Entrevista: Celso Kallarrari

"Neste mundo pós-moderno, somos condicionados a não pensar, a receber tudo pronto, acabado, porque muitos de nós somos condicionados pelo sistema político e oriundos de uma educação formal precária, que deixa a desejar, pois não consegue, a contento, desenvolver leitores pensantes, críticos, de modo que a falta de conhecimentos prévios e a mera decodificação textual não permitem à maioria dos nossos estudantes-leitores alçar voos maiores. Em O Ritual dos Chrysântemos, espero encontrar um leitor copartícipe, que seja dialógico, dialético, eclético, porque o texto assim o é."

Queria começar pelo começo. Por favor, nos conte como surgiu a sua ligação com a escrita e com a literatura. Questiono, sobretudo, pela peculiaridade de ter nascido na fronteira Brasil-Paraguai e por ter pais que trabalharam nas fazendas de café...

Costumo dizer que a minha literatura teve início, antes do período de alfabetização, em casa. Meu primeiro contato foi com a literatura oral, folclórica, transmitida através dos "causos" contados pela minha avó, analfabeta. Depois, de maneira mais específica, no Ensino Fundamental, quando minha professora selecionou, entre os alunos das escolas, um poema meu para ser impresso no "I Jogos Florais" da minha cidade, juntamente com poemas dos membros da Academia Pontaporanense de Letras, numa gráfica local, em folha colorida.

Esse foi meu despertar para a leitura e, consequentemente, para a escrita de poemas. Nos momentos de leitura em sala de aula, nas aulas de Língua Portuguesa, tínhamos os livros de literatura à disposição, somente na escola, para leitura. Então, eu acabava furtando, literalmente, o livro que estava lendo para continuar lendo extrassala de aula, porque não podíamos levar conosco para casa e eu queria chegar ao final da historia. Isso é uma confissão de um padre não tão arrependido assim (rs).

À época, era filho de pais semianalfabetos. Nesse período, meu pai já havia falecido, e o pouco que minha mãe ganhava não nos dava condições para adquirir livros. Éramos três meninos. Eu, o mais velho, nas séries iniciais, levava meus cadernos num plástico de arroz, porque minha mãe não podia comprar bolsas escolares para os três filhos.

O fato de ter nascido na fronteira Brasil-Paraguai e ter convivido com uma população mista, de árabes, libaneses, sírios, japoneses, coreanos, chineses, paraguaios, índios guaranis e gaúchos influenciaram minha escrita, principalmente O Ritual dos Chrysântemos, cuja ambientação e história têm origem na linha divisória, "fronteira seca" do Brasil-Paraguai, e se finda na avenida Paulista. Como saí muito pequeno das fazendas de café para a cidade, minhas recordações são lembranças das histórias que ouvia de meus pais e que, acredito, vão estar presentes em futuros escritos.

Sua formação começa como uma licenciatura em Letras, seguida por uma graduação em Teologia, por um mestrado em Educação, e termina com um doutorado em Ciências da Religião, pela PUC de Goiás. Você oscila, desde o começo, entre letras e religião. Como fez essa conciliação? Sua formação lembra a de muitos homens de letras, do Brasil, que foram para o seminário, para estudar...

Acredito que uma das marcas constantes em minha produção, seja ela poesia ou prosa, é a temática religiosa. Eu, enquanto sacerdote ortodoxo, não poderia deixar de registrar, nos meus escritos, aspectos da espiritualidade humana, independente do credo ou convicção religiosa.

Vivemos num mundo, onde, desde os seus primórdios, o homem busca respostas à sua existência; respostas, muitas vezes, não encontradas nas instituições seculares. Algumas respostas - como bem sabemos -, aos diversos males, tragédias e dores humanas, são encontradas na religião, instância que busca reestruturar o ser humano e (re)equilibrar sua vida.

Nesse sentido, eu busquei, na minha trajetória acadêmica e literária, unir Religião e Literatura numa simbiose possível, pois na cultura humana ela é, evidentemente, marcada pela criação e imaginação, ou seja, pela criatividade e pela fé num ser superior, supremo.

Em 1993, ao fazer o curso vocacional numa congregação católica, percebi que não queria ser um padre solteiro, celibatário, mas queria ser padre. Queria casar-me, ter esposa e filhos; dividir, enfim, uma vida familiar. E, na Igreja Romana, conciliar sacerdócio e casamento não é possível, por conta da lei do celibato, pelo menos no Ocidente. Eu só pude realizar essa experiência mais tarde, quando me ingressei na Igreja Ortodoxa.

