Depois de uma vigília comovente em Berlim, é hora de agir – Por Marcel Fürstenau
A necessidade une. Essa sabedoria
milenar vem sendo confirmada de forma impressionante e emocionante em todo o
mundo, nos últimos dias.
No domingo (11/01) circularam pelo mundo as imagens
vindas da França, onde milhões de pessoas homenagearam as vítimas de islamistas
fanáticos.
Em Berlim, alguns milhares de
pessoas reuniram-se na terça-feira diante do Portão de Brandemburgo para uma
vigília convocada pelo Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha e pela
comunidade turca.
Agora não se pode mais acusá-los de não fazer nada contra a
radicalização religiosa ou até mesmo contra o terrorismo. Essa acusação
costumava ser feita na Alemanha.
"Todos nós somos a
Alemanha", disse o presidente do Conselho Central dos Muçulmanos, Aiman
Mazyek. O presidente alemão, Joachim Gauck, repetiu essas palavras.
Seria
difícil encontrar um símbolo retórico mais bonito do que esse. E uma imagem
ficará na memória de todos os que estavam presentes ou dos que acompanharam o
evento pela televisão: muçulmanos, cristãos e judeus dando-se os braços no
final da vigília.
A iniciativa para isso partira do
muçulmano Mayzek. Ele também poderia ter aproveitado a oportunidade para reagir
às palavras de Abraham Lehrers, vice-presidente do Conselho Central dos Judeus
na Alemanha, que criticara o que chamou de "uma crescente
radicalização" do islã.
Mas Mazyek, ainda bem, não caiu
na tentação de reagir. Em vez disso, qualificou os atos terroristas de Paris de
"as maiores blasfêmias", de traição ao islã, cujos princípios foram
manchados. Um representante do alto escalão de uma religião não poderia se
distanciar de maneira mais clara do terrorismo.
A sua declaração de que os
muçulmanos irão "se esforçar e se engajar ainda mais para se tornarem
membros críticos da sociedade" teve um tom quase de súplica. Agora eles
terão que se medir por essas palavras.
Algo semelhante se aplica à
política. É um sinal bom e encorajador que, um dia antes da vigília, a
chanceler federal Angela Merkel tenha feito suas as palavras do ex-presidente
Christian Wulff de que "o islã pertence à Alemanha".
O
democrata-cristão Wulff disse essas palavras em 2010 e recebeu muitas críticas
por isso, principalmente dos setores conservadores da sociedade. Cinco anos
depois, a frase ainda gera controvérsia. Só que o debate soa ainda mais
mesquinho do que antes.
O fato é que na Alemanha, um país
de imigrantes, vivem milhões de muçulmanos. Ninguém discorda que a sociedade
tenha sido influenciada pelo cristianismo ao longo de séculos.
Nem que o
cristianismo influenciou e continua influenciando a sociedade alemã mais do que
qualquer outra religião. Apesar disso, o islã pertence à Alemanha, e o
judaísmo, felizmente, também.
É uma faceta quase trágica do
proclamado espírito de união plurirreligioso que ele seja, na verdade, uma
reação à perversão da própria religião. Infelizmente, os atentados de Paris não
serão os últimos a serem cometidos em nome de algum deus. E isso torna ainda
mais importante colocar em prática, no nosso cotidiano, a solidariedade entre
as religiões que, no momento, pode ser observada mundo afora.
O presidente Gauck encontrou as
palavras certas para isso: a distância entre imigrantes e nativos, e também a
entre imigrantes de origens diferentes, continua sendo raramente superada.
"Diversidade necessita proximidade", essas palavras do chefe de
Estado alemão deveriam tocar todos, e todos deveriam pô-las em prática.
Fonte: http://www.dw.de
Comentários