Blasfémia ainda é punida com prisão em 39 países do mundo
A blasfémia leva à prisão em 39
países do mundo, incluindo seis ocidentais, e os ateus incorrem na pena de
morte em 13 países, indica-se num relatório divulgado hoje sobre
"Liberdade de Pensamento".
De acordo com o documento da
União Internacional de organizações Humanistas e Éticas (IHEU, em inglês), a
maioria dos países não respeita os direitos dos não-religiosos (ateus,
agnósticos, humanistas, ou pensadores livres).
Este é o primeiro relatório que
se foca especificamente nos direitos, estatuto legal e discriminação contra
pessoas que não professam qualquer religião em todo o mundo.
Doze países em África, nove na
Ásia e dez no Médio Oriente obtiveram a pior classificação por "violações
graves" contra os direitos dos agnósticos. Alguns destes governos incitam
abertamente ao ódio contra ateus, ou deixam impunes, sistematicamente, crimes
violentos contra ateus.
Em 12 destes países, todos
islâmicos, as autoridades religiosas podem condenar os ateus à morte pelo crime
de apostasia (abandono de uma crença religiosa).
Três Estados, Arábia Saudita,
Irão e Paquistão, podem executar "blasfemos". Em outros três Estados,
islamitas, que actuam como autoridades religiosas em algumas zonas, recorrem à
'sharia' (lei islâmica) para castigar ofensas à religião, incluindo sentenças
de morte: na Somália as milícias 'Al-Shabaab', na Nigéria o movimento Boko
Haram e os outros grupos islamitas e no Afeganistão os talibãs.
No mundo ocidental, quatro países
receberam uma classificação de "grave" pela possibilidade de deterem
pessoas por infracção das leis que proíbem a blasfémia e outras situações que
atentam contra a liberdade religiosa.
A Islândia aplica uma pena de
prisão de até três meses, a Dinamarca de até quatro meses, a Nova Zelândia, até
um ano, a Polónia, de até dois anos, a Alemanha, de até três anos, e a Grécia,
de até três anos.
A sentença pode ser aplica num
caso de "blasfémia a Deus", como na Grécia, ou em situações de
"insultos à fé de terceiros", no caso da Alemanha.
Quanto aos Estados-membros da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o relatório classifica a
situação em Angola como "discriminação grave", em Cabo Verde como
"discriminação sistémica", classificação que também é atribuída a
Portugal.
Relativamente a Angola, o
documento da IHEU indica que a Constituição, outras leis e políticas protegem a
liberdade de pensamento e religiosa, tal como a liberdade de opinião e
expressão.
A Constituição define o país como
um Estado secular, que reconhece e respeita diferentes grupos religiosos,
livres para organizar a realizar actividades, mas as organizações religiosas
devem pedir reconhecimento legal para poderem construir escolas e locais de
culta.
Neste país de maioria católica,
todos os 83 grupos religiosos actualmente "legalizados" são cristãos.
A minoria muçulmana de cerca de 90 mil pessoas não atinge o limite legal para
se candidatar à legalização.
A situação criou alguma tensão e,
já no final deste ano, as autoridades angolanas interditaram mesquitas ilegais,
de acordo com o relatório. Em Cabo Verde, a Constituição
define o Estado como laico e proíbe a imposição de crenças e práticas
religiosas, apesar de a maioria da população ser identificada como católica.
De acordo com o documento, o
governo concede privilégios à Igreja Católica e não a outras religiões, como
por exemplo, o direito a tempo de transmissão gratuita na televisão pública de
serviços religiosos. O relatório não faz referência ao
Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor-Leste.
Fundada em Amsterdam, em 1952, e
com sede em Londres, a IHEU é a única união mundial de mais de 100 organizações
humanistas, racionalistas, laicas, ateístas e de pensadores livres, presentes
em mais de 40 países.
A IHEU é uma organização
não-governamental (ONG) internacional com estatuto especial consultivo junto
das Nações Unidas e do Conselho da Europa, e estatuto de observador para os
direitos humanos na União Africana.
Fonte: http://sol.sapo.pt
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