Estado Islâmico usa religião como escudo, mas contexto histórico explica radicalismo do grupo – Por Marta Santos

Grupo surgiu em meio ao vácuo de poder deixado pela invasão norte-americana.

As táticas terroristas e a crueldade desmedida do EI (Estado Islâmico) têm chocado o mundo e levantado questões, como: quais são as raízes de tamanho radicalismo e como o grupo conseguiu ocupar um território tão vasto em tão pouco tempo?

Especialistas entrevistados pelo R7 apontaram fatores históricos e relacionados à religião que ajudam a explicar o que pensam os membros do grupo.

Para a professora de história da Unifesp, Samira Osman, a invasão do Iraque pelos EUA “está extremamente vinculada ao surgimento de grupos extremistas como o Estado Islâmico”.

Até 2003, o Iraque era governado pelo ditador Saddam Hussein. Com “punho de ferro”, ele conseguia conter qualquer atrito religioso ou étnico que houvesse na região.

Após a invasão norte-americana, a deposição e a morte do ditador, “acabou tendo foi um vácuo de poder na região e isso certamente leva ao surgimento desses grupos, que se aproveitam dessa situação para crescer”, explica Samira.

E foi o que aconteceu. Como a Al Qaeda acabou sendo fortemente atingida, alguns membros acabaram saindo e formando outros grupos. Nesse contexto, surgiu o Isis (Estado Islâmico do Iraque e Levante) em 2013, hoje conhecido apenas como EI.

O grupo radical se aproveitou da guerra civil na Síria, que acontece desde 2011, e se misturou aos opositores do governo do presidente Bashar al Assad para interceptar armamentos e se fortalecer.

Se a gente pensar em termos geográficos, essa região onde tinha os governos ditatoriais, que é a família Assad, na Síria, e o Saddam, no Iraque. Se você não tem um, o outro tem que combater esses grupos rebeldes, entre eles, o EI.

“Na Síria, os EUA tomaram medidas erradas. Apoiar os rebeldes foi a pior estratégia”, diz Samira.

O EI não se equipou e treinou de uma hora para a outra, e sim de uma forma silenciosa, ele não surge sem experiência. A professora levanta outra questão: o financiamento do grupo. Segundo ela, o EI “não está crescendo sozinho e, nesse contexto, o papel da Arábia Saudita é fundamental”.

Há um financiamento desse grupo e dos interesses ali na região. Para a Arábia Saudita há um interesse de desestabilizar os governos locais com a intenção de ela mesma se fortalecer.


Desde junho deste ano, o EI intensificou suas ações, tomou diversas cidades e chegou a proclamar um califado, Estado islâmico, em territórios do Iraque e da Síria. “O EI vai reinar pelo terror e pela força, e a população é quem mais vai sofrer”, afirma Samira.




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