Uma comunidade religiosa internacional em Goiânia – Por José Alves Garcia
Ocorreu, entre os dias 20 e 26
deste mês, a XXIX Semana Bahá’í de Goiânia, com atividades voltadas para a
expansão e consolidação de pensamento religioso que existe oficialmente na
Capital desde 10 de abril de 1979.
A Fé Bahá’í é uma religião
mundial independente, fundada na Pérsia (hoje Irã) a 23 de maio de 1.844, com
um contingente de cerca de 70 mil fiéis em 1.300 municípios brasileiros.
Os
bahá’ís creem em um Deus, e Bahá’u’lláh (o fundador desta Fé) é o mais recente
de uma linhagem de Manifestantes Divinos que incluem Krishna, Abraão, Moisés,
Buda, Jesus e Mohammad, inspirados pelo mesmo Deus.
Embora a essência dos
ensinamentos espirituais de todas as religiões seja a mesma, seus ensinamentos
representam estágios progressivos da Revelação da vontade de Deus à humanidade.
Cada manifestante trouxe ensinamentos sociais específicos para a época e lugar
em que apareceu.
Com isso em mente, eles são mundialmente
reconhecidos como promotores do diálogo interreligioso, estando, entre outros,
na concepção do que pode vir a ser o Fórum de Liberdade e Integração Religiosa
do Estado de Goiás. Ao mesmo tempo, a atuação em projetos ligados ao ensino
religioso não confessional, à garantia da laicidade do Estado e da
representação de minorias religiosas em espaços de tomada de decisão também tem
sido uma de suas principais contribuições para a sociedade brasileira.
A título de exemplo, a Comunidade
Bahá’í do Brasil emitiu recentemente uma nota de solidariedade a seus “irmãos e
irmãs de religiões de matriz africana”, perante a decisão de um juiz federal de
não considerar tais religiões como assim o sendo.
A Comunidade Bahá’í disse:
“não podemos nos calar perante um fenômeno dos mais estranhos e mais tristes da
atualidade, que é a irrupção do fanatismo e dogmatismo religiosos que invocam
uma exclusividade de um ou outro grupo no acesso ao que é divino ou
transcendente. E é isto a consequência da referida decisão: os valores
espirituais de amor à humanidade e crença na dimensão espiritual da humanidade
são minados para conduzir a vitórias de um pensamento religioso em particular
em detrimento a outro”.
A Fé Bahá’í ensina a unicidade de
Deus, a unidade das religiões, a inevitável unificação da humanidade e a
harmonia de todos os povos. Os ensinamentos bahá’ís focam ainda na harmonia da
religião e ciência, na investigação independente da verdade, e na educação
universal.
Em pronunciamento recente (14 de
maio), o presidente da comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa,
o deputado Mauro Rubem, menciona que “o tema central dessa fé é que a
humanidade é uma única raça e que o serviço à humanidade e à justiça social e
econômica são dos mais nobres ideais de uma pessoa. Eles (os bahá’ís) acreditam
na igualdade entre mulheres e homens, eliminação de todas as formas de
preconceito e na obediência ao governo”.
Assim, os bahá’ís acreditam que é
chegado o momento da unificação da humanidade numa sociedade global, sob o lema: “A Terra é um só país, e os seres humanos seus cidadãos”.
Com isso em mente, na
década de 1980, os bahá’ís ofereceram à cidade de Goiânia um Monumento à Paz
Mundial, o primeiro do Brasil, concebido por Siron Franco, com terras de quase
duas centenas de países do mundo.
No Brasil e em Goiás
A história da Comunidade Bahá’í
no Brasil teve início em fevereiro de 1921, com a chegada à Cidade da Bahia
(hoje Salvador) de Leonora Holsapple Stirling, uma jovem estadunidense que
dedicou sua vida ao ensino dos princípios de unidade e valorização da
diversidade constantes da Revelação de Bahá’u’lláh.
