Paulo-, mas os autores também não a compram.
"Como todos os partidos
pregam mais funções e poder ao governo, não me identifico com nenhum. Acho que
o Serra está mais à esquerda que o Palocci, por exemplo", afirma Narloch.
"O Brasil está vivendo a
onda do livro-manifesto, para a esquerda e para a direita. É melhor haver dois
polos de pensamento que um monopólio editorial dos estatistas, mas há o risco
dos leitores se fecharem em guetos ideológicos", diz.
Olavo de Carvalho também critica
as siglas: "No Brasil, existe a esquerda e existem os dinheiristas. Não
tem mais nada. Quem é conservador não se deixa levar pelo PSDB".
"Se a lista dos mais
vendidos fosse a sociedade brasileira, estaríamos numa democracia normal. Nas
eleições americanas, as livrarias ficam superlotadas de livros a favor e contra
os dois candidatos. No Brasil, na ausência de uma direita política, há apenas
alguns fulanos dando palpite", completa Carvalho.
No caso dos evangélicos, a
identificação com partidos também não é clara. A bancada evangélica no
Congresso, por exemplo, se espalha por mais de 15 legendas. Apesar da
orientação conservadora vinculada à religião, especialmente em temas como
aborto ou casamento gay, a maior parte dela é da base aliada ao governo do PT,
partido tradicionalmente de tendência mais liberal nesses temas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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