Enfim, alguns até me diziam: - Entre para o seminário, faça filosofia e caia fora depois! E alguns colegas meus assim fizeram e, hoje, são professores, têm famílias e são ótimos pais e esposos. Eu não fiz assim. Não quis isolar-me do mundo. Decidi fazer Letras com todas as dificuldades financeiras da época, pois tinha que estudar fora, e, somente depois, é que terminei Teologia e o doutorado em Ciências da Religião, ou seja, lidar propriamente com o fenômeno religioso, enquanto pesquisador e religioso.

Queria que falasse um pouco das suas primeiras publicações, no gênero poesia: A Porta Remendada (2003), As Últimas Horas (2009) e As Últimas Palavras (2013). Em dez anos, como foi a evolução da sua poética? Quais autores te levaram ao gênero? E, hoje, acompanha a poesia contemporânea (indicaria outros autores, por exemplo)?

Infelizmente, no Brasil, lê-se muito pouco poesia e alguns até buscam escrever poesia sem, todavia, ler poesia, o que eu acho muito complicado. As pesquisas mostram que nós brasileiros já não lemos muito o texto em prosa, quiçá o texto poético. Aliás, eu acho uma perda significativa, uma vez que a poesia tende a tocar ou tornar o ser humano mais sensível ao outro e ao ser supremo.

Comecei, timidamente, a escrever poemas, no final da década de 80 e na década de 90. Em 2003, resolvi reunir alguns desses poemas num livro e publiquei, por uma editora do Rio de Janeiro, A Porta Remendada. Eu já estava morando na Bahia. Lembro-me que fizemos uma peça com os poemas. Apresentamos em algumas cidades no interior da Bahia e em festivais de teatro de rua, em Salvador.

Os poemas de A Porta Remendada, apesar de trazerem sempre o intertexto bíblico, eram mais líricos, saudosistas e introspectivos, diferentemente dos dois livros que o seguem (As Últimas Horas, de 2009, e As Últimas Palavras, de 2013), porque, nesses últimos, passei de uma visão de mundo mais centralizada, introspectiva, para uma visão mais universalista acerca da vida, dos seus problemas e angústias humanas, das suas mudanças e transformações que acompanham a história humana.

Drummond foi, sem dúvida, desde os anos 80, meu escritor favorito. Além de Drummond, Fernando Pessoa e Manoel de Barros; este, autor do meu estado, do Sul do Mato Grosso. Tenho lido, atualmente, Paulo Leminski e Fabrício Carpinejar e relido Vinícius de Morais.

Entrando em O Ritual dos Chrysântemos (2013), como se deu o desenvolvimento do poeta em romancista? Fernando Pessoa dizia que todo prosador deveria ser poeta antes. Você concorda? Conte um pouco do trabalho de feitura do romance, desde as ideias até a finalização.

Na verdade, O Ritual dos Chrysântemos teve início entre 2002 a 2003, justamente quando publiquei o primeiro livro de poemas. Este romance, a princípio, tinha 60 páginas e ficou de lá para cá engavetado. Costumo dizer que ele ficou de molho e só retornei a ele, em março de 2013, até final de julho do mesmo ano.

Concordo com Fernando Pessoa, porque comecei com a poesia e ela está latente dentro de mim e tenho ainda poemas engavetados que precisam ser revisitados. A poesia não morreu; ela está presente também no romance, embora não seja o gênero predominante. No romance, há um diálogo saudável entre prosa e poesia. Ela está lá no romance, adornando-o, realçando a história amorosa dos protagonistas, o romantismo e a crítica às questões sociais da nossa realidade contemporânea.

Ao começar a escrever o romance, em 2002, não havia, ainda, nitidamente, o enredo pronto e toda a trama desenvolvida. Eu simplesmente comecei a escrever, porque, interiormente, sabia que precisava escrever algo sobre a ideia central que era a de um casal fronteiriço de tradições mistas, seu complexo relacionamento. No processo de escrita, foi surgindo o pacto amoroso; ou seja, de suas vidas, conflitos e problemas pessoais, suas decisões e ações, tomadas durante sua existência, iriam resultar em consequências trágicas. Todavia, nada se finda aqui, nesse plano material, mas tudo, tudo tem uma certa lógica e só poderá ser entendida num plano espiritual, cuja magnitude só podemos imaginar.