Semelhante a ela,
Heshmatolláh e Zialmolook Pezeshkzad, acompanhados de seus filhos, vieram do
Irã ao Brasil, no final da década de 1970, desejando trazer esses mesmos ideais
ao Estado de Goiás.
Dona Zia, como é carinhosamente
conhecida por todos, tornou-se conhecida promovendo atividades educacionais e
ensinando a Fé Bahá’í a pessoas de todas as classes sociais. Brasileiros e
estrangeiros ainda hoje são atraídos pela profundidade e beleza dos princípios
da Fé que ela, com seus 90 anos, ensina e reflete em suas ações de serviço à
comunidade local.
Sobre seu esposo, no dia 10 de
junho de 2012, o Diário da Manhã publica uma nota falando “da nobreza
espiritual, o sangue azul do heroísmo lhe corria nas veias”. Dizia a matéria:
“Ajudou em aulas para crianças, conversou com dignatários das mais altas
patentes, serviu em instituições locais, principalmente na Assembleia
Espiritual Local dos Bahá’ís de Goiânia, da qual foi seu primeiro coordenador.
Seu olhar de inocência cativava e cativou a todos até ao último sopro. Cedo
madrugava, pouco falava mas muito fazia. (…) até ao último sopro deu conselhos,
ajudou aos demais e se manteve firme nos mais altos princípios que cedo assumiu
para si”.
Em 17 de setembro de 1984, os
esforços do casal e de toda a Comunidade Bahá’í goiana que se havia organizado
para a constituição do seu primeiro corpo coordenador, a sua Assembleia
Espiritual Local, a 21 de abril de 1979, colheram os seus primeiros frutos.
Em 1984, o prefeito Nion Albernaz
promulgou o período de 15 a 21 de setembro como a Semana Bahá’í de Goiânia,
inscrita no calendário próprio do município.
Como resultado em 1985, a
Comunidade Bahá’í da Capital marcou oficialmente, pela primeira vez, a Semana
Bahá’í de Goiânia, que já vinha acontecendo desde 1982. Em 1986 os bahá’ís
promoveram o Simpósio Nacional da Paz na Era Nuclear e, dois anos depois, o II
Simpósio.
Desde então, a Comunidade Bahá’í de Goiás incentivou a criação de
legislações municipais que originaram o Grupo de Trabalho da Paz e a Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da prefeitura da Capital,
atualmente sob a secretária Ana Rita Marcelo de Castro que elogia a presença
dos bahá’ís como “muito importante para o encaminhamentos dos trabalhos”, já
que demonstram “maturidade, ação e doutrina muito consistente nas discussões
focadas na vivência harmoniosa” numa sociedade que é hoje “conflituosa do ponto
de vista étnico”.
Hoje a Comunidade Bahá’í serve
também na relatoria da concepção do I Plano Municipal de Direitos Humanos e da
criação do Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cultura de Paz.
O assessor
especial do prefeito, José Eduardo Silva, cita o “trabalho extremamente sério e
dedicado da Comunidade para estabelecer a paz na nossa cidade, nosso Estado e
no mundo”, pelos quais a comunidade ganhou vários prêmios municipais e
estaduais.
Ela é também parceira da Superintendência de Direitos Humanos, com a
qual esteve junta em eventos como o Festival Craques da Paz em setembro de
2013.
Semana Bahá’í e Semana da
Paz
Apesar do decreto de 1984 do
prefeito promulgando o período entre 15 e 21 de setembro como Semana Bahá’í, a
comunidade Bahá’í de Goiânia que, segundo seu membro, o advogado Aluísio Gurgel
possui “status de principal articuladora da paz em Goiânia, exercendo grande
influência no rumo das atividades afins”, a prefeitura estabeleceu 15 anos
depois o Dia Municipal da Cultura e da Paz que, em 2010, estabelece-se
definitivamente como 15 de setembro, cerca de uma semana antes do Dia
Internacional da Paz, estabelecido pela ONU. Com isso, a Semana Bahá’í passou
para o período anual de 20 a 26 de maio.
Fonte: http://www.dm.com.br
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