Antissemitismo persiste e ódio aos judeus continua crescendo na Europa – Por Enrique Müller

Às vésperas de se completar o 75º aniversário do início da perseguição da comunidade judia na Alemanha, que está gravada na memória coletiva como "a noite dos cristais", uma pesquisa realizada pela Agência Europeia de Direitos Fundamentais em oito países europeus revela que o antissemitismo no continente ainda vigora e que o ódio contra os judeus continua crescendo.

A pesquisa foi realizada entre setembro e outubro de 2012 na Bélgica, Alemanha, França, Hungria, Itália, Lituânia, Suécia e Reino Unido, países onde vivem 90% da população judaica europeia. 

Segundo a agência, 66% dos pesquisados acreditam que o antissemitismo continua sendo um problema importante e 76% afirmaram que o ódio aos judeus havia aumentado nos últimos cinco anos.

A pesquisa indica que o país mais antissemita da Europa é a França, onde 73% dos pesquisados admitem que o conflito árabe-israelense influiu no sentimento antijudaico, enquanto na Alemanha a porcentagem diminui para 23%. 

"Eu pensava que o antissemitismo tivesse morrido em Auschwitz", disse Serge Cwajgenbaum, secretário-geral do Congresso Judaico Europeu, ao comentar o resultado da pesquisa. 

"Falar em pleno 2013 sobre casos de antissemitismo em cidades como Londres e Paris ou Budapeste me faz sentir medo pelo futuro da Europa."

A pesquisa, que foi divulgada em Viena, coincide com as comemorações que se iniciam no sábado na Alemanha para lembrar o começo do primeiro "pogrom" [ataque] contra a comunidade judaica sob a ditadura nazista, na noite de 9 a 10 de novembro de 1938, que marcou um ponto de inflexão na política antissemita oficial que nasceu no país imediatamente depois da chegada de Hitler ao poder, em 1933. Naquela noite, milhares de fanáticos nazistas se lançaram às ruas para queimar sinagogas, destruir locais comerciais e atacar seus proprietários judeus. O ataque da noite dos cristais, referindo-se aos restos de vidraças nas ruas, marcou o início da violência nazista contra os judeus.

Segundo os arquivos históricos, mais de cem judeus morreram nessa noite e outros 30 mil foram enviados nos dias seguintes para os campos de concentração de Dachau, Sachsenhausen e Buchenwald. A ditadura justificou os ataques como um surto espontâneo de violência popular em reação ao assassinato de um diplomata alemão em Paris em 9 de novembro, por causa dos tiros de Herschel Grünspan, um judeu polonês de 17 anos.

Quando a notícia do assassinato chegou a Berlim, Joseph Goebbels visitou Hitler na chancelaria para traçarem um plano de ação. A conversa aparece em seu diário. "Exponho o assunto ao Führer. Ele decide permitir as manifestações e retirar a polícia. Os judeus devem sentir a ira popular", escreveu o ministro da Propaganda.


O aniversário será lembrado com atos oficiais e com uma exposição na velha sinagoga de Berlim, que reúne os informes enviados pelos diplomatas credenciados na Alemanha. Os despachos diplomáticos informam seus governos sobre a "erupção da crueldade sádica" do regime contra os judeus, como escreveu o cônsul-geral dos EUA em Frankfurt, Robert Townsend Samllbones. 

Os britânicos qualificaram o pogrom como uma "barbaridade medieval", enquanto os franceses o compararam ao genocídio turco contra os armênios. A Espanha se desculpou de enviar a documentação, segundo o comissário da mostra, Christian Dirks, porque o edifício que contém os arquivos está sendo submetido a trabalhos de renovação. 

Nenhuma potência rompeu suas relações com Berlim ou aplicou sanções. Washington chamou seu embaixador, mas quase todos os países fecharam suas fronteiras para 400 mil judeus alemães.



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