Num primeiro momento, n'O Ritual dos Chrysântemos, surge a trama policial, por causa da morte, num apartamento da avenida Paulista, de Poliana, a namorada do protagonista, Eurico. Depois, pelas mortes de seis outras jovens virgens (nos parques de São Paulo). Conte um pouco da sua relação com o gênero policial. Como foi compor a sua própria trama e o que há de diferente nela, para conquistar os leitores desse gênero?

Na adolescência, lia Agatha Christie e, somente mais tarde, na faculdade é que me deparei com a literatura de Edgar Alan Poe.

Ao desenvolver a história, onde uma das personagens é portadora de esquizofrenia, quis amarrá-la à trama policial, à situação de Eurico, ou seja, seu problema de esquizofrenia, a partir do recorte de um serial killer, da violência, muito presente em nossa sociedade.

Como não se trata de um gênero policial do início ao fim - porque dou intervalos longos, mostrando a origem, história e contexto cultural e etnográfico das personagens - busquei talvez mostrar que tudo está entrelaçado, nosso passado, presente e futuro. Eles têm certa relação entre si, entre as decisões e acontecimentos presentes.

Desde quando comecei a escrever, a historia não tinha meio e fim. Havia apenas um começo, e o meio e fim foram sendo construídos, na medida em que escrevia, que criava os personagens e neles pensava, que visualizava seu desfecho, a morte ou o fim das personagens. A dúvida, muitas vezes, me afligia, ora matava alguém, ora salvava. E, nessa luta constante, media as consequências, os resultados etc.

Acho que o diferente no romance está no fato de que, diferentemente da trama policial tradicional, a resolução dos crimes ou, pelo menos, a identificação da identidade secreta do assassino não são, claramente, reveladas, sem a intervenção ou participação ativa do leitor.

Num segundo momento, a trama policial cede lugar à dúvida psicológica: Poliana foi morta ou se matou? Eurico é culpado ou inocente? Me lembra a célebre questão se Capitu traiu Bentinho ou não, em Dom Casmurro, de Machado de Assis. Foi essa a sua intenção, deixar uma porta aberta à interpretação livre? Porque os policiais, em geral, são mais focados no desejo de se chegar a uma conclusão... Mas o seu, não. Por quê?

Quando imaginava (no processo de escrita) o relacionamento de Eurico e Poliana e, consequentemente, a morte, ou as mortes, nessa historia, busquei não dar respostas prontas, acabadas, mas fazer com que meu leitor, ao desenvolver sua leitura, pudesse junto comigo, ir também imaginando ou construindo outra historia, ou a sua própria historia, a partir das pistas e informações que o narrador (onisciente, mas também desconhecedor dos fatos) ora lhe fornece, ora não lhe fornece. Ou seja, um leitor ativo, crítico, modelo e não, meramente, um leitor passivo de livros que apenas fazem leitores "comprar batons" ou apresentam o desfecho da narrativa surpreendendo o leitor, sem, contudo, buscar sua cumplicidade ou participação narrativa.

Neste mundo pós-moderno, somos condicionados a não pensar, a receber tudo pronto, acabado, porque muitos de nós somos condicionados pelo sistema político e oriundos de uma educação formal precária, que deixa a desejar, pois não consegue, a contento, desenvolver leitores pensantes, críticos ― de modo que a falta de conhecimentos prévios e a mera decodificação textual não permitem à maioria dos nossos estudantes-leitores alçar voos maiores. No romance em questão, eu espero encontrar um leitor copartícipe, que seja dialógico, dialético, eclético ― porque o texto assim o é.

De fato, o discurso literário permite o intertexto de textos anteriores na elaboração do discurso ficcional. Desse modo, eu poderia dizer que existem ecos de Dom Casmurro em O Ritual dos Chrysântemos, da mesma forma que Otelo influenciou a obra machadiana. O elemento ciúme e outros elementos intertextuais corroboram as discussões mais amplas em nossa sociedade.

De acordo com Barthes, o escritor sempre imita um gesto anterior e tende a misturar as escritas; às vezes, contrariá-las, de modo a nunca se apoiar em nenhuma delas. Em outras palavras, utilizamos sempre de certa repetição, embora de forma diferente, daquilo que já fora construído. Isso é próprio da literatura.

Em O Ritual dos Chrysântemos, eu quis chamar meu leitor à cumplicidade autoral, deixando a dúvida, no lugar da certeza do delegado Mckinleu, porque a única verdade, de acordo com o texto, está na escritura, ou seja, a scriptura sui ipsus interpres, a escritura é sua própria intérprete. Em suma, nesse mundo pós-moderno, líquido, onde o medo e a insegurança são cada vez maiores, e não temos controle das coisas, a verdade é muito relativa. Não a temos ou não a sabemos por completa.

Um terceiro aspecto, que me chama a atenção, em O Ritual dos Chrysântemos, é o multiculturalismo. Eurico, o protagonista, é filho de pai sírio e mãe índia (guarani). Já Poliana, sua namorada, é filha de pai japonês com mãe paraguaia. Essa confluência de etnias remete à sua própria origem, na fronteira. Mas me ocorre, também, a literatura deMilton Hatoum, que mistura o Oriente ao Norte do Brasil. Acredita que será uma tendência cada vez mais presente na literatura? Como foi trabalhar personagens assim complexos e suas nuances?

O multiculturalismo presente em O Ritual dos Chrysântemos é, sem sombra de dúvida, resultado da minha experiência com várias etnias na fronteira do Brasil-Paraguai. No romance, o narrador-personagem sem nome, ao relatar a história de Eurico e Poliana, revisita, memorialmente, Ponta Porã, Pedro Juan Caballero, cidades coirmãs da linha seca, fronteiriça, lugar onde me criei e cresci.

Não sei se, a exemplo de Milton Hatoum, eu revisito o espaço local, nesse caso fronteiriço, mas não me prendo ali, dou saltos; e a metrópole paulistana, coração do Brasil, aparece ligada, umbilicalmente, a essa fronteira Brasil-Paraguai, através das etnias, que se cruzam e entrecruzam, e que me dão margem para trabalhar temáticas mais universais. Contudo, também não me desligo do regional, da tradição, do tempo e do espaço da infância, da cidade interiorana.

Acredito que a tendência da literatura atual seja retratar esse homem complexo, deslocado, que busca, acima de tudo, se situar, marcar sua identidade, seu mundo, seu espaço, na tentativa de não se perder, esvair-se no presente, onde as culturas, as religiões, as línguas e etnias se misturam, reorganizam-se, reconfiguram-se. O mundo contemporâneo é marcado, essencialmente, pela dúvida, incerteza, medo, insegurança, e os personagens protagonistas do romance são resultados dessa leitura que faço desse mundo global, dessa aldeia que faz com que o ser humano tenha novas possibilidades de encontros, mas também de desencontros, de um mundo da exclusão, da intolerância, da indiferença e da individualidade. Não podemos olhar somente seu lado positivo, mas também negativo para, acima de tudo, refletir sobre ele, sobre como estamos sendo conduzidos e como queremos ser conduzidos, o que estamos nos tornando e sobre o que, de fato, queremos nos tornar.

Vejo, ainda, um aspecto de lenda, talvez de mitologia, no seu livro, porque a morte não é o fim do amor entre Poliana e Eurico. O amor transcende ― até a própria morte. Ao mesmo tempo, há um ideal de pureza, virginal, também na promessa dos amantes, que nunca consumam o ato... Fale um pouco de onde vem essa inspiração. Será que o atual realismo, até documental, pode afastar a literatura de suas origens míticas? 

No que diz respeito à narrativa, os mitos tentam, de modo geral, buscam explicar o inexplicável. Os protagonistas (Eurico e Poliana), por exemplo, transcendem o plano físico e passam, após a morte, ao metafísico, a uma processo de divinização, aproximando-se ou assemelhando-se aos semideuses dos guaranis.

O papel mítico atribuído pelos indígenas a Eurico se desenvolve em dois momentos: o papel de herói e semideus (defensor da lei indígena), para um povo desprovido, os guaranis. Eurico busca respostas, o delegado Mckinleu busca certezas, provas, evidências... Enfim, buscam aquilo que a mente humana não consegue, em alguns momentos, responder, porque estão, profundamente, ligados ao conflito existencial e humano. O ideal de pureza, virgindade e pacto vêm da imaginação e da experiência religiosa pessoal, dos conceitos de abstinências e proibições religiosas. Os ideais da pureza, virgindade e sacrifício, presentes no romance, se perderam no mundo contemporâneo, no mundo da experiência, da razão, do contato, da posse, de modo que, ao tentar resgatar isso nos personagens, busco retratar outra realidade possível, sem, todavia, deixar de preocupar com as questões sociais, com a crítica social. Acredito que os mitos continuarão fazendo parte da vida do ser humano e a literatura sempre buscará, sendo através do realismo ou do mítico, representar nossa realidade; às vezes, de forma mais humana, outras de forma mais mágica, imaginativa, criativa. Eu tentei conjugar no livro ficção e realidade.

