O tempo e a história de um movimento [fé e política] – Por Selvino Heck

Primeiro tempo: 

O final dos anos 1970 e os anos 1980 foram de grande efervescência. Apesar da ditadura vigente, greves começam a pipocar pelo Brasil. Vêm à cena política Lula e Olívio Dutra, metalúrgico e bancário, em meio a greves e mobilizações com repercussão nacional. Explodem as oposições sindicais no campo e na cidade.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais sociais alimentam o trabalho de base, a fé e a política, produzindo novas lideranças em todo Brasil. Partidos de esquerda como o PT surgem do meio das lutas sociais. 

As Diretas-Já fortalecem o protagonismo popular e o sonho de mudança e participação. A constituinte refaz as bases da República brasileira. Os primeiros governos populares trazem o jeito petista de governar, o Orçamento Participativo e Paulo Freire Secretário municipal de Educação em São Paulo.

A fé alimenta a política. A política precisa dos valores da fé. Não basta a fé sem obras. Não serve a política sem transcendência. Surge o Movimento Fé e Política em junho de 1989, meses antes do épico confronto entre Lula e Collor, impulsionado por parlamentares constituintes eleitos em 1986, dirigentes partidários, teólogos e intelectuais, lideranças sociais que estavam nas CEBs, nas pastorais populares e nos movimentos sociais, vivendo e praticando a fé, lutando pelo Reino que há de chegar, pés plantados no chão, na realidade e na vida do povo, mãos e cabeça na política que há de mudar o mundo. 

Como diz sua Carta de Princípios, "o Movimento Fé e Política é ecumênico, não confessional e não partidário. Está aberto a todas as pessoas que consideram a política uma dimensão fundamental da vivência de sua fé, e a fé o horizonte de sua utopia política”.

Segundo tempo: 

Durante os anos 1990, o Movimento Fé e Política faz reuniões regulares de reflexão, edita a Revista Fé e Política, anima seus membros e comunidades. É pobre: cada um paga as despesas para ir às reuniões, ajuda a manter a revista do seu bolso. É um movimento militante. Mas precisa de um novo jeito de se expressar e comunicar. Começam a realizar-se grandes Encontros Nacionais, com milhares de participantes, animados por uma Coordenação que reúne fundadores do Movimento e representantes de cada um dos Encontros.

O primeiro Encontro aconteceu em dezembro de 2000, em Santo André, SP. Não por acaso o tema do Encontro era "Mística da Militância”, em tempos neoliberais de individualismo, de mercado absoluto e Estado mínimo. Seguiram-se Encontros em Poços de Caldas, MG, Goiânia, GO, Londrina, PR, Vitória, ES, Nova Iguaçu, RJ, Ipatinga, MG, Embu das Artes, SP.

Terceiro tempo: 

Brasília será a sede do 9º Encontro Nacional de Fé e Política, dias 15, 16 e 17 de novembro na Universidade Católica. Brasília, capital federal. Brasília, o centro dos Poderes. Por isso, o tema é: Cultura do Bem Viver: Partilha e Poder – 

Informações: www.fepolitica.org.br. Contatos: nonoencontronacional@gmail.com –. São esperados mais de três mil participantes.

Antes da abertura oficial do 9º Encontro, acontecerá às 15h do dia 15 de novembro, Dia da República brasileira, na mesma Universidade Católica, em Brasília, o lançamento do Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema político brasileiro, a ser realizado de 1º a 7 setembro de 2014, antecedido por cursos de formação, e organizado por movimentos sociais, Centrais Sindicais, partidos políticos, pastorais sociais, pela Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma do Sistema Político. 

Nas palavras de João Pedro Stédile, "se não viabilizarmos uma Assembleia Constituinte, entraremos numa crise política prolongada, cujos desdobramentos ninguém sabe como acontecerão”.

Hora de refletir. Hora de agir. Refletir sobre a sociedade do Bem Viver, nas suas raízes e valores indígenas. Refletir sobre o poder e a partilha. Refletir sobre como os valores da fé iluminam as práticas de cristãos, crentes e sonhadores do Reino. Hora de agir, organizando um Plebiscito, onde a voz do povo, mais uma vez, vai exigir reformas e mudanças ainda não feitas no Brasil.

O Movimento Fé e Política completará 25 anos em 2014. Está vivo e continua a ‘fomentar a reflexão política, a vida espiritual e subjetividade daqueles que estão comprometidos com uma prática política e social. Seus participantes rejeitam todos os valores calcados no individualismo e na absolutização do mercado e reafirmam, como valores fundamentais para o ser humano, a solidariedade, a cooperação e o direito de todos à vida em plenitude. Comprometem-se com o exercício da cidadania ativa e a construção de uma sociedade socialista, democrática, plural e planetária” (Carta de Princípios).

Estão todas e todos convidados para um momento de fé, de celebração, de reflexão e impulso para a ação.

[Selvino é Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política].

Em oito de novembro de dois mil e treze






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