Nele, por exemplo, há presença (até mesmo documental) dos acontecimentos históricos, mas, paralelamente, há uma preocupação em retratar o aspecto mítico, que busca adornar o enredo, a fim de situar as personagens e suas possíveis crenças ideológicas e religiosas, porque o mundo contemporâneo não deixou de ser encantado, a morte não deixou de ser mistério, as pessoas não deixaram de recorrer aos seus deuses nos momentos de angústias, dores e aflições. Daí a ideia de que somente o amor vencerá a morte, transcendendo-a.

A explicação da morte ou das sete mortes dos "chrysântemos", de suas possíveis causas, de seus possíveis assassinos, assim como a explicação das causas de doenças incuráveis são, algumas vezes, indecifráveis, misteriosas, e não são reveladas, simplesmente, à luz da investigação, à luz das verdades empírica e científica, à mente do delegado Mckinleu, diferentemente do romance policial tradicional.

Depois de O Ritual dos Chrysântemos, tem algum outro projeto em vista? Encerrou seu ciclo poético, ou vem mais por aí? E, no gênero romance, continuará investindo em tramas policiais? Já pensou em escrever contos? Como, enfim, concilia a vida religiosa, familiar e estudo com outra, de constante produção literária (de 2003 pra cá)?

Acredito que o romance, apesar de trazer a abordagem policial, apresenta-se também aspectos regionalistas, urbanistas, indianistas e históricos, evidenciando a relação entre historia e ficção. Em relação à poesia, não deixei de escrever poemas. Não se mata um poeta tão fácil. O próprio Edgar Alan Poe começou (antes dos contos) escrevendo poemas. A poesia nos contamina e, quando estamos por ela contaminados, é como entrar num mar e não poder mais voltar. Tenho outro projeto na área do romance, cuja temática é de um padre que se envolve com uma mulher e, nele, haverá também crime e a trama policial. Já pensei em contos, mas para um segundo momento. Para conciliar estudo, produção literária, vida religiosa e familiar, é necessário abdicar de algumas noites de sono e alguns finais de semana com a família.

Hoje, o caminho quase natural para jovens autores é a internet. Mas você preferiu o caminho tradicional, publicando em livros. Como vê as publicações digitais atualmente, emblogs e redes sociais? Algum conselho especial que daria para quem está começando? (O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te falou, por exemplo?)

Sei do grande potencial da internet, tanto em relação à linguagem quanto como nova forma de comunicação e interação.

Em 2003, no meu mestrado, desenvolvi a dissertação cuja temática versava sobre "A Utilização da Internet no Ensino Superior". Naquela época, já havia algumas iniciativas educacionais, no modelo ensino a distância, e os próprios sites voltados para discussão, ensaios e escrita literária, no que concerne ao Brasil, mas nada comparado aos grandes avanços encontrados hoje. Mais tarde, no campo linguístico, escrevi um ensaio sobre o "internetês", a língua utilizada na internet.

No mundo da literatura, ela, a internet, é indispensável, pois novos formatos estão sendo, a cada dia, disponíveis e os avanços não param de acontecer, a exemplo dos e-books, blogs, redes sociais esites de literatura.

Muita coisa está, ainda, se configurando, as coisas acontecem e mudam rapidamente, mas, na era da tecnologia, precisamos utilizar desses novos mecanismos, porque a nova geração mantém um contato muito grande com o computador, em contrapartida à geração que aprendeu a ler com o livro material em mãos, que tem o prazer de senti-lo, degustá-lo, cheirar as folhas, e ainda é um pouco resistente.

Eu tenho disponibilizado, por exemplo, no blog de minha autoria, alguns poemas e trechos do romance, a fim de interagir com o público. O importante é que temos uma diversidade de formatos, buscando atender ao diversificado público.

Uma coisa fantástica é poder, seja através de e-mails ou das redes sociais, entrar, diretamente, em contato com seu leitor, dialogar e dividir com ele experiências, ouvir suas sugestões. No entanto, gosto de escrever, primeiramente, no Word, trabalhar o texto, organizá-lo, antes de publicá-lo na internet.

Uma sugestão para quem está começando: é preciso ler de tudo, ler os clássicos, nossos grandes guias, e os "não clássicos". Entretanto, é preciso desenvolver o senso crítico, porque nem tudo o que se vende é bom, porque - como afirma Leyla Perrone-Moisés- "quando a arte passou de ser tida como criação[...] para expressão de sentimentos, cada qual podia ser artista porque todos têm sentimentos". É preciso, pois, separar o joio do trigo